2005-01-01

 

O MUNDO DO “PEDRO”

Quem tivesse o infortúnio de se encontrar frente ao televisor no final do ano, teria um bom e triste retrato do nosso país.
Ali estava, em todo o seu esplendor, o efémero plástico que tem ganho predominância na nossa sociedade com a projecção de criaturas desconhecidas que à força de “aparecer” são alcandoradas para esse mitico patamar dos “famosos”.
Aparecer na televisão, custe o que custar, eis o objectivo máximo desta gente.
Perguntar-se-á o que justifica a aparição, no pequeno ecrã, deste grupo de almas. Não são conhecidos por obra que tenham produzido, pensamento, estudo, acções, nada. Corporizam, tão-somente, a cultura do facilitismo. Histórias de “sucesso” imediato (e sem muitas canseiras), exibidas e observadas com a euforia própria de quem vê, assim, projectadas as suas próprias ambições.
Num país que devota tamanha atenção a programas como “big brother” ou a “quinta”, que ri com gosto do humor boçal dos “malucos do riso” ou dos “batanetes”, só admira que o fenómeno “Pedro” tenha demorado tanto tempo a alcançar o topo da hierarquia política.
Santana Lopes é fruto deste caldo, vem deste mundo, vive de “aparecer”. Aplica na política a fórmula de sucesso que resulta na criação dos “famosos”.
Vive do momento, do seu instinto, de aparecer. É um fenómeno “comunicacional” vazio de conteúdo.
Não se lhe conhece um pensamento, um projecto, uma linha de rumo, uma visão. Pouco importa.
Santana Lopes sabe que não necessita dessas minudências, basta-lhe apelar à “sua gente”, encenar com gosto uma novela “da vida real”, exercitar as suas capacidades histrionicas, tudo embalado num vago apelo à “defesa dos mais pobres” contra os “poderosos”, uma lágrima furtiva, aqui e ali, próprias de quem é vitima deste “combate” e sente a “injustiça”.
Ainda que não garanta a vitória do “Pedro” nas próximas eleições, muito provavelmente conferir-lhe-á uma votação suficiente para confirmar o “sucesso” da sua fórmula, projectando-o como incontornável presença numa qualquer eleição nacional.
A sua “base de apoio” vive fora da órbita dos partidos políticos, deslumbra-se com as luzes e com o “espectáculo”, acha-lhe graça, simpatiza com ele, vê-o com regularidade na TV trata-o como se fosse da familia, deseja (intimamente) que os seus filhos possam (um dia quem sabe) aparecer na televisão e ser como o nosso “Pedro”.
Não se julgue ver no “Pedro” um epifenómeno, ele foi um percursor e é apenas a face mais visível desta “tabloidização” onde cabem tantas outras figuras. Vários dos seus “clones” disputam já o quinhão ou estão a fazer o seu percurso pelas “jotas”, movidos pela ambição de ser “famoso” e “poderoso” no grande espectáculo em que a política se transformou.

Comentários:
Mais uma vez acertou na "mouche"!!!
 
Mais que o Pedrinho, a coisa que me irrita mais nesta idiota política são os "jotas"...
Todos os "jotas"!
 
Tens razão nesta tua apreciação sobre a política do "reallity show".
Aliás penso que umas das questões fundamentais na discussão Pedro/José na próxima campanha eleitoral, será: Eu apareci na capa da "Lux" mais vezes que tu...
 
este Pedro é uma falha tectónica Portuguesa, das mais grves, pois causa muitos terramotos...
 
Que diabo se estará passando, na nossa sociedade actual, que, com tanta frequência, parece preferir premiar os menos capazes ? Decerto que ao longo da História sempre houve ineptos guindados aos píncaros da fama, mas talvez nunca tantos como hoje. Nunca tantos, por tão pouco, foram merecedores de tantas honras e glórias, ainda que de curta duração ! Com tal tendência, pelo visto, mundial : Bush, Chirac, Schroder, Berlusconi, Zapatero, Barroso, Santana, etc., etc... Não acham coincidência de mais ? Creio bem que teremos de procurar explicação noutro filão...
 
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