2004-11-20

 

O MITO VIVO

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Faz capa na edição desta semana da revista “Sábado”. Lá dentro estão 11 (exactamente onze!) páginas com o sugestivo título: “Vale a pena conhecer-me”. É Paulo Portas num ridículo panegírico disfarçado de entrevista. Com uma hábil combinação de António Ferro, Christine Garnier e Calimero, o homem apresenta-se ao vento do Forte de São Julião da Barra recordando “fui uma criança adolescente como toda a gente” algo que não ocorreria a ninguém referir, não fora considerar-se um mito predestinado, algo, aliás que refere “lembro-me de ter feito um teste no colégio para tentar perceber as minhas vocações e apareceu a política e a advocacia”, repare-se na utilização do verbo “aparecer” a clara evidência de um destino, o Messianismo ganha contornos mais evidentes um pouco depois. Perguntado se tem ambições políticas, responde “um político não pode responder que não a essa pergunta. Eu escolhi o CDS, um partido médio. Donde, o meu objectivo é trazer o CDS para o governo e dar ao País alguns dos nossos valores. Se eu quisesse uma carreira mais fácil, tinha escolhido outro partido” temos, pois, um cavaleiro solitário que sacrificou uma carreira política de projecção invulgar pela defesa abnegada de valores, mas ainda julga ir a tempo, já que responde desta maneira à questão da presidência da República “apesar do respeito que tenho às instituições, toda a vida fui monárquico. Mas em teoria, mais uma vez, não posso dizer que não”, ficamos a saber que o facto de acreditar na monarquia poderá constituir um pequeno entrave, pois não fora esse pequeno pormenor já ocuparia a cadeira de Belém, apesar de tudo, sabe que terá de fazer esse esforço pelo País, pois o País não pode enjeitar a possibilidade de ter um homem com esta envergadura no topo da hierarquia nacional.
A “entrevista” é de uma doçura enternecedora, ficamos a saber que tem um livrinho pronto para publicação (um romance, vejam bem). Há momentos, contudo, mais duros com “perguntas” assaz incómodas, como esta pérola: “veste-se impecavelmente, o relógio a condizer com o botão de punho, tem aqui um livro sobre moda masculina, preocupa-se muito com a aparência?”, não é uma ternura?
As fotos que ilustram as 11 páginas (onze) são escolhidas a dedo. Na última, surge em pose de dança, camisa (a condizer com as calças) aberta quase até ao umbigo, no estílo elegante da feira do relógio.
Na página de abertura da revista o Director da publicação lembra que durante todos os momentos da “entrevista” o assessor do ministro, Pedro Guerra, não arredou pé (lembrar-se-ão de um "artigo de fundo" numa outra revista – Visão – onde exibia orgulhoso na tela do portátil a foto do seu ministro).
Haverá quem ache tudo isto normal, a mim parece-me que o messianismo é uma doença grave!

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