2004-11-30

 

ACABOU O SUPLÍCIO, COMEÇOU O TURBILHÃO

Está terminado este suplício em forma de “Governo” que nos obrigou, como País, a perder 4 meses!
Notas soltas, a merecer leitura mais desenvolvida nas próximas horas aqui no Abnegado:
-Santana Lopes sai com a repetição da história da sua vida política: o fado do desgraçadinho!
-Cavaco Silva, não pode ele próprio negar as palavras do seu artigo de sábado, será candidato a Primeiro-Ministro (José Pacheco Pereira há semanas que avisava);
-Sócrates está a engolir em seco. A sua posição face a tudo isto foi no mínimo lamentável. Percebe-se que não estivesse preparado, mas ao líder da oposição pede-se soluções alternativas, não que assobie para o lado.
-Sampaio vai um dia explicar por que raio nos obrigou a este suplício.
-Quando a poeira assentar, lembrar-nos-emos de pedir explicações ao senhor Barroso.

 

PÔR COBRO AO SUPLÍCIO

Nestes últimos quatro meses fomos todos envolvidos, involuntariamente, num episódio da “twilight zone” com argumento demencial e indescritível. Aparentemente, ainda há cenas dos próximos episódios.
O senhor Presidente da República convocou Santana, conversaram (sabe Deus o que terão dito um ao outro) o senhor Santana saiu disse que voltava na quarta-feira, regressando em força “ao trabalho”.
Se o Presidente pretende (como espero) promover a dissolução do Parlamento era escusada a continuação desta farsa. Se por outro lado, pretende dar mais uma oportunidade ao “Governo” (como receio) faz mal.
As noticias chegam em catadupa. A rocambolesca história do putativo despedimento de Arnaut, por este se ter envolvido em desinteligências públicas com um outro membro do “Governo”, são sinal óbvio de incêndio incontrolável.
A credibilidade de Santana Lopes, que era pouca, ficou reduzida a cacos.
Se o senhor Presidente mantiver este sofrimento, colocará Santana Lopes refém da sua fragilidade perante qualquer interlocutor, e da ameaça de demissão de um qualquer obscuro Secretário de Estado (adjunto que seja).
Como pode alguém nestas condições exercer autoridade?
Como pode alguém continuar a “Governar” criticando o partido que o sustenta?
Como pode alguém alegar estabilidade quando nos últimos 4 meses não fez outra coisa senão promover a instabilidade?
Como pode o senhor Presidente manter alguém nestas condições na condução do “Governo” de Portugal?

 

AINDA A PERGUNTA

Mão amiga fez-me chegar este "boletim":

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Entretanto, em Espanha está já marcada a data para o referendo sobre o Tratado Constitucional da União Europeia, será em 20 de Fevereiro de 2005. Também está definida a pergunta: “Apueba usted el tratado por el que se instituye una Constitución para la Unión Europea?”. É simples.

2004-11-29

 
Um agradecimento pelas palavras gentis do BLOGOPERATÓRIO e do DIZER BEM. Bem Hajam.

2004-11-28

 

O INENARRÁVEL FIM

Santana já compreendeu que o seu “Governo” se está a desintegrar. Na vertigem destas últimas horas tem revelado o que muitos já sabíamos: é fraco verniz que estala muito facilmente. As suas afirmações numa sessão pública esta manhã, num directo ataque aos seus correligionários são próprias de quem perdeu o norte.
Como foi possível que isto tivesse acontecido em Portugal??
São devidas explicações por parte de quem nos levou para este beco sem saída.
Espero, também que saibamos tirar as devidas consequências deste descalabro, para que não corramos o risco de o repetir.
A propósito, as almas que celebraram a chegada de um português à presidência da comissão Europeia, já se aperceberam do preço que todos estamos a pagar pelo projecto pessoal de carreira do senhor Barroso?

 

COMEÇOU A DEBANDADA NO GOVERNO

Henrique Chaves acaba de se demitir. O ministro do desporto abandona o Governo tecendo críticas GRAVÍSSIMAS, cujos contornos iremos conhecer com maior pormenor nos próximos dias. Recordo que se trata de alguém muito próximo de Santana, seu amigo e colaborador há muitos anos.
Em cerca de 4 meses este executivo, conseguiu ter todos contra si. Não por estar a “construir” algo, mas tão só pelo desnorte e incapacidade.
A partir da publicação do artigo de ontem de Cavaco, não é mais possível a Santana desenvolver a cantilena do “inimigo externo” solicitando o cerrar de fileiras do partido contra aqueles que o querem (ao PSD) destruir.
Cavaco colocou as coisas no seu lugar. Não é o PSD que está no Governo, longe disso. Os mais lúcidos já perceberam, há muito, que o principal prejudicado com este “Governo” é o País, e o próprio partido social-democrata cuja imagem está a ser destruída todos os dias.
Santana aproveitou uma lamentável brecha do nosso sistema democrático e construiu o mais triste, incompetente e perigoso projecto de poder, de braço dado com o PP de Portas. Está a cair de podre!
A questão é já a de saber quantos dias (semanas) continuará esta gangrena, o País não está em condições de aguentar.
Entretanto, lá em Bruxelas, o senhor Durão Barroso deve estar muito orgulhoso do que fez!!

 

ASSIM SE VÊ A FORÇA DO PC??!

Houve alguém surpreendido com os resultados do Congresso do PCP? Não creio.
Mesmo os poucos momentos de discordância protagonizados por Lopes Guerreiro ou Fernando Vicente tiveram o desfecho que os próprios, certamente, esperavam: apupos e ausência de comentários.
O PCP não mudou, o “centralismo democrático”, (estranho eufemismo para a ditadura do comité central), a “ditadura do proletariado”, o “marxismo-leninismo” está lá tudo, imutável, como se o Mundo não tivesse sofrido alterações.
Este PCP não mudou, não muda, é como sempre foi. Os chamados “reformistas” tentaram o impossível, e foram saindo. Confesso que ainda me surpreende que existam “contestatários”, será que ainda não compreenderam a “essência” do seu partido?
Dali não vem nada de novo, nada de especialmente relevante. Tem uma história, (importante, sem dúvida), mas é tudo.

2004-11-27

 

O APELO DE CAVACO (II)

Aníbal Cavaco Silva tem registado uma inusitada frequência de intervenções públicas. Evitando a leitura de jogos políticos menores, parece-me que as últimas têm sido motivadas por uma inquietação sincera, de resto, enunciada no artigo que publicou hoje no Expresso.
Estamos perante uma clara degenerescência da qualidade dos nossos líderes políticos, este processo, se não for invertido, implicará um progressivo afastamento da população e a maior fragilização do Poder público às influências dos interesses. Uma descredibilização perversa e incontornável criando um hiato que poderá vir a ser ocupado por outras formas menos claras de domínio do poder público.
Tem razão Cavaco quando convoca as elites profissionais e culturais para a arena. Não é mais possível observar tudo isto com a distância pedante de um Nero olhando o incêndio de Roma. Este incêndio diz-nos respeito, é a nossa sociedade que está a ser consumida em lume brando. Quem acredita na Meritocracia não pode assistir a esta desgraça com desdém. Como já aqui referi num “post” anterior, temos o direito (e o dever) de exigir o Governo dos nossos melhores, venham eles!

 

O APELO DE CAVACO (I)


Na mesma edição do jornal Expresso em que Cavaco Silva promove um lúcido apelo à inteligência nacional, surge um dos mais tristes exemplos daquilo a que chegou a nossa pequena política. Perante a leitura da entrevista de Luís Filipe Menezes o sentimento mais cristão que me ocorreu foi de pena. Numa perspectiva meramente pessoal senti pena do homem que expõe desta forma tão lamentável a sua absurda falta de noção da realidade. Num patético e desesperado apelo pede que o integrem na família social-democrata (nas suas palavras que “reconheçam o seu peso político” e, claro, que não esqueçam um lugarzinho na junta Metropolitana) para assim poder reconsiderar uma recandidatura à Câmara de Gaia. Uma página inteira no jornal Expresso com recados pequeninos e a dolorosa exposição de uma personagem desconfortável na sua pele e zangado com o mundo. No final uma torpe ameaça “quem mas fez, paga-mas. E paga com uma factura a triplicar”.
Esta doentia entrevista tem chamada de primeira página mesmo ao lado do “grito de alarme” de Cavaco.

 

PRIMUS INTER PARES

A morte de Fernando Valle, aos 104 anos, traz-nos subitamente os últimos ecos de uma geração com uma densidade humana invulgar.
Homens da primeira república, apanhados pelas trevas do Estado Novo, condenados pelo delito de opinião, testemunhos de um tempo menor da rasteira subserviência, do medo, do olhar sem brilho, da pequenez, da tristeza.
Homens com as fraquezas de qualquer um de nós, tiveram contudo, a grandeza das suas convicções. Perseguidos pelas suas ideias, souberam resistir à tentação de as renegar, mantendo-se firmes na sua defesa, mesmo se para tal tenham pago o preço de dificuldades económicas extremas. Partilhavam um ideal e uma moral republicanas, fundadas nos princípios da tolerância, da igualdade de direitos perante a lei e de oportunidades independentemente do credo, raça ou ideologia. Com o seu exemplo deram uma forma, um rosto, uma expressão à moral republicana.
O seu exemplo deve ser conhecido, demonstrando como podemos ser maiores do que a tonta exibição de banalidades e da ausência de pensamentos e convicções mais estruturados do que o motus vivendi materializado em “ganhar a vidinha”.
Seja pela exigência de um tempo outro, seja pelas alterações entretanto ocorridas, a verdade é que temos hoje um desesperante culto da boçalidade, do efémero, da fútil adoração da imagem como fim supremo de uma existência vazia.
O campo político, faz evidentemente eco deste “buraco negro”. A irritante propagação das “agências de comunicação” espécie de magos dos tempos modernos, com as suas “regras” infalíveis vão plastificando os agentes políticos, as mesmas receitas que são aconselhadas a todos sem excepção, criando uma uniformização de discursos, de poses, de indumentária. O candidato é “produzido” em forma estandardizada, enquadrada por sorrisos mais próximos do esgar do que da manifestação natural de simpatia ou afecto. O discurso oco, traduz a fuga desesperada a rupturas, promovendo o “consenso” forma rebuscada de dizer nada. Diz-se o que a audiência quer ouvir, não importa se hoje algo, amanhã o seu contrário. Alimentados pela comunicação social, são torturados pela sua ditadura. Devem-lhe a sua “projecção”, não compreendem quando a perdem, revoltam-se, o Mundo está contra si, um “complot”, uma perseguição. O plástico, sempre ele a reluzir sem graça nem glória.
Chegará o dia, em que o político assumirá sem complexos e com honra as suas convicções. Chegará o dia em que o político assumirá as forças e fraquezas da sua condição de Homem. Chegará o dia em que o político saberá apontar caminhos para ultrapassar as dificuldades com base no esforço, no trabalho, no empenho. Chegará o dia em que teremos os nossos melhores na condução do País.

2004-11-26

 

A FORÇA DO HÁBITO

RECLAMAR PARA MELHORAR
O que poderá levar o dono de um restaurante a brindar os seus estimados clientes com um ensurdecedor concerto de talheres em plena hora do almoço? A resposta surge pela boca do próprio: a força do hábito, forma de expressão muitas vezes embrulhada na afirmação clássica “sempre fiz assim”. Atendendo à provecta idade do “artista” (especialista no lançamento ruidoso de garfos, facas e talheres) só podemos concluir que a sua clientela há anos que é brindada com o metálico som, capaz de fazer ranger os dentes ao mais duro de ouvido. Seguramente, conseguiu fazer uma carreira tão longa porque ninguém lhe terá alguma vez dito que não gostava de ser incomodado daquela maneira, ou seja, ninguém reclamou.
É, muito típico da nossa forma de agir, entender a reclamação como uma descortesia ou mesmo uma agressão, sofremos como consumidores em silêncio.
A reclamação deveria ser instituída como uma obrigação cívica. Como o contributo de cada um de nós, enquanto consumidores, para tentar melhorar os produtos, práticas e serviços das empresas portuguesas (grandes, pequenas e muito pequenas).
Digo-o como autocrítica, pois nesse restaurante foi um amigo meu, não eu, quem garantiu o sossego de todos os comensais, mas prometo que vou começar a contribuir!

2004-11-25

 

A WALMARTIZAÇÃO

A Wal-Mart é uma companhia norte-americana de supermercados presente em 12 países. É também a maior empresa do mundo. A sua facturação é superior ao Produto Nacional Bruto de vários países (só na Europa é maior do que o PNB da Dinamarca, Grécia, Finlândia e Portugal, por exemplo). A Wal-Mart continua a crescer, prevendo-se que as suas actividades internacionais sejam responsáveis por um substancial acréscimo do seu volume de vendas, já de si impressionante.
Uma edição recente do Wall Street Journal (18 novembro, p. M4) dava conta da sua influência na Economia do globo. Indicava, por exemplo, que a Wal-Mart representa cerca de 10% do total das exportações da China, sendo o 8º maior parceiro comercial daquele país, à frente da Rússia e da Inglaterra. Como a WM se limita a comprar, contribui, sozinha, para agravar o deficit comercial nas relações entre os Estados Unidos e a China.
Temos assim uma organização com um peso muito superior a diversos países importantes, com capacidade para influenciar a Economia Mundial, detentora de um poder imenso, sem qualquer escrutínio público.
É assustador.
Para quem, como eu, acredita na Economia de Mercado, estes fenómenos encerram em si a destruição a prazo daquilo que mais prezamos: a liberdade de escolha. Não sendo entidades de beneficência, utilizarão todo o seu poder em proveito próprio limitando a concorrência.
O surgimento e consequente crescimento destas empresas dir-se-á inevitável. Haverá quem diga que o Mercado terá mecanismos para corrigir quaisquer anomalias. O problema é que estamos a defrontar uma nova realidade de mega-empresas.A verdade é que a política mundial não tem sabido acompanhar estes fenómenos. Entidades como a OMC não têm dimensão, nem poder para criar um sistema de pesos e contrapesos. Sem entidades públicas de dimensão mundial, com poder suficiente para controlar estas mega-empresas, receio que estas ocupem, lentamente, o espaço do domínio do público e da política, o que é uma tentação perigosa.

2004-11-24

 

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE A PERGUNTA

Conhecemos a pergunta (trigunta como inspiradamente a baptizou Paulo Gorjão), sabemos a sua tonteria, não sabíamos que se tratava de uma filha enjeitada.
Em mais um episódio degradante da nossa vida política, o ministro dos assuntos parlamentares, veio hoje ao parlamento com dúvidas sobre a questão. O senhor Gomes da Silva, disse aos jornalistas: “se acontecer alguma coisa à pergunta a culpa não pode morrer solteira”, descontando a pobreza da frase e tentando traduzi-la (o ministro estará com receio que a pergunta adoeça ou seja raptada?), parece que este Governo gostaria de inquirir os portugueses (e as portuguesas) de uma outra maneira. Não teria sido melhor pensar um pouco antes desta trapalhada? Não valeria a pena dedicar um espaço (pequeno que fosse) ao bom senso?
Já agora, os senhores deputados que participaram no parto desta linda pergunta e a votaram favoravelmente, estão orgulhosos? Porquê?

 

O CENTRO DO MUNDO

Santana Lopes deu ontem uma entrevista à RTP 1 (mais uma). Como é hábito perdeu-se em desculpas, explicações e falou de si. Teve ainda tempo para contabilizar as reuniões com os grandes do Mundo (em que naturalmente se inclui). O centro do Mundo está, e vive, em São Bento.

2004-11-23

 

TRISTE BARROT

José Barroso tem de ir à bruxa. Não lhe faltava mais nada senão este extraordinário exemplar da “Chico-espertice” gaulesa à moda de Chirac.
Alguma imprensa francesa, afecta à direita, tem encontrado no argumento de que o senhor Barrot não enriqueceu com a operação de financiamento ilegal do partido em que esteve envolvido, ou ainda que formalmente o seu cadastro está limpo, algumas das razões para se insurgir contra as criticas ao seu compatriota.
A questão, a meu ver, prende-se com valores e cultura democrática.
Graham Watson, líder dos liberais no Parlamento Europeu (bancada a que pertence Jacques Barrot) foi lapidar ao referir, muito simplesmente, que persistem diferenças culturais profundas entre os Estados membros da UE, se em alguns países a conduta de Jacques Barrot não é censurada sendo-lhe, inclusivamente, permitido chegar a Presidente, noutras a sua carreira política teria terminado. É exactamente isto.

 

WASHINGTON QUER REFORMAS ECONÓMICAS NA EUROPA

Poderia ser uma notícia do “Inimigo Público”, mas foi o título escolhido para um artigo de opinião assinado por Bowman Cutter, Paula Stern e Peter Rashish, publicado na edição de 22 Novembro do “Financial Times”.
Começando por uma lúcida análise sobre as pressões colocadas pelos desafios económicos, o envelhecimento populacional e suas consequências ao nível dos cuidados de saúde, desemprego e esquemas de pensões, depressa deixam perceber ao que vêm.
Ante tão desanimador quadro, os autores sublinham as diferenças existentes nos dois lados do Atlântico, pois nos Estados Unidos, há uma expressão desconhecida (e bem, no seu entender): Estado Providência.
Sem o referirem expressamente, lá vão deixando a aterradora ameaça de que a administração do senhor Bush está a avaliar a Europa, e no limite poderá optar por estabelecer relações mais próximas com a China e Índia (e quem sabe, mesmo com o Brasil e África do Sul) se não forem alteradas essas extravagâncias europeias a que chamam (a simples menção do nome deve queimar-lhes os lábios) Estado Providência. Os Estados Unidos, estarão pois, a aguardar as reformas que consideram urgentes na Europa.
Pois muito bem, lá na Casa Branca a equipa de Bush terá estudado o sistema de protecção social na velha Europa e ter-lhe-á parecido mal. Só lhes fica bem estudar outras realidades, é enriquecedor e, certamente esclarecedor. Agora, já me parece pouco aceitável, que nos chegue o “perfume” dos Neoclássicos nas páginas cor de rosa do FT com cheiro a chantagem. Talvez fosse mais interessante para os articulistas começar por analisar como pode uma sociedade enfrentar os desafios que tão bem identificaram sem uma protecção social moderna. Parecer-lhe-á que o novel darwinismo social constitui sinal dos novos tempos e exemplo a seguir?
É, talvez, aconselhável indicar aos senhores que ficar tanto tempo à espera em pé pode criar varizes...

2004-11-22

 

NOTAS SOLTAS

1- A “remodelação” do Governo é uma nota de rodapé, não pela importância dos postos remodelados, mas pelo peso dos nomeados. Aos portugueses, este Governo é cada vez mais irrelevante. Assistimos, diariamente, à diminuição do nível de exigência o que é preocupante. O “síndroma da rã” vai fazendo o seu percurso: vamo-nos habituando à mediocridade e adaptamo-nos à nova realidade como se esta fosse normal. Não pode, não deve ser assim!
2- Trazer regionalismos abjectos para a política é um dos exercícios mais demagógicos e vazios de conteúdo dos muitos que conhecemos da “pequena política”. Acerca da recente “remodelação”, algumas almas não se cansam de sublinhar o facto dos novos elementos do governo serem oriundos do Norte. Ocorre perguntar: “e então?”. Em que medida é que o Norte verá a sua situação alterada com a chegada destes distintos cidadãos (com um invejável curriculum) ao Governo?
3- O Governador de Nova Gales, na Austrália, decidiu oferecer uma “borla” nos serviços de combóio, a razão é apontada pelo próprio Governador: os serviços são tão execráveis que não merecem ser cobrados. Imagine-se se alguém em Portugal decidisse fazer o mesmo!

2004-11-20

 

O MITO VIVO

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Faz capa na edição desta semana da revista “Sábado”. Lá dentro estão 11 (exactamente onze!) páginas com o sugestivo título: “Vale a pena conhecer-me”. É Paulo Portas num ridículo panegírico disfarçado de entrevista. Com uma hábil combinação de António Ferro, Christine Garnier e Calimero, o homem apresenta-se ao vento do Forte de São Julião da Barra recordando “fui uma criança adolescente como toda a gente” algo que não ocorreria a ninguém referir, não fora considerar-se um mito predestinado, algo, aliás que refere “lembro-me de ter feito um teste no colégio para tentar perceber as minhas vocações e apareceu a política e a advocacia”, repare-se na utilização do verbo “aparecer” a clara evidência de um destino, o Messianismo ganha contornos mais evidentes um pouco depois. Perguntado se tem ambições políticas, responde “um político não pode responder que não a essa pergunta. Eu escolhi o CDS, um partido médio. Donde, o meu objectivo é trazer o CDS para o governo e dar ao País alguns dos nossos valores. Se eu quisesse uma carreira mais fácil, tinha escolhido outro partido” temos, pois, um cavaleiro solitário que sacrificou uma carreira política de projecção invulgar pela defesa abnegada de valores, mas ainda julga ir a tempo, já que responde desta maneira à questão da presidência da República “apesar do respeito que tenho às instituições, toda a vida fui monárquico. Mas em teoria, mais uma vez, não posso dizer que não”, ficamos a saber que o facto de acreditar na monarquia poderá constituir um pequeno entrave, pois não fora esse pequeno pormenor já ocuparia a cadeira de Belém, apesar de tudo, sabe que terá de fazer esse esforço pelo País, pois o País não pode enjeitar a possibilidade de ter um homem com esta envergadura no topo da hierarquia nacional.
A “entrevista” é de uma doçura enternecedora, ficamos a saber que tem um livrinho pronto para publicação (um romance, vejam bem). Há momentos, contudo, mais duros com “perguntas” assaz incómodas, como esta pérola: “veste-se impecavelmente, o relógio a condizer com o botão de punho, tem aqui um livro sobre moda masculina, preocupa-se muito com a aparência?”, não é uma ternura?
As fotos que ilustram as 11 páginas (onze) são escolhidas a dedo. Na última, surge em pose de dança, camisa (a condizer com as calças) aberta quase até ao umbigo, no estílo elegante da feira do relógio.
Na página de abertura da revista o Director da publicação lembra que durante todos os momentos da “entrevista” o assessor do ministro, Pedro Guerra, não arredou pé (lembrar-se-ão de um "artigo de fundo" numa outra revista – Visão – onde exibia orgulhoso na tela do portátil a foto do seu ministro).
Haverá quem ache tudo isto normal, a mim parece-me que o messianismo é uma doença grave!

2004-11-19

 

AS PALAVRAS DE MÁRIO SOARES

O ex-Presidente da República Mário Soares veio ao Porto para proferir uma intervenção no quadro das comemorações do 25 de Abril.
Foram várias as ideias e alguns alertas que deixou. De tudo o que disse, parece ter sobrado apenas uma frase menos feliz quando mencionou que Portugal deve a ausência de um golpe de Estado militar à sua adesão à União Europeia. A comunicação social já começou a fazer eco destas afirmações e admito que serão glosadas nos próximos dias. Limito-me a dizer que discordo, e que as acho pouco sensatas.
Posto isto, parece-me francamente mais importante dar relevo a outros avisos que Mário Soares deixou, nomeadamente, aquele que diz respeito à corrupção. Foi claro quando identificou a sombra devastadora da corrupção nos partidos, no dia-a-dia, um pouco por todo o lado. Lucidamente identificou uma arma forte no seu combate: uma sociedade forte moralmente que considere inaceitável a corrupção – toda ela – e que a saiba combater. Aqui está um alerta vigoroso e conciso. Sabemos do vendaval que a corrupção gerou noutras paragens, sabemos a sua insidiosa intromissão em todas as áreas, sabemos dos custos financeiros e morais que acarreta, sabemos também que, mais cedo ou mais tarde, esta doença purulenta tornará inviável uma sociedade democrática e moderna.
O aviso de Mário Soares poderia constituir um princípio de debate sobre a maior doença do regime, mas receio que será totalmente ignorado, dando-se relevo a epifenómenos. Uma vez mais, concentrar-nos-emos no acessório e esqueceremos o essencial.

 

AFOGAR A CONCORRÊNCIA

Conta-nos o Jornal de Negócios de quinta-feira que o novo CEO da Siemens quer “afogar” a sua principal concorrência. Exercitando o famoso e hilariante humor alemão disse “como derrubar o seu maior concorrente no sector dos telemóveis? Que tal afogando-o?” não contente com esta tonteria imbecil, ensaia um número de artista de circo, pegando no telefone portátil Nokia do jornalista italiano colocando-o num copo de água. Conta o jornal que a criatura terá soltado uma sonora gargalhada ante o espanto que causou. Chama-se Klaus Kleinfeld. Os homens da Nokia devem estar radiantes nadando, calmamente, na piscina aquecida da empresa finlandesa.

 

AMADA RÁDIO

A rádio, a amada rádio, está visivelmente orgulhosa. Há mesmo quem veja em tamanha felicidade a expressão maior de um amor infinito a um filho dilecto. Ali mesmo, na TSF, Fernando Alves assina, pelo fresco da manhã, os “Sinais”, matéria de que são feitos alguns dos momentos que enobrecem a telefonia.
Levando-nos pela mão, quase que embriagados pela voz que dá vida a textos de poesia disfarçada de prosa, Fernando Alves faz-nos espreitar uma viagem de comboio, sublinha a estreia da máquina voadora da NASA, fala-nos de um livro, deixa uma observação, um sinal.
Fui buscar ao baú da memória um dos mais emocionantes minutos de rádio, os “Sinais” que editou na segunda-feira após a trágica morte de um jogador de futebol do Benfica. Vale a pena ouvir.

2004-11-18

 

UMA SOCIEDADE MAIS POBRE

Foi recentemente publicado um livro muito interessante de Joaquim Veiguinha (O Luxo na Formação do Capitalismo) que merece uma leitura atenta.
No segundo capítulo o autor centra-se na reacção da alta nobreza francesa ao crescente enriquecimento da burguesia no período anterior a 1789 que “ameaçava minar as tradicionais distinções de nascimento” na opinião do duque de Saint-Simon. O mesmo que escreveu nas suas memórias (1739-1749) a propósito da difusão do luxo “é um cancro que alimentado pela confusão das condições sociais, pelo orgulho e pelas próprias conveniências, que pela maioria está sempre a aumentar, e as consequências de tudo isto são infinitas e conduzem indubitavelmente à ruína e a transformações gerais”. A alteração do rígido sistema que Saint-Simon entendia como perfeito (para ele e seus pares) seria uma obra do Demo. Pouco importa o que motivou estas palavras, se o luxo ou outra manifestação. Há aqui a base do conservadorismo de direita: a rigidez social. A crença na definição rigorosa de Classe / Casta emanada de Deus e como tal imutável. Nem o facto de hoje encontrarmos este pensamento disfarçado de palavras mais doces altera o essencial.
Encontramos a sua expressão, por exemplo, aquando da eleição de Cavaco Silva. Goste-se, ou não do antigo Primeiro-ministro, o certo é que este trouxe para a primeira linha da política nacional de então indivíduos de origens mais humildes. Foi um choque para aqueles que se julgavam (julgam) predestinados para os mais altos cargos, “próceros de nascença”. O jornal “O Independente” surge com o inegável objectivo de ridicularizar os novos governantes “sem berço”. Desde a campanha contra a”peúga branca” até a citação do famoso telefonema de Dias Loureiro “pai, já sou ministro”, passando pela torpe perseguição a Macário Correia, valeu de tudo na tentativa de mostrar que a ausência de “berço” era inaceitável. Para a direita de hoje, a campanha é a mesma, mas a subtileza é maior. A ironia é que procura atingir estes objectivos com uma cortina da “protecção aos mais desfavorecidos”. Na tentativa de ultrapassar a esquerda utilizam-se as suas “bandeiras” para disfarçar o seu verdadeiro objectivo: defender os interesses, os privilégios, a rigidez social. Essencialmente a defesa de uma sociedade mais pobre!

2004-11-16

 

O AMUO DE PORTAS

O senhor Paulo Portas amuou. Está no seu direito.
No seu mundo de fantasia povoado de “sound-bytes” julgou possivel que o partido da coligação ganhasse uma estima instantânea pelo exmo. senhor ministro da defesa (e do mar) e aguardou que o senhor primeiro ministro o relatasse ao mundo. Esperou, evidentemente, sentado.
O que se passou a seguir é já conhecido, foi contado pela SIC e por outros orgãos de comunicação social.
O que é extraordinário é termos o senhor Portas a garantir, na SIC Noticias, que nada do que foi relatado acerca do encontro entre ele próprio e o senhor Gomes de Silva é verdade. Reconhece apenas que se terão encontrado “por coincidência” na casa de um amigo comum na noite de sábado. É assim que esta rapaziada vive, tomando todos os outros por tontos acéfalos a quem uma estupidificante argumentação será o bastante para “negar não negando” dando-lhes a noção de que dominam a arte da política. É, alias, este mesmo hábito que o leva a frases tão lamentáveis como “o orçamento é bom, é bom é, diz o avô e diz o bébé”, ou “quem tem medo compra um cão”, vincadas sempre com um sorriso de auto-satisfação e do aceno deslumbrado dos assessores amestrados. Gostava de dizer a estes senhores que é, justamente, esta ficção que dá mau nome à política e torna insuportaveis estas brincadeiras de meninos deslumbrados com o Poder.
Transformaram o Governo de Portugal num jogo de sombras e de fumo na tradição de “O Independente”.
Custa-me muito ver o meu país “governado” por esta gente!

2004-11-15

 

MEL COM FEL

Quando perdeu as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, João Soares, referindo-se a Santana Lopes terá desabafado: “parece que tem mel”. Há quem veja, de facto, em PSL uma personagem divertida. Com bondade poderemos identificar em Santana alguma capacidade histriónica, um certo à-vontade no improviso, e gosto pelo palco. É, indiscutivelmente, um bom “entertainer” com uma “queda” invulgar para abrilhantar congressos.
Acontece que este senhor é Primeiro Ministro de Portugal, e não é suposto que o lugar seja ocupado por um “entertainer”. As intervenções públicas de Santana têm o peso do cargo que ocupa, mesmo se proferidas no calor de um congresso com palmadinhas nas costas. Revejo cada vez mais no Primeiro Ministro o Santana da “Cadeira do Poder” utilizando os seus dotes para entretenimento televisivo.
O facto de proferir com tanta convicção frases tão extraordinárias como decretar, ao vivo e em directo, o final das dificuldades e o inicio do “eldorado” económico só prova que não faz a mais pequena ideia do que diz e do impacto das suas palavras, o que é preocupante.
Este mel tem muito fel!

 

UMA REAL PATETICE

Ontem, num zapping vadio, escorreguei num concurso do canal 1: “1,2,3” (esse mesmo, o da bota botilde). O que me fez dedicar alguns minutos a tão improvável espectáculo foi a presença de uma cara conhecida: o senhor Duarte (desculparão utilizar a versão plebeia do nome, mas francamente não acredito no dom). Num primeiro momento pensei que se tratasse de uma esforçada tentativa de aumentar o pecúlio da causa, participando no programa e - quem sabe – levar para casa um carrito, ou uma varinha mágica. Mas não. O senhor estava lá para dar uma entrevista (?!) à senhora Teresa Guilherme. Está visto que a conversa foi extraordinária de actualidade e inteligência. No final o convidado foi brindado com uma desconfortável “brincadeira” preparada por um imitador com graçolas próprias de uma qualquer tasca de subúrbio. Ante tão confrangedor quadro ocorreram-me duas perguntas: o que terá levado a produção do programa a convidar o senhor? O que o terá levado a aceitar o convite?

2004-11-14

 

O HOMEM COMO ANIMAL IRRACIONAL

Os relatos que chegam da Costa do Marfim são aterradores.
Uma vez mais assistimos ao processo, infelizmente tão comum, de bestialização do Homem. Mais do que procurar a sua origem (justificação não pode existir, com certeza), sou confrontado com a impotência de quem assiste, estupefacto, à facilidade com que se despertam estes demónios no ser humano. Em Darfur, aqui na Europa na Bósnia, um pouco por todo o planeta irrompeu, irrompe (e infelizmente irromperá) da forma mais abjecta e deplorável o lado sombrio da nossa espécie. Convocados pelos fundamentalismos que rimam com barbárie, estes homens deixam-se levar por uma louca vertigem de violência.
Que mistérios estarão escondidos no mais fundo do Ser para que sejam acesos e despertos desta forma inaudita?
Aqueles que teimam em rotular estes comportamentos selvagens como políticos ou religiosos, não fazem mais do que desculpar o indesculpável. Assistimos ao comportamento do Homem como animal irracional manipulado por mentes ainda mais doentias. A causa é tão só um mero pretexto.

2004-11-13

 

LARANJA MECÂNICA COM GALO DE BARCELOS

Aí está a festa em Barcelos. Não vou perder muito tempo com o Congresso do "PPD-PSD" (esta duplicação é cada vez mais irritante), dado que se trata de uma festividade organizada por um grupo de amigalhaços. Em todo o caso, é abrilhantada pelo Primeiro-Ministro, merece apenas algumas notas:
-Este Congresso não faz qualquer sentido, é apenas uma ocasião para uns quantos cantarem hossanas ao líder;
-O líder sabendo que está refém das Presidenciais, tira da cartola um trunfo, recordando os tempos de comentador desportivo, ocorreu-lhe que a melhor defesa é o ataque, e vai de lançar um desafio público a Cavaco Silva. Arrisca-se a falar sózinho, que Cavaco anda nisto há mais tempo e tem outra substância. O PM colocou-se no tabuleiro de Cavaco, suspenso da sua reacção. Esperemos que não caia!
-O partido está hoje dividido entre Santanistas e os outros, sendo que nesta categoria estão sobretudo os Cavaquistas.
-Rui Gomes da Silva (é verdade ainda mexe) disse hoje à TSF que "o PPD-PSD" precisa de ser mais santanista. Palavras para quê? É um artista português!
Sobre o "Congresso" vale a pena lêr Vasco Pulido Valente hoje no Público e Vital Moreira no blog Causa Nossa: Patrocínio pouco recomendável

 

UMA VÉNIA À ESCRITA


António Lobo Antunes comemora 25 anos de escrita que merecem homenagem.
Actualmente, o autor reconhece que está mais calmo e tolerante com jornalistas menos esclarecidos, nas suas muitas entrevistas. Admito que seja difícil. Recordo uma entrevista publicada há alguns anos pelo "Público", não retive o nome da entrevistadora, apenas lembro que tentou ser engraçadinha (talvez uma dessas meninas cujo alcance literário se esgota nos rótulos das garrafas) enfim, a menina quis fazer uma graça, arrancando a sessão com uma pergunta solta e muito fresca (cito de memória) "diria que o Lobo Antunes é o Herman José da literatura, não lhe parece?". Está bom de vêr que a resposta, assim como toda a entrevista, foi de arrasar, tornando-se a dado passo um "diálogo" sem nexo, em que a "menina" se perdeu numa aventura bem mais complexa do que esperava.
Se recordo este episódio é por que, em certo sentido, acabou por ser um exemplo (ainda que involuntário) de "non sense" com alguns momentos hilariantes.
Aliás, tenho encontrado nos livros de Lobo Antunes alguns exemplos do mais sofisticado humor escrito em lingua portuguesa. Não resisto a deixar aqui, com a devida vénia, apenas dois pequenos exemplos retirados daquele que considero, ainda, um dos seus mais brilhantes romances: Fado Alexandrino.
"O incomparável equilibrista sueco Charles pinchou aos saltinhos no escuro, apertado num baby-grow amarelo, reluzente de lantejoulas e vidrilhos. Era baixo, moreno, de patilhas, tipicamente nórdico de Marvila, e quando a certa altura se enganou escapou-se-lhe da ramagem preta do bigode um impetuoso Foda-se de viking. A bela Janete, minúscula e rabuda, de longos cabelos pontuados de palhetas a encarapinharem-se em desordem nas espáduas, rodopiava em torno do artista o qual se multiplicava em pinos lamentáveis, sublinhados pela orquestra de compassos trágicos de tragédia".
(...) "À Mademe Simone seguiu-se o genial ilusionista búlgaro Mikael Mikaelov, que despejava jarros de leite em cones de papel de jornal que se transformavam na bandeira portuguesa e solicitava a colaboração do público com o sotaque do Porto típico dos Eslavos, as irmãs Smith, da Califórnia, numa gentil cedência do casino de Nova Iorque, em exercícios de forças combinadas (uma delas, de resto, era a lindíssima janete, a acompanhante do equilibrista sueco de há pouco) desfazendo-se em cambalhotas e mortais, Marina Madragoa, a mais recente descoberta do fado, acompanhada do seu conjunto privativo (o torcionário do piano e a lombriga do saxofone, que mudaram de casaco para a circunstãncia) e após alguns minutos de nula expectativa e absoluto alheamento (preparai-vos, damas e cavalheiros, para o número sem par que se vos reserva), a campeã do strip-tease Melissa, inveja das mais célebres estrelas do cinema italiano, e singularmente parecida com a deusa do Fado, com a diferença de se manter em silêncio ao passo que a cantora, descomposta pela inspiração lírica, urrava pelo gregório ao microfone, como as sereias dos bombeiros num terramoto de nádegas."

2004-11-12

 

VALE A PENA LER

A crónica de Pacheco Pereira no Público de ontem.
As opiniões de Vítor Constâncio sobre o orçamento de Estado no Jornal de Negócios.

 

A QUALIDADE E OS MEIOS DE COMUNICAÇÂO SOCIAL (2)

Em entrevista publicada na edição de hoje da revista "Sábado" o homem forte da Endemol em Portugal deixa duas ideias: não sabe qual o futuro da televisão (o que é sensato); acha que há poucos "reality shows" em Portugal (o que é tonto e prova que não tem visto os "noticiários" da TVI)!

 

A QUALIDADE E OS MEIOS DE COMUNICAÇÂO SOCIAL

Entrevistado no Clube de Jornalistas no canal 2, Miguel Sousa Tavares referiu que hoje não haveria público para um programa como o "terça à noite", sublinhando que as televisões não fazem mais do que oferecer ao público aquilo que ele pretende. Sei que esta discussão é um terreno pantanoso recheado de ideias feitas. Contudo, recordo, com saudade, esse mesmo programa que MST apresentava com António Barreto e Pacheco Pereira, há cerca de 10 anos. Nessa altura, um canal de televisão - SIC - tentava impôr-se e ganhar audiências entendendo que o programa em questão poderia ser um trunfo nessa luta.
Francamente não acredito no súbito "embrutecimento" do público, parece-me, antes, que se optou pelo caminho mais fácil.
Os chamados programas de "telelixo" não fazem mais do que apelar à vertigem do grotesco e do voyeurismo. Trata-se, a meu ver, da convocação dos instintos primários, os mesmos, aliás, que levam a turba em correrias loucas para poder chegar rapidamente ao acidente, não movidos por um qualquer impulso de ajuda, mas somente pelo desejo mórbido de assistir à catástrofe ao vivo. Talvez pelo mesquinho sentido de segurança de que "aconteceu aos outros, não a mim".
A "tabloidização" dos telejornais e o telelixo têm o condão de gerar uma espiral, criando no concorrente a sensação de que tem de ser mais "espectacular", ainda mais ousado, numa corrida demencial, onde o directo assume um papel maior.
Lembro uma nota na revista "Grande Reportagem" há alguns anos, aí um jornalista denunciava a canalha atitude de um colega de uma TV que ante um acidente de viação grave que terá ocorrido na autoestrada do Sul não se cansava de repetir ao cameraman que estavam a colher imagens lindas!
O lado lunar do ser humano não nasceu hoje nem julgo que aumentou. Pensar que, de súbito, temos uma população de "vidiotas" pode consolar os espíritos de quem toma este caminho, ajuda-os a sentir-se como Pilatos, lavando as suas mãos, evitando assim a tarefa mais trabalhosa e a exigir mais capacidades de encontrar outro caminho.
Estamos a alimentar a fera, depois queixamo-nos que ela é indomável!

2004-11-11

 

CORRIDA PRESIDENCIAL

Como que movidos por um tiro de partida que só eles ouvirão, Cavaco e Guterres estão já em exercícios de aquecimento para as Presidenciais. Trilhando um caminho pouco original, ambos começaram já o percurso dos congressos e seminários onde deixam uma frase ou ideia que sabem será utilizada e dissecada à exaustão. Aos jornalistas, claro, repetem que não são candidatos. Eles fingem que são sinceros, nós fingimos que acreditamos. Tudo isto terá sentido, mas como dizia Pessoa referindo-se ao de Santa Comba "o que não faz sentido é o sentido que tudo isto tem"

 

A ARTE DE SER FEIO

Conta a edição de hoje da revista Visão que a modelo Nayma lançou um livro. Em "letra gorda" a modelo aconselha algo radical como mudar a côr do lápis referindo "quem tem medo compra um cão" (ao bom estílo Portas que faz escola). Interessante, contudo, é o nome da "obra": A Arte de um Rosto Perfeito. Desconheço se pretende ser uma ode aos progenitores ou a um qualquer especialista plástico, agora o que acho extraordinário é esta ditadura da imagem e da figura. Valeria a pena discutir o que é um rosto perfeito, haverá muitos que o saberão a avaliar pela popularidade das operações plásticas. Chegará o dia em que nos cruzaremos nas ruas com clones plásticos com sorrizinhos idiotas expressando-se através do dialeto "politicamente correcto". Caramba, saibamos dar valor à bela fealdade de rosto humano, essa sim, uma arte a cultivar.

 

A PUBLICIDADE ENGANOSA DE SANTANA

Os "spin doctors" apresentam uma dificuldade congénita: não conseguem distinguir a realidade da ilusão. Um dos nosso infortúnios é termos um Primeiro Ministro que vive no mundo do "spin". Acontece que a realidade não desaparece apenas por que o Senhor Primeiro Ministro deseja.
O "show off" deste Governo, sabemo-lo bem não tem qualquer sustentação. Pouco a pouco a dura realidade impor-se-á.
O País começa agora a fazer contas, e a perceber que, tudo somado, a grande promessa de redução do IRS se resume a uns "trocos" ainda para mais a dividir generosamente em dois anos. Bagão Felix que aparece cada vez mais agastado (reflexo, talvez, de tantas desautorizações públicas) tenta explicar com rodriguinhos técnicos o inexplicável. Ao ouvi-lo lembrei-me da frase de Bembach "a única coisa que uma boa publicidade pode fazer por um produto que não faz o que promete é acelerar a sua desgraça". A nossa desgraça!!


2004-11-10

 

TRISTE PRAXE

É já um lamentável hábito. Por estes dias do ano lá vêm as tristes figuras de uns quantos energúmenos que no ensino superior dão largas à sua vazia existência nas afamadas praxes. Sabemos todos quantos passámos pelos bancos da universidade que esta é uma época radiosa para aqueles sombrios alunos que, subitamente, têm os seus 15 minutos de fama (triste e vil, diga-se). Tudo isto não mereceria mais do que um esgar de desprezo não fora o facto de nos confrontarmos com a extrema violência de algumas destas práticas.
A conversa é sempre a mesma sublinhando a "bondade" destas almas ao procurarem integrar os recém chegados. Pois a mim parece-me que não há ali mais nada senão a exaltação da mesquinha humilhação do outro, uma manifestação preocupante de como alguns alunos do ensino superior lidam com o poder. Aflige-me imaginar como se comportarão estas criaturas se porventura chegarem a ter poder nas suas vidas. Senhoritos pequenos ditadores. Assim se forma a "elite" de amanhã!!


 

O SENHOR DE MATOSINHOS


Vale a pena ver esta foto de Narciso Miranda que o Jornal Primeiro de Janeiro publicou na sua primeira página no dia 8 de Novembro.

É talvez uma das mais espantosas imagens que tenho visto. Está lá tudo:
-o populismo desgraçado;
-a profusão de botas, chancas e sapatos como se gritassem: estão a pôr-lhe uns patins;
-o dedinho apontado acusando: foram vocês que me puseram neste lindo estado;
-a esfregona, metáfora de um político esforçado a promover uma limpeza (a si próprio?);
-a mão que se escapa no canto inferior direito como que a dizer adeus ao personagem;
-o cenário a convocar a ruína;
-a cortininha por trás, encostada ao lado, indicando uma entrada em cena recente;
-a sensação estranha de que, bem vistas as coisas, há ali uma harmonia, o personagem está no seu ambiente.
A nota final é mesmo a presença desta extraordinária foto na primeira página do "primeiro de janeiro", dir-se-ia que a mensagem subliminar é: este senhor está a preparar a barraca para a sua nova vida que começa no dia 1 de janeiro...

 

Começo

Começar é sempre um salto no desconhecido, mais ainda neste exigente e estimulante espaço da blogosfera que lentamente vou conhecendo. Chamei a este blog abnegado, de "desinteressado,/ desprendido" (cfr. Dicionário da Lingua Portuguesa). Espero que possa vir a despertar algum interesse.

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