2005-01-12

 

O MARKETING POLÍTICO (III)

OS CHEFES (Continuação)
Dando continuidade à reflexão sobre os líderes utilizando os comentários certeiros aos textos anteriores.

A fulanização das campanhas e da vida partidária em torno dos chefes, não permite um enriquecimento do debate mas, sobretudo, contribui para a lenta diminuição da qualidade dos chamados “quadros políticos”.
Sabemos pouco das pessoas que vamos eleger nas próximas eleições, ouvimos vagamente as discussões em torno das listas, acaso reconheceremos uma ou outra figura, mas desconhecemos a grande maioria dos candidatos que se apresentam a escrutínio.
Os partidos vão-se tornando imensas repartições públicas em que os seus “quadros” se tornam profissionais da política sem vida fora desse pequeno mundo. Desconhecendo o “país real” (como gostam de dizer, sem saber do que falam), e vivendo das cumplicidade internas que vão tecendo - na promessa de uma mão protectora no futuro – garantia de uma posição elegível nas listas, um lugarzinho num qualquer instituto público, um cargo de direcção, estes “políticos” quererão tudo menos discutir, apresentar e defender ideias. Anseiam pela “progressão na carreira” sem grandes sobressaltos. Para eles, a fulanização em torno do líder revela-se um importante garante da sua sobrevivência. Movendo-se no “status quo”, e fugindo a uma exposição forte, poderão esconder facilmente as suas incapacidades gerindo, com mestria, os seus silêncios. Interessa-lhes o seu pequeno poder, as benesses que lhes trazem conforto suficiente para um ego maior que as modestas capacidades.
Os inimigos estão ali na “fraterna” união dentro do partido. É “lá dentro” que estão aqueles que poderão disputar o “lugar” de que faz profissão.
Os mais afoitos e ambiciosos assumem uma preferência por um “general” constituindo-se como elementos fidelíssimos da sua corte, apostam a sua carreira no risco dessa opção, não podem perder, estarão disponíveis para todos os “combates” para defender e promover o seu candidato, corporizam a sua “elite” de onde sairão os ministros políticos (caso consigam colocar o seu “general” na liderança), ansiando que um dia a aprendizagem lhes proporcione a oportunidade de se tornarem, eles próprios, um “general” em luta pela liderança.
No geral, os outros conservam-se numa prudente observação, sem grandes apegos, que lhes permita o inevitável abraço de apoio, sempre que novo rosto ganha os galões do partido.
No momento da eleição como chefe, lá surgirá a apresentação da promessa, como objectivo maior, de uma “lufada de ar fresco” com novos protagonistas. Melhor do que ninguém os líderes sabem que se trata de mais uma frase promocional sem conteúdo. Sabem, melhor do que ninguém, que não podem destruir a sua base de sustentação.
Haja alguém que pretenda entrar neste mundo, e terá pela frente uma união de espiritos que não descansarão enquanto não expurgarem essa ameaça.
Entretanto, a necessidade de simplificação e o gosto pelos “protagonistas” impele os meios de comunicação social a participar no jogo, dando excessivo protagonismo aos chefes, promovendo-os como rostos de uma qualquer novela.

Observamos, com espanto, a contínua fulanização da política. Mas esta é, afinal, a consequência óbvia destes jogos de poder e da mediatização da política. Inexoravelmente, este caminho encarregar-se-á de manter (e porventura consolidar) o empobrecimento do pessoal político e da política, assim como do progressivo (e perigoso) afastamento da população.
Ao contrário da Roma Imperial, infelizmente, teremos circo, mas não teremos pão.
É isto que necessita ser mudado. Reformar para simplificar o processo de constituição de maiorias não será mais do que pintar, com cores berrantes, um edifício em ruínas.

Comentários:
De facto não posso concordar menos com a sua opinião. A sua que é igual à da esmagadora opinião dos eleitores. Gastam-se fortunas em campnhas eleitorais que só servem a rotatividade democrática e que em nada favorece e resolve os reais problemas do país. Resta saber com tudo isto, qual o slogan de campanha do PP (entregue que está a sua imagem à mesma empresa do 'Eu fico', quando Portas concorreu à autarquia lisboeta). Por outro lado, não sei se uma aposta numa campanha de fundo sobre os programas de governo traria algum interesse junto dos portugueses (na maioria), tão pouco interessadas na leitura que não de jornais desportivos ou revistas cor-de-rosa.
Os profissionais de política são um reflexo da pouca motivação de quem de mérito na nossa sociedade, pois quer se queira quer não, a política é mal paga quando comparada a um cargo público (ou privado) de relevo. Serve contudo para dar notabilidade e de trampolim para mais altos voos. Por isso concordo que os políticos de hoje, ou são de segunda e vivem para a imagem, ou então são de primeira, e vivem da imagem, à espera ser 'contratados' para irem para outros 'campeonatos'. Dixi
 
Aproveite para passar no meu blogue, de momento sem grandes apontamentos políticos dada a minha actividade académica.

URL: dataveniablog.blogspot.com
 
Excelente, caro Luis Sequeira !
Entendo no entanto que tocou muito ao de leve nas já graves responsabilidades da Comunicação Social em todo este processo.Espero mais !
 
Luís, continuamos, plenamente, de acordo. Chego a pensar que 'isto' já só lá vai com uma 'rodada' de voto nulo. Não de abstenção ou voto em branco (pode haver um surto de almas generosas a expressarem-se pelos abstencionistas e pelos 'mudos'), mas irmos às urnas e deixar o nosso protesto num voto nulo, muito bem anulado, seria a forma de os partidos entenderem que não desistimos do nosso direito de voto, desistimos foi de ser 'cúmplices' do vazio que eles nos dão a 'escolher'.
 
Caro Amigo,
Agradeço as palavras generosas que deixou lá no Alma Lusíada. Procuro, de vez em quando, fugir da estrita política, que começa a cansar, tão desmotivadora ela se revela, com gente tão desqualificada. Quando são competentes, não têm carácter ou não são patrióticos e, na maior parte das vezes, nem uma coisa nem outra demonstram ser. Com gente desta à frente dos destinos da Nação dá vontade de chorar. Parece mesmo uma maldição. Quem surgirá deste presente Nevoeiro ?
 
Esse “edifício em ruínas” cada vez é mais difícil esconde-lo com as ditas camadas de tinta. A política parece uma roleta russa em que os principais protagonistas agarrados a fé, esperam que a sorte ainda os brinde. Não há uma liderança forte no espectro político capaz da inversão desta espiral e em democracia isto é perigoso. A titulo pessoal o que continuo a não entender é a passividade de pessoas com valor que se encontram no activo político, as justificações para a sua inércia redundam num nada que não vai para lá da resignação.
Vitor josé
 
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