2005-01-31

 

CHOQUES E OUTRAS LOUCURAS

A prova provada da tremenda falta de imaginação dos “pensadores” dos nossos partidos temo-la aí no mimetismo tonto que o “choque” tem recebido. Ele é o “choque tecnológico” do PS, ele é o “choque de gestão” do PSD e agora o “choque de valores” do PP. É muito choque, muita comoção, muito abano para um país só. A nossa sorte foi o MRPP não ter decidido seguir este caminho. A avaliar pela promessa de pôr a Assembleia de “pernas para o ar” no caso improvável de eleição de um seu deputado, até tremo só de imaginar que espécie de “choque” não seriam capazes de inventar.
Tenham lá calma com a agitação, juízo e cabeça fria.

Mas, vá lá, que a rapaziada do PSD contrariou esta falha de criatividade com humor e muita galhofa: PSD poderá pedir maioria absoluta (título do Público 31/01/2005) – um momento de boa disposição, gentilmente fornecido pelos sociais-democratas, valha-nos isso!

 

31 JANEIRO 1891


Lembra bem o Carlos que hoje é um dia particularmente importante para todos os republicanos. Em 1891 eclodia, no Porto, a 1ª Revolução Republicana, com a proclamação da República na varanda da Câmara Municipal da invicta. Sem apoios militares a revolta foi rapidamente dominada pelas forças monarquicas. Estava, contudo, dado o mote para a mudança de regime em Portugal.
Quando comemoramos o centenário da morte de Bordalo Pinheiro (um grande e esforçado republicano) coloquei ali em cima a imagem dos "pontos nos ii" uma sua publicação que terminou, justamente, em consequência desta revolução.


2005-01-30

 

SÓRDIDA CAMPANHA!

Começam a ser muitos os sinais de que estamos a entrar na campanha eleitoral mais obscura que Portugal já conheceu. Não se discutem, nem discutirão, propostas políticas, projectos ou ideias. Discutir-se-ão personalidades.
Nesta “arte” de Vaudeville, Santana Lopes há muito provou que não conhece os limites do burlesco e que não entende qualquer organização colectiva para além da sua excelsa pessoa.
O país acompanha, com desusada pormenorização, (pela voz do próprio) a evolução dos seus achaques: anginas, uma hérnia arreliadora, uma gripe do tempo (talvez para o pôr em linha com os muitos que desesperam nas urgências dos hospitais com mesma enfermidade – um homem como os outros), padecimentos vários, que contraria com a sua energia e conhecido “alto astral” contra todos os ventos e marés.
O excitante anúncio da publicação do livrinho com a colecção das suas crónicas insertas no jornal “A Bola” que se presume venha a ser um sucesso de vendas tal a vontade que os portugueses terão de recuperar essas leituras.
O cartaz com a sua fotografia e a enigmática expressão (em jeito de auto-critica): “este homem sabe o que é”.
Tudo isto faria parte do bric-a-brac de incomensurável ridículo que Santana Lopes domina e que personifica. Tudo isto seria mais um sinal do óbvio plebiscito a si próprio que o “Pedro” teima transformar esta campanha.
Tudo isto seria claro e seria mau.
Mas a vertigem da mediocridade ganha uma dimensão de tal ordem que encaminha todo o partido que Santana lidera para um lamaçal que lhe ficará agarrado à pele inexoravelmente.
Ontem, em Braga, o “Pedro” contribuiu para que se descesse a um patamar de total falta de decência. Rodeado de senhoras que aparentavam um delírio por estarem na presença desse mito vivo que conhecem como “tendo uma natureza sedutora” a mesma natureza que as senhoras do comício de Braga acharão uma delicia, afinal a prova que temos alguém “ainda do tempo em que os homens escolhiam as mulheres para suas companheiras” nas palavras de uma obscura “funcionária pública” que decerto se sentirá orgulhosa pela pérola que partilhou ontem com tantas outras companheiras de coração palpitante. No final o “Pedro” mostrou a sua raça, dizendo que “o outro candidato tem outros colos. Estes colos sabem bem”.
É nisto que apostam todos os que no próximo dia 20 lhe derem o seu voto!
Assistir a esta inaceitável, soez e deplorável utilização de insinuações torpes e rasteiras só pode revoltar todos aqueles que têm ainda a ingénua esperança de que Portugal não se torne uma insuportável e boçal “quinta das celebridades”.


P.S. José Pacheco Pereira partilhou as suas angústias relativamente à opção de voto nestas eleições. Não duvido da sua sinceridade nem tão-pouco de que serão partilhadas por muitos sociais-democratas sérios e dignos (que são quase todos). Como reagem a esta campanha? Como reagem à diluição do seu partido em detrimento desta triste personagem? Como reagem, sobretudo, às ameaças veladas de Santana Lopes ontem: “nunca ofendi nenhum adversário político, nunca respondi, nem respondo à calúnia, mas se querem entrar pelo conhecimento público desses lados da vida de cada um, só quero dizer que estou inteiramente à vontade"?

2005-01-29

 

BEM VINDOS TODOS AO SALÃO DE FESTAS (II)

Bernardo estava particularmente orgulhoso, sentia um nervosismo que tentava disfarçar ajeitando o nó da gravata pela enésima vez. Aguardava o momento da aclamação. Estava a minutos de receber o prémio de gestão atribuido pela revista de economia mais influente, corolário de uma “carreira de sucesso”.
Bernardo habituou-se muito cedo a ser tratado por “sôtor” forma respeitosa de garantir o que considerava ser “uma saudável distância”. A verdade é que passou pelos anfiteatros da universidade, pouco importava o facto de não ter concluído o primeiro ano. Aprendeu precocemente que a grande arte de viver é feita de outros saberes.
Começou a trabalhar cedo para pagar os estudos. Arrancava a muito custo o magro salário tentando cumprir o expediente, encontrando na vocação para “mais altos vôos” a explicação para a sua manifesta incapacidade.
Andaria pelos seus vinte anos quando decidiu dar um outro rumo à sua vida, precisava de conhecer e conviver com os poderosos. Homem pouco dado a aventais ou fés fervorosas, conseguiu ardilosamente um lugar no “clube”. Compôs o apelido, acrescentando um “l” ao plebeu “Silva” que assim ganhava uma confortável distinção exibida no cartão pessoal que distribuia com inusitada frequência: “Bernardo Sillva – Economista”.
Foi construindo uma história, convincente, de antepassados gloriosos e fortunas desfeitas. Encontrava na afectação de gestos e ademanes a coreografia do “berço” que a sua imaginação tinha criado.
Reforçou cumplicidades e amizades que lhe gabavam os seus méritos e o recomendavam para lugares de responsabilidade.
Bernardo apreciava o “status” que lhe conferiam os cargos que ia conquistando numa inexorável ascensão profissional. Geria com inegável destreza os seus silêncios. Maçavam-no de morte as solicitações frequentes para decidir, adiava qualquer deliberação alegando ser necessária “uma abordagem com enfoque nos recursos endógenos da organização”. Com os anos desenvolveu uma capacidade de intervir com pequenas frases recheadas de termos técnicos anglo-saxónicos que ia ouvindo nos seminários que frequentava.
Cimentou um prestígio profissional e uma aura de gestor de topo que credibilizavam as suas frequentes referências ao que considerava ser o grande cancro da Economia portuguesa: a falta de produtividade. Gostava de explicar que o “trabalhador português tem pouca formação” e necessita “compreender a conjuntura de grande complexidade que caracteriza a globalização” à medida que se recostava na cadeira encarando, com olhar confiante, os felizes eleitos que o ouviam.
Apresentava um curricula invejável, acumulando passagens meteóricas pela administração de empresas de onde saia para ocupar cargo mais destacado numa empresa de maior dimensão.
Bernardo era um homem feliz, neste dia de louvor. A sua carreira tinha tido o “sucesso” que o mercado reconhecia neste galardão, geralmente atribuido aos maiores gestores do país – de topo como gostavam de se auto-intitular.

(continua)

2005-01-28

 
PARABÉNS Carlos Manuel Castro e Luís Novais Tito pelo 1º Aniversário do excelente TUGIR. Contem muitos.

2005-01-27

 

SONDAGENS

Está chegado o tempo das sondagens e dos insondáveis desígnios de muitas. A mais recente é a da revista Visão de hoje. Socorro-me do sempre útil saber de Pedro Magalhães que permite aclarar os resultados. Assim, utilizando a metodologia que sugere (eliminação dos indecisos da base de cálculo) os resultados são ligeiramente diferentes:
PS: 44%
PSD: 36%
PP: 7%
BE: 6%
CDU: 4%
Estes resultados permitiriam ao PS atingir 113 deputados. A maioria absoluta não parece assim tão longe.
Evidentemente, a campanha ainda não começou e muito poderá ainda acontecer. Em todo o caso, estes resultados suscitam três breves comentários:

1- Tal como já aqui dissémos é importante que o PS mostre vontade e espirito ganhador para conquistar o “momentum” sem o qual me parece difícil mobilizar o eleitorado em torno do seu projecto para alcançar a maioria absoluta. Estes resultados indicam que o eleitorado não está (ainda?) suficientemente motivado.
2- Os resultados do PSD são deveras surpreendentes. Apesar destes cinco meses, conseguir estes resultados é algo que tenho (sinceramente) dificuldade em compreeder. Haverá 36% do eleitorado genuinamente interessado em manter Santana Lopes como primeiro-ministro de Portugal?
Se se mantiverem até às eleições (mesmo com uma ligeira descida) constituirão um embaraço para os sociais-democratas que aguardam o dia 21 de Fevereiro para o “assalto” à cadeira de presidente do partido. Com estes resultados será muito difícil arredar Santana Lopes da liderança. Santana dirá que sózinho conseguiu (contra ventos e marés) impedir uma maioria absoluta do PS, dirá que se tivesse contado com o apoio de todo o partido teria ganho as eleições. Paradoxalmente, para muitos sociais-democratas a melhor opção seria a maioria absoluta do PS, garantindo quatro anos para reestruturação interna e motivos suficientes para afastar Santana. Sabemos bem que o voto é secreto...
3- O PP não tem outra opção para crescer senão “roubar” eleitorado ao PSD, vamos assistir nos próximos dias a um recrudescimento da luta entre os dois partidos de direita. Aliás, o aviso de Narana Coissoró esta manhã foi muito claro.

 

POUCO ÂNIMO

Dir-se-ia que esta campanha gira em torno de Santana, Portas e Louçã. Têm sido eles os protagonistas por estes dias. Estão, todos os três, embrenhados no terreno.
Sócrates anda arredio, aparenta pouca chama. Assume a vontade de maioria absoluta de forma envergonhada quase se diria que “empurrado”. Há por ali falta de ânimo.
O PS está a comunicar mal o seu projecto. Sócrates parece pouco confortável no seu papel.
Não me parece que assim se conquiste uma maioria absoluta!

 

A(S) CARTA(S)

ENVIAR A CARTA A GARCIA
O senhor Nuno Morais Sarmento decidiu escrever uma carta ao PP. Está, naturalmente, no seu direito. A mensagem epistolar de Sarmento dava conta da magoada surpresa do PSD perante as afirmações de Paulo Portas e Pires de Lima.
Santana Lopes entende que o envio da cartinha foi uma “boa atitude”.
Refira-se apenas que a missiva chegou primeiro aos jornais (a quem verdadeiramente se dirigia) e constitui mais um episódio da guerra surda entre os dois partidos que prossegue em crescendo.
Morais Sarmento poderá reservar uma resma de papel timbrado, sentar-se confortavelmente à secretária e avisar, com firmeza, os seus colaboradores que não poderá ser incomodado. Haverá muita carta para escrever!

2005-01-26

 

A DURA REALIDADE

Santana Lopes vai fazendo a apendizagem da realidade, não que a deseje ou sequer a procure, apenas lhe vai entrando pelos olhos dentro.
As noticias de hoje relativamente ao défice deixam-nos a todos (literalmente) de cabelos em pé.
Já intuíamos que havia descalabro nas finanças. Percebíamos todos que o discurso da bonança soava (desgraçadamente) a falso, mas esperávamos (com alguma ingenuidade) que pelo menos houvesse alguma contenção.
As notícias de hoje deixam-nos colados à cadeira: o défice aumentou 10%, a despesa total do subsector Estado cresceu 5,5%, sendo que as despesas correntes registaram uma subida de 6,1%!
Os números falam por si, e não necessitam grandes comentários.

Perante este descalabro ocorre-me perguntar o que andaram a fazer, durante estes meses, os senhores primeiro-ministro e sua excelência o ministro das Finanças.
O desnorte das finanças foi ocorrendo ao longo do ano, não foram capazes de o inverter, ou mesmo suster, e não contentes com isso, não se cansaram de anunciar a retoma e a recuperação das finanças. Santana, foi mesmo capaz de afirmar terem chegado os tempos de aliviar a pressão.
Quando o senhor Paulo Portas fala da competência dos seus ministros, sabe do que fala?
Santana Lopes terá a mais pequena noção da realidade que o rodeia, acaso fará a mais pequena ideia do que é o Estado e as suas contas públicas?

Haverá alguém a governar, ou poderemos dar-nos por satisfeitos por a desgraça ter sido APENAS contabilizada nestes números, tal é a deriva do Estado?

2005-01-25

 

UM MAL DE ÉLITES

Retenho deste fim-de-semana a entrevista de Marçal Grilo ao programa “Diga lá Excelência”.
Ficou clara a sensação de estarmos perante alguém com densidade, com opiniões que se percebe serem fruto de meditação, saber e argúcia.
Da entrevista ficaram algumas ideias interessantes, mas houve uma observação que destacaria.
Dizia Marçal Grilo, a propósito das nossas elites, que o problema não é a sua inexistência ou reduzido número (aliás referiu – e bem – que temos hoje mais elites do que há 20 anos) antes um aparente desdém pelas coisas nacionais, como se Portugal (os seus problemas) representasse, para estas criaturas, um qualquer desprezível provincianismo. Estou de acordo com esta observação.
Não querendo entrar na discussão acerca do que são as élites, a verdade é que observo com regularidade, o ar distante e de critica assaz pejorativa com que as coisas deste país (essa piolheira, no seu douto parecer) são vistas por uma certa sociedade supostamente bem pensante. Uma postura de pretensa superioridade colocando-se numa ilusória posição de cidadãos do mundo, abusando dos galicismos e anglicanismos, para quem a defesa do que é português surge como sinal de grande ingenuidade.
É o retrato de uma élite que, obviamente, dispensamos.

P.S. No final da entrevista não consegui impedir que fizesse, mentalmente, uma comparação com o entrevistado da semana anterior: António Carrapatoso. A diferença é abissal. A verdade é que não retive nada (mesmo nada) de substâncial da intervenção de Carrapatoso. Mas, claro, tal dever-se-á, certamente, à minha memória que de tão sobrecarregada de trabalho, por estes dias, teima em não dar resposta...

2005-01-22

 

O "GUERREIRO MENINO"

A entrevista de Santana Lopes ontem à SIC Notícias constituirá, por certo, matéria para aturada análise de psicanalistas interessados nos insondáveis campos da personalidade.
Em todo o caso há por ali alguns pontos a merecer reflexão. Um dos que mais me incomodou foi a indecorosa afirmação do primeiro-ministro lembrando que a decisão relativamente às SCUT não tinha sido do ministro Mexia, tão-pouco do governo, mas sim dele próprio. Ele, num esforço, que se presume titânico, convenceu o Ministro (averso à medida), não sabemos se pela força dos seus argumentos se pela imposição da autoridade do seu cargo, pouco importa.
Percebe-se que Santana Lopes queira que lhe seja creditada uma das poucas decisões com alguma substância e lógica tomada pelo elenco governativo, percebe-se também que Santana veja em Mexia mais um dos muitos putativos candidatos à sua sucessão e lhe queira retirar alguns louros. Percebe-se tudo isso, agora o que não se compreende é que seja o próprio primeiro-ministro a trazer para a praça pública tricas e questões menores da acção governativa e a colocar-se nesta inexplicável posição inferior.
As decisões tomadas em Conselho de Ministros são colegiais, logo assumidas por todo o Governo. Mais do que a autoria desta ou daquela medida, o crédito final é sempre do primeiro-ministro (positivo, ou negativo). Ao ter trazido esta questão para a entrevista, Santana Lopes diminui-se e demonstra como para ele a acção governativa e a política se conjuga na primeira pessoa do singular, como tudo se limita ao seu pequeno horizonte, ao culto da sua própria personalidade. Estas atitudes tornam compreensiveis as dissenções que estavam a minar o governo.
Santana ao invés de ser o polo aglutinador é, ele próprio, a fonte de problemas e de jogos de bastidores, fomenta braços de ferro de protagonismo. A inconstância e trapalhadas que marcaram este executivo têm esta origem.
Eis Santana Lopes numa campanha consigo próprio, exibindo a permanente necessidade de ser amado, o tal “menino guerreiro” que as almas do seu marketing trouxeram para a campanha num indizível videoclip de extraordinária piroseira.


ADENDA - Sobre a cobertura televisiva desta noite, vale a pena ler este texto de Luís Novaes Tito e este outro de Rui Cerdeira Branco.

 

LEITURAS "PIMBA"

No final de uma semana particularmente cansativa de viagens e afazeres profissionais, confesso que, volta não volta, me dá para baixar as guardas e entrar, com estrondo, por caminhos que dificilmente trilharia. Aconteceu-me hoje fazê-lo, dando-me ao trabalho de ler uma entrevista na revista Sábado de hoje. A entrevistada é a senhora dona Manuela Moura Guedes a quem alguém disse (na brincadeira, mas a senhora tomou a coisa como sendo séria) que tinha muito jeito para comentadora.
Ei-la em visível delírio: “a ideia que o jornalista tem de ser cinzento e neutro está completamente ultrapassada. Tenho de partir do príncipio de que as pessoas não são estúpidas e sabem distinguir entre a noticia e o comentário”. Só esta frase diz muito da senhora.
Os inenarráveis e intermináveis programas de entretenimento com dramas domésticos, cenas de faca e alguidar e outros desmandos a que prosaicamente chamaram “Jornal Nacional” constituem um interessante campo de investigação para quem esteja interessado no “kitsch” nacional. Mais: esta senhora que gosta de terminar qualquer peça com um elegante “é, ...” seguindo-se invariavelmente um comentário digno de figurar na galeria deste post, ainda não percebeu (e pelos vistos não vai perceber nunca) que só neste programa de variedades poderá ter lugar com os seus inefáveis chistes.
A senhora que, de resto, não encontra qualquer incómodo por ter sido eleita deputada por um partido político, ou por ter gravado um anúncio a um detergente, é natural que ache que “a ideia que o jornalista tem de ser cinzento e neutro está completamente ultrapassada”, pois com certeza.
E para quando encerrar um destes seus programas com um faduncho cantado pela própria, com letra apropriada ao “comentário” ou, ainda melhor, garantir-nos a todos a suprema felicidade de a comentar?

2005-01-20

 

MAIS UM EXEMPLO

Num aparente episódio de campanha, Santana Lopes denunciou aquilo que entende ser um exemplo dos “jobs for the boys” do PS. Com a encenação própria dos comícios desenvolveu a tenebrosa história do chefe de gabinete de José Sócrates que teria sido por este colocado numa destacada posição de um instituto público, já depois de perdidas as eleições pelo PS.
Com visível deleite e à-vontade, Santana foi desenvolvendo a história com profusão de pormenores. Acontece que tudo era falso. O senhor em questão foi nomeado é certo, mas por Isaltino Morais de quem não se conhecem simpatias ou paixões socialistas.Este é mais um bom exemplo do “estílo Santana”.
Perante o que julgou ser um “bom exemplo” contado por um amigo e antigo colaborador, Santana Lopes, não se preocupou em conferir a sua veracidade, não dedicou um minuto a perceber melhor os contornos do que lhe contavam. Tomado pela excitação de ter uma “boa história para contar”, confere a um relato inconsequente de café, o peso da intervenção pública do presidente do PSD e actual primeiro-ministro.
Lamentavelmente este é o retrato da sua acção política e governativa. Errático, pronunciando-se sobre o que manifestamente não domina (ou ignora), sacrificando todo e qualquer bom senso em nome de um minuto de projecção mediática.
P.S. - O PSD pediu desculpa aos visados fez bem. Um tema que é sério e que merece ser encarado de frente de tão obsceno (em que o PSD e o PS partilham desgraças), mais esta trapalhada de Santana Lopes traz ruído de fundo e confusão. Seria isto que ameaçava ontem, quando dizia "temo-nos mantido calados, o PS que não puxe por nós"?

 

UM MAU SINAL

Nuno Cardoso protagonizou, ontem à noite, um triste momento.
Quando tudo aconselhava o recato, convocou a imprensa para caluniar, em directo, o sistema judicial português. De caminho, apresentou um demencial programa de perseguições que lhe estaria a ser movido pelo actual ministro da Justiça e o presidente da Câmara do Porto.
Este senhor está à frente da concelhia do PS do Porto, ele próprio se apresentou como candidato a candidato (sic) à presidência da Câmara da cidade invicta. Perante esta declaração tem apenas duas hipóteses: apresenta provas do que disse ou, não o fazendo, demite-se imediatamente dos cargos que ocupa no seu partido. Os políticos não podem proferir uma afirmação com esta gravidade, em directo, nos telejornais como se estivessem no café do seu bairro, sem que decorram desse acto as inevitáveis consequências.

P.S. Fez bem Francisco Assis quando se demarcou das afirmações do senhor Nuno Cardoso.

2005-01-19

 

BEM VINDOS TODOS AO SALÃO DE FESTAS*

José considerava-se um bom profissional. Para ele o taxista era, antes de mais, alguém que tem opinião e a partilha com os ocasionais clientes. Sentado ao volante, mantinha-se informado à força de doses generosas de noticiários que compunha com a leitura do jornal da sua eleição, aquele que conta as verdades “tal como elas são” e sempre traz a noticiazinha dos “bastidores” da “quinta” que isto, já se sabe, é um vicio que se ganha. José achava os políticos “vigaros” que “andam lá para se encherem”, não passava um dia que não se entusiasmasse na descrição do que achava serem as verdades por trás “dessa cambada”, agitando o jornal na coreografia da ira que lhe deixava a face ruborizada. Ainda passava o lenço pela testa cuidando limpar os sinais da sua cólera quando, terminada a corrida, disfarçava uma pressa de urgências tamanhas, não fosse alguém pedir uma factura. Que diabo, um homem não pode declarar tudo, assim como assim, já é uma desgraça.
Era isso mesmo que desabafava com João que lhe garantia fazer ele muito bem, ainda para mais, pagasse ele e podia ter a certeza que estava “a engordar” esses “chulos que ganham fortunas para estar a dormir lá na assembleia”. João, considerava-se um homem com convicções, era, à sua maneira, uma estrela lá no bairro, desde que prestou um depoimento (em directo) a uma jornalista da TVI, tendo na ocasião dito, sem papas na lingua, que isto está como está por causa “dessa malta que ocupa o poder à nossa custa”. João abria apenas uma excepção ao senhor Rodrigues - uma boa alma - presidente da Junta de Freguesia, que não se esqueceu dele e fez o favor de mover as suas influências colocando-o como operador de empilhador na empresa do primo, um outro Rodrigues, dono da “fábrica” – como todos lhe chamavam.
A “fábrica” era uma pequena indústria de confecções que vivia com algumas dificuldades. “já podia ter fechado se fosse tolo e andasse para aí a pagar os impostos que essa gajada queria que pagasse” afiançava Rodrigues (o empresário). Aliás, não disfarçava a estima pelo “guarda-livros” homem de mil artes, que sabia tecer os “paralelos” que ambos liam na perfeição, forma de garantir um estimável prejuízo anual. Rodrigues (o empresário) considerava “uma vergonha” que o “Estado não soubesse gerir”, na sua forma de ver os “políticos querem é poleiro, não sabem gerir”. Ele que se considerava um honrado “empresário” como não se cansava de repetir, tal como hoje o fez quando visitou o dr. Saraiva, o advogado que há anos lhe tratava dos engulhos legais em que teimava meter-se por força dos seus “maus fígados”. O dr. Saraiva tinha-lhe garantido que não se preocupasse quanto à sentença que lhe tinha sido desfavorável, pois “mete-se um recurso, e outro ainda se for preciso, que isto anda tão atulhado que está aqui está prescrito, vai vêr”, o raio do homem sabia da poda, pensou o Rodrigues que de tão aliviado lhe deu para discutir com o dr. Saraiva estas coisas da política, o outro, homem de leituras e muitas sabedorias, lá lhe disse que o problema “é termos gente pouco sabedora das coisas das leis, veja bem a crise da Justiça, repare bem o sr. Rodrigues nesta miséria dos prazos, dos tempos infinitos que a nossa Justiça demora, um inferno”.
O dr. Saraiva não tinha “opção partidária” como repetia. Para ele, um estudioso da coisa pública, os políticos eram todos “uma corja de inuteis”, orgulhava-se de nunca ter votado. Mais radical era a sua mulher. A dra. Saraiva, economista, exercia a sua função numa conhecida multinacional. Tinha-lhe ficado dos tempos de “contestatária” uma convicção: “quanto menos dermos ao Estado melhor”, achava que o Estado não “tinha capacidade de gerir o dinheiro”, revoltava-a particularmente o rendimento minimo garantido que só serve para engordar “malandros que não querem trabalhar” tal como “os políticos”. Ainda hoje se lembra do que lhe aconteceu quando quis recuperar de um problema de saúde psicológica (resultado de muito stress, já se vê), toda a gente percebia que necessitava de um aninho (pelo menos) de baixa, tal como constava do atestado que um médico amigo tinha assinado. Mas uma mulher enérgica como ela não conseguia estar parada e, claro, foi mantendo umas contabilidadezinhas e umas assessoriazinhas a empresas do seu ramo (quase gratuítas, só para se manter activa, como garantia). Pois “eles” lá na Segurança Social foram investigá-la, a ela vejam bem. Nos momentos de cólera (cada vez mais frequentes) bramava que aos “os gatunos” ninguém lhes toca “têm medo”.
A sua amiga Nini repetia-lhe que por causa desse pormenor tão “piqueno” não a deviam ter perseguido. Eram todos “vermelhos” dizia-lhe. Benzia-se, sempre que assim classificava os políticos, a palavra até lhe queimava os lábios. O paizinho se fosse vivo, sabe Deus se aguentaria ouvir a sua Nini pronunciar tão vil palavra. O paizinho nunca necessitou trabalhar, as terras da familia, lá no Alentejo, sempre davam os rendimentos para viver “como deve ser” para gente “da sua condição”. Foram, estes “políticos” que deram cabo disto tudo. Vejam bem que até os filhos dos “seus” camponeses agora têm licenciaturas, ao que isto chegou, logo eles, familia tão importante que nunca precisou estudar, menos ainda (abrenúncio) agarrar-se aos livros como esses intelectuais...
(continua)

*Título descaradamente “roubado” ao Sérgio Godinho.

2005-01-17

 

DÚVIDAS E INQUIETAÇÕES

Face ao que temos vindo a reflectir neste espaço somos confrontados com a questão magna: como mudar? Que fazer perante este desespero que nos aperta perante o estado comatoso que observamos na política caseira?
A entrevista notável de José Gil na edição de ontem da revista do Público ajuda-nos a compreender melhor um pouco de nós, e lembra-nos a dificuldade que temos em discutir os nossos problemas, tolhidos que estamos pelo medo (um medo irracional como refere) e pelo fuga constante ao conflito. Talvez seja esta uma das muitas razões para a situação a que chegámos. Tal como sublinha Pinderico no seu oportuno comentário, resta-nos um poder que não é negligenciável: a denúncia constante e a intervenção pública. Aliás, a blogosfera constitui um extraordinário espaço de intervenção, onde subitamente várias vozes têm feito valer a sua opinião e promovido um debate vivo e intelectualmente estimulante provando que existe vontade (e capacidade) para um olhar mais atento sobre o que nos rodeia. Com a intervenção regular e incisiva poderemos contribuir (modestamente é certo) para levantar as expectativas e, sobretudo, as exigências.

Que o estado a que chegaram os partidos políticos é a mostra de uma desgraça que não poderá trazer nada de bom ao país parece-me de reconhecimento unânime. A questão é saber como se poderá alterar este estado, sabendo que as soluções apresentadas por António Barreto ontem no Público (dando, de resto, sequência a outras vozes) implicam a alteração profunda dos partidos políticos tal como os conhecemos.
Confesso que tenho mais dúvidas e inquietações do que certezas!

2005-01-16

 

MARKETING POLÍTICO (V)

Encerrando esta primeira fase de observação, proponho uma reflexão sobre dois elementos importantes em qualquer partido: as “jotas”, e as “bases”.

As juventudes partidárias, ou “jotas” como gostam de chamar (talvez apelando a uma “suavização do termo) são constituídas por jovens com envelhecimento precoce. Procuram na aprendizagem rápida da cantilena dos “seniores” o passaporte para a credibilidade, começando por se colocar em bicos dos pés, repetindo, com mais veemência, as frases ocas dos maduros. Inevitavelmente, este comportamento garantir-lhes-ão “dar nas vistas” e será valorizado, percebendo-se que compreendem e aceitam os códigos tácitos de linguagem e comportamento do partido.
Os “jotas” fazem assim o seu percurso, precocemente desligados de tudo o que o rodeia, concentrados que estão na sua “carreira”. Fazem a sua aprendizagem observando e participando nos “jogos” de poder internos, deleitando-se com a perspectiva de ter um papel em tão dignificantes construções de cenários e pequenas traições que os fazem sentir ter encontrado ali “o seu lugar”. Vão ganhando um destaque no convívio com os colegas e inserem-se diligentemente no partido. Constituem um triste “partido dos pequeninos” em que só a ignorância e o vazio de ideias são “em grande”. Em períodos de campanha tornam-se o filão onde se buscam as caras jovens devidamente vestidas com a t-shirt do partido que asseguram uma “energia” e um visual “jovem” sempre atraente. A sua dedicação e vontade garantem braços sempre disponíveis para o trabalho de rua.
Durante a campanha, na fase mais agerrida, é reservada aos “jotas” a tarefa de criticarem de forma mais rude o adversário, fazendo-o com a “irreverência” que sabemos “própria da juventude”. Os jotas, agarram com tal entusiamo a tarefa que, invariavelmente, tropeçam na sua impreparação e na vontade de agradar, causando muitas vezes embaraços aos mais afoitos.
Oferecem ao grande líder a possibilidade de os apresentar (irradiando felicidade) como o futuro do partido, garante de uma ligação às novas gerações com a sua conhecida “irreverência”, a mesma que os faz usar “pull-over” e “jeans” nos primeiros dias como deputado exibindo, com orgulho, o sinal da sua enorme “capacidade de protesto”.

As bases são a eterna referência em qualquer partido. Em seu nome pretende-se uma ligação ao país profundo. Qualquer estratégia de poder no partido não pode dispensar o apoio dos líderes das concelhias, são estes que controlam o seu pequeno feudo, e logo constituem, eles próprios, as “bases”. Os “generais” do partido acompanham e apoiam os seus apaniguados para garantir o controlo do maior número de concelhias, forma maior de “ter o partido na mão”. A manutenção destas fidelidades implica uma desgastante dedicação, com presença nos “eventos” organizados pela concelhia, nas incontornáveis festas de verão, e num ou noutro casamento ou baptizado, cuja presença possa “honrar” o colega presidente da concelhia provando-o próximo dos “grandes” nomes do partido . São gestos que não se esquecem, e se pagam com a dedicação dos “delegados” num próximo Congresso, que o “general” saberá negociar com mestria.
As “bases” personificadas nos presidentes das concelhias irão, por seu turno, aproveitar o seu apoio, usufruindo desta ligação directa e do acesso privilegiado (possuindo o número privado de telemóvel do “general” que, de resto, exibem amiúde com inusitado orgulho, prova de uma cumplicidade e proximidade com o poder).
O poder dos líderes das concelhias não é despiciendo, têm uma palavra a dizer na escolha dos candidatos autarquicos, na constituição das listas mas, sobretudo, distribuem os cargos locais de nomeação pelos seus apoiantes, que aumentam caso o partido tenha a felicidade de ganhar as eleições. São poucas dezenas, e servirão para as gradiloquentes afirmações sobre as “bases”.

Nos partidos políticos a política está a esvaziar-se. Discutem-se lugares, tricas, tácticas. Não se discutem opções políticas, ideológicas, não se discute uma visão da sociedade. Quando necessitam de apresentar os projectos e programas de governo, invariavelmente, os partidos necessitam de encenar uma “abertura à sociedade civil” em jeito de jornadas para ouvir opiniões e opções, as mesmas que raramente discutem internamente.
O Marketing político perde-se na construção das mensagens que concentram no inimigo externo o foco de atenções, procurando encontar uma forma de união do partido, já que a matriz ideológica deixou, há muito, de ser o elo comum entre os seus elementos.
O Marketing político deu corpo a este esvaziamento, centrando-se na iconografia e na adaptação do discurso “aos tempos modernos” (leia-se televisão), uniformizou os comportamentos e “tiques”, esvaziou a componente ideológica reforçou o espectáculo.
A política surge assim como filha enjeitada. Haja quem lhe dê guarida e a atenção que merece - Como? Eis a dúvida para debate.

 

À PROCURA DA MORAL REPUBLICANA

Nestes tempos de incertezas várias, proponho para debate a moral republicana, reflexão que será aquilo que os visitantes desta “casa” quiserem que seja.

Primeiras notas necessariamente breves e sumárias:
A moral repúblicana assume o Homem e as suas circunstâncias. Não tem ilusões quanto a homens providenciais e procura na honra, na ética e no mérito as bases para o serviço público.
Num tempo de protagonistas, de desvario na luta pela imagem, da cultura do “facilitismo”, da procura de receitas mágicas a exigir pouco esforço, das soluções ao virar da esquina e alguma desorientação, a moral repúblicana tem sido esquecida.
A gestão da coisa pública constitui uma honra, o poder político com o trabalho em prol da sociedade assume uma dimensão maior. A comunidade ao conferir aos eleitos a responsabilidade pelo serviço público pede-lhes capacidade de realização e visão, requer méritos e capacidades suficientes para as tarefas que lhe são atribuídas, exige-lhes um comportamento, no desempenho das suas funções, honrado, ético e justo.
A moral repúblicana apela a uma dinâmica social, ao trabalho e à dedicação.
É tarefa para grupos de cidadãos, não de um indivíduo. É tarefa para cidadãos capazes, independentemente das suas origens, credo, raça, formação - os primeiros entre iguais. Cidadãos iguais em direito e deveres, com virtudes e defeitos, simples mortais, que ocupam, momentaneamente, funções públicas.
Evidentemente, implica que se tome o caminho mais difícil com visão de longo prazo.
Na essência simples, temos esquecido com frequência este princípio.
(continua)

Ao contrário de outros não julgo que a política esteja condenada e que os políticos sejam todos uns incapazes. Entendo que o grau de exigência deve ser elevado, e que não deveremos hesitar denunciar os menos capazes, os indignos, e aqueles que têm da política uma visão tacanha e a vêem como forma de projecção sem qualquer ideia de serviço público. Entendo que não podemos baixar os braços numa atitude perigosa de resignação.
Primeiras notas para debate, contando com as observações, comentários, criticas e propostas dos frequentadores desta abnegada “casa”.

 
OBRIGADO: Salvos e Afogados, Só Palpites e La Pipe pelas palavras gentis.

 

TONTERIA REAL

No Reino Unido o senhor Henry Charles Albert Davies decidiu aparecer numa festa de máscaras envergando um uniforme nazi. Dir-se-ia que se trata de um episódio menor próprio de um rapazola inculto e ignorante. Acontece que o rapaz está na linha de sucessão para o trono inglês.
Este episódio motiva-me três breves anotações:
1- Os monárquicos defendem que a preparação e educação, desde o berço, dos monarcas para a representação do seu país é uma garantia de prestígio e qualidade. Este é um (dos muitos) bons exemplos da falácia deste argumento;
2- Na Monarquia, episódios menores da vida privada ganham, necessáriamente, dimensão de Estado. O regime assenta neste equívoco da confusão entre o público e o privado.
3- Na Monarquia a pretensa superioridade de uma familia a cujos membros é conferido, à nascença, a representação de um povo, inscreve na pedra dos tempos uma imutabilidade social inaceitável.
Na sua tonta ingenuidade o senhor Henry prestou mais uma boa ajuda na demonstração do equívoco que é a Monarquia.

2005-01-14

 

MARKETING POLÍTICO (IV)

A comunicação social é uma presença incontornável na definição de qualquer estratégia de marketing político. A sua influência (sobretudo da televisão) justifica que lhe seja votada uma atenção especial por parte dos responsáveis políticos. Contudo, esta relação desigual implica, as mais das vezes, uma tendencial subserviência por parte dos políticos.
Num país pequeno como o nosso, movendo-se em circulos de muito reduzida dimensão, muitos dos intervenientes (jornalistas, políticos, responsáveis pelos meios de comunicação social) acabam por se conhecer entre si e estabelecer cumplicidades ou gerir pequenos e grandes ódios. Muitas “notícias”, muitas projecções (ou ataques) de personalidades, muitos convites para “comentadores”, resultam destes estados de alma.
Alguns jornalistas apresentam como mais-valia um naipe de “fontes” que alimentam, com um ou outro encómio, promovendo as suas carreiras para que a qualidade da “fonte”, e logo da informação cedida, seja tendencialmente maior - mais tarde a promoção de uma das “fontes” a um cargo de destaque poderá valer um sempre agradável lugar de “assessoria”. De resto, o trânsito que se verifica entre as redacções e os gabinetes de assessoria do poder político (e posterior regresso aos meios de comunicação social), traz uma achega mais para o ruido de fundo e desinformação.
Os orgãos de comunicação social acabam também por ser palcos de guerras intestinas dentro dos partidos ou do governo, recebendo, na volta do correio, informação comprometedora para o colega que se intrometeu no caminho.
Entretanto, surgiram empresas especializadas no aproveitamento deste mundo complexo, gerindo e orientando os políticos na arte de “convencer” os “media” e “vendendo” o(s) seu(s) candidato(s). Apresentam-se com o pomposo nome de “agências de comunicação” e são já incontornáveis para qualquer partido.
Estas agências acabam por se tornar as responsáveis maiores pela relação dos partidos políticos com a comunicação social, logo, tornam-se os grandes responsáveis pelo marketing político. Aplicando receitas genéricas, uniformizam, progressivamente, os candidatos à força de aplicarem todas as mesmas receitas.
Os protagonistas políticos são escolhidos e promovidos em função da sua telegenia (passam bem na televisão), implicando que a razão maior da sua escolha seja tendencialmente menos as capacidades, para ser cada vez mais a imagem.
Tudo gira em torno da forma como se “passa” na TV. Criam-se oportunidades de noticia, almoços e jantares de dimensão épica, numa espécie de atestado pantagruélico de competência. Arregimentam-se os meninos e meninas das “jotas” para “enfeitar” (em permanência) a campanha e dar um ar mais jovem e atractivo.
O debate e cobertura da campanha ficam reduzidos ao espectáculo (aquilo que verdadeiramente interessa às televisões, para conservar audiências), procuram-se as imagens “insólitas” privilegiando-se os lapsos, as “gaffes”, os embaraços.
Ocupando um espaço público limitado - logo com responsabilidades acrescidas - as televisões (sobretudo estas) evitam a promoção de esclarecimentos sobre os projectos políticos das diferentes forças.
A política e os políticos deixaram-se enredar e diminuir nesta relação doentia.
Não faltará muito tempo para que cada emissora de televisão escolha e apoie o “seu” candidato, à semelhança do que já fizeram nas eleições para a presidência do Benfica há alguns anos, dando assim o seu precioso contributo para a transformação da política num mero espectáculo.
(continua)

2005-01-13

 

SÍNDROMA DA RÃ

Observando a nossa realidade ocorre-me o chamado “síndroma da rã”.
Coloque-se a rã em água tépida, aumentando, progressiva e lentamente, a água de cozedura, e teremos a rã cozida viva.
Receio que a sucessão de tonterias, absurdos, incompetências e brincadeiras que assistimos com desusada regularidade, por alguma da nossa “classe política” tenha como resultado último a inevitável redução do nível de expectativas até ao limite. Essa redução equivalerá ao aumento da temperatura da água.
Teremos um grau de exigência tão baixo da política e dos políticos que seremos tentados à perigosa e incorrecta generalização, tão própria daqueles que se deleitam a incluir todos os políticos numa espécie de saco de gatos.
Essa fragilização encerrará perigos que não podemos esquecer. A diminuição do primado da política poderá abrir a porta ao reforço de outros poderes sem escrutínio, e sobretudo, sem controlo.
É por isso que considero inaceitável o caminho que trilhamos. A implosão do sistema político a que assistimos e que se vai tentando observar (muito humildemente) nesta Abnegada “casa”, parece-me que não é mais do que a manifestação deste “síndroma da rã” desgraçadamente aplicado à nossa sociedade.

2005-01-12

 

O MARKETING POLÍTICO (III)

OS CHEFES (Continuação)
Dando continuidade à reflexão sobre os líderes utilizando os comentários certeiros aos textos anteriores.

A fulanização das campanhas e da vida partidária em torno dos chefes, não permite um enriquecimento do debate mas, sobretudo, contribui para a lenta diminuição da qualidade dos chamados “quadros políticos”.
Sabemos pouco das pessoas que vamos eleger nas próximas eleições, ouvimos vagamente as discussões em torno das listas, acaso reconheceremos uma ou outra figura, mas desconhecemos a grande maioria dos candidatos que se apresentam a escrutínio.
Os partidos vão-se tornando imensas repartições públicas em que os seus “quadros” se tornam profissionais da política sem vida fora desse pequeno mundo. Desconhecendo o “país real” (como gostam de dizer, sem saber do que falam), e vivendo das cumplicidade internas que vão tecendo - na promessa de uma mão protectora no futuro – garantia de uma posição elegível nas listas, um lugarzinho num qualquer instituto público, um cargo de direcção, estes “políticos” quererão tudo menos discutir, apresentar e defender ideias. Anseiam pela “progressão na carreira” sem grandes sobressaltos. Para eles, a fulanização em torno do líder revela-se um importante garante da sua sobrevivência. Movendo-se no “status quo”, e fugindo a uma exposição forte, poderão esconder facilmente as suas incapacidades gerindo, com mestria, os seus silêncios. Interessa-lhes o seu pequeno poder, as benesses que lhes trazem conforto suficiente para um ego maior que as modestas capacidades.
Os inimigos estão ali na “fraterna” união dentro do partido. É “lá dentro” que estão aqueles que poderão disputar o “lugar” de que faz profissão.
Os mais afoitos e ambiciosos assumem uma preferência por um “general” constituindo-se como elementos fidelíssimos da sua corte, apostam a sua carreira no risco dessa opção, não podem perder, estarão disponíveis para todos os “combates” para defender e promover o seu candidato, corporizam a sua “elite” de onde sairão os ministros políticos (caso consigam colocar o seu “general” na liderança), ansiando que um dia a aprendizagem lhes proporcione a oportunidade de se tornarem, eles próprios, um “general” em luta pela liderança.
No geral, os outros conservam-se numa prudente observação, sem grandes apegos, que lhes permita o inevitável abraço de apoio, sempre que novo rosto ganha os galões do partido.
No momento da eleição como chefe, lá surgirá a apresentação da promessa, como objectivo maior, de uma “lufada de ar fresco” com novos protagonistas. Melhor do que ninguém os líderes sabem que se trata de mais uma frase promocional sem conteúdo. Sabem, melhor do que ninguém, que não podem destruir a sua base de sustentação.
Haja alguém que pretenda entrar neste mundo, e terá pela frente uma união de espiritos que não descansarão enquanto não expurgarem essa ameaça.
Entretanto, a necessidade de simplificação e o gosto pelos “protagonistas” impele os meios de comunicação social a participar no jogo, dando excessivo protagonismo aos chefes, promovendo-os como rostos de uma qualquer novela.

Observamos, com espanto, a contínua fulanização da política. Mas esta é, afinal, a consequência óbvia destes jogos de poder e da mediatização da política. Inexoravelmente, este caminho encarregar-se-á de manter (e porventura consolidar) o empobrecimento do pessoal político e da política, assim como do progressivo (e perigoso) afastamento da população.
Ao contrário da Roma Imperial, infelizmente, teremos circo, mas não teremos pão.
É isto que necessita ser mudado. Reformar para simplificar o processo de constituição de maiorias não será mais do que pintar, com cores berrantes, um edifício em ruínas.

 

MARKETING POLÍTICO (II)


Adoro Portugal porque é um país de irrealidade política (André Malraux)

A diferença entre marketing político e marketing eleitoral não é pequena. O primeiro tem uma orientação estratégica, a sua acção deverá permitir que os valores, projectos e visão da sociedade de um partido seja comunicada com eficácia. Já o marketing eleitoral centra-se, quase obsessivamente, nas tácticas eleitorais. O primeiro não deveria ser subjugado pelo segundo. Receio que não seja assim.
A pouco mais de um mês das eleições legislativas, os programas de governo dos principais partidos não são conhecidos, e no entanto, a campanha já “está na rua”...

Centremo-nos, por hoje, na fulanização.

OS CHEFES
As próximas eleições destinam-se a eleger os 230 deputados da Nação, quem acompanhe a comunicação dos partidos parecer-lhe-á inverosímil. Os partidos foram quase exclusivamente transformados no local de culto do grande chefe, apagando-se na luz radiante da personalidade que os dirige. Mesmo a CDU cedeu à sua tentaçao (vale a pena lêr este texto de Carlos Manuel Castro no blogue Tugir).
Uma visita rápida aos sitios da internet dos principais partidos é reveladora. No sitio do PS é esta a imagem permanente no cabeçalho:

No sitio do PSD a situação é a mesma, com este cabeçalho:

.

Em ambos os sitios é possível ler em detalhe os curricula dos líder, mas quase impossivel conhecer outros elementos do partido.
Na campanha, os cartazes (e toda a parafernália de campanha) ostentarão o perfil sorridente do “chefe”.
Os líderes carregam, assim, o peso de todo o partido, tornam-se a sua face visível. Praticam a arte dos tempos que correm: aparecer. Assim é, aparecem, “dão a cara”, encarregam-se de garantir visibilidade, mesmo se à custa de repetição de frases feitas, de belo efeito e poucas ideias.
A ditadura da imagem aconselha a escolha de candidatos “telegénicos” que criem empatia com o eleitorado, gente de fácil contacto, caução de emoção a rodos.
Chefes que garantem na sua condição de “campeões de campanha” o lugar cimeiro do partido a quem é confiada a responsabilidade maior de “ganhar eleições”. Eis no que se estão a transformar os partidos: máquinas de eleições com um comandante ao leme.
Acontece que um “campeão de campanhas” não faz necessáriamente um bom Estadista.


2005-01-11

 

UM VENTO (OU UMA MARÉ)

O chefe de gabinete do ministro apressa-se a enviar uma nota convocando os jornalistas. Com intensidade dramática, marca-se a conferência de imprensa para as 22h00, uma hora e meia depois de emitido o toque a reunir nas redacções. Atrasado, o ministro senta-se e depressa diz ao que vem, recordando o que entende ser um “trabalho que fala por si”. Detém-se na recordação dos momentos (que julga emblemáticos) do seu serviço “com muita honra” no “governo”. O olhar a trair uma emoção cerebral, quase felina, prometendo luta. A afirmação seca de que teria “naturalmente” pedido a demissão ao senhor primeiro-ministro, que num arremedo de grande dignidade lhe teria reafirmado a sua confiança. Mais aliviado, o senhor ministro, ensaia uma ligeira inclinação para a frente, espécie de momento em suspensão antes da grande comunicação. Acto contínuo, levanta-se e encerra a comunicação ao país.
Eis um vento (ou uma maré) que muito graciosamente fez questão de comunicar ao país que tinha tomado pela mão o senhor primeiro-ministro “por Portugal”.

 
Obrigações profissionais, outros escritos e prazos apertados ocuparam a totalidade dos últimos dias, implicando uma quebra na regularidade do abnegado, que espero retomar em força na terça feira (11 jan) lá mais pela noite. Por coincidencia no exacto dia em que se cumprem 2 meses desta "casa". A data ganha particular importância dada a referência de Paulo Querido no Expresso deste fim-de-semana. Aparentemente a maioria dos blogues não resiste ao segundo mês. Como diria o outro: Safa!!

2005-01-08

 

MARKETING POLÍTICO (I)


IMAGEM – SONDAGEM – SACANAGEM (Manuel Alegre)

Aproximando-se mais um período de campanha eleitoral, talvez valha a pena uma reflexão sobre o Marketing Político. Proponho apenas, para já, algumas achegas para início de conversa, esperando pelas sempre importantes e enriquecedoras contribuições dos leitores do Abnegado.
Escolhi a frase de Manuel Alegre pois entendo que servem de excelente moto para esta reflexão.

Nas eleições legislativas o mais importante é o projecto que cada partido apresenta corporizado no Programa de Governo, o Marketing deveria preocupar-se com a sua promoção e explicação. Não é isso que acontece.
Sob o rótulo do Marketing político, assiste-se à fulanização da campanha em torno do líder do partido, recorrendo-se a técnicas vetustas e ultrapassadas.
As campanhas estão fortemente dependentes da sua repercussão na comunicação social, sobretudo na televisão. Para isso procura-se basear a comunicação em frases curtas de eco garantido nos telejornais. Acerta-se o rumo das promessas e das frases em função dos estudos de opinião, procurando saber – em tempo real - como está a passar a mensagem.
Programa de Governo? Nada.
Organizam-se voltas a Portugal intermináveis obrigando os candidatos a visitar os pontos estratégicos onde estão pessoas “que apoiam muito o partido”. Feiras e praças. Almoços e jantares. Abraços e beijinhos, braços levantados em festa, o “V” de vitória exibido com orgulho. Comícios, abrilhantados por estrelas da música “pimba”, autocarros em excursões de militantes vindos sabe Deus de onde, bandeirinhas de plástico agitadas de acordo com a coreografia orientada pelos animadores de serviço. Breves momentos para declarações, frases curtas, promessas e um mobilizador “vamos ganhar”.
Programa de Governo? Nada.
País “inundado” com “outdoors”, cartazes, pendentes, “slogans” descorados (quando não tontos). Que tipo de impacto poderão ter?
Programa de Governo? Nada.
Oferta de aventalinhos, esferográficas, isqueiros, t-shirts e outra fancaria. Distribuem-se brochuras com ideias vagas e repetição gráfica de promessas e “slogans”.
Programa de Governo? Nada.
Tempos de Antena: várias caras conhecidas garantindo estar com o partido. Imagens de rua com “populares”afiançando estar ali o líder de todos os tempos. Música épica, o candidato com velhinhos, beijando crianças, acompanhado de nomes “sonantes”.
Programa de Governo? Nada.
Debate na televisão: Preocupação com o fatinho azul escuro (imagem de responsabilidade, credibilidade), camisa clara sem riscas (para evitar o efeito de movimento que a televisão de baixa definição confere), gravata lisa (para não desviar a atenção), o olhar directo para a câmara (para ser mais convincente e parecer mais sincero), sorriso (para expressar simpatia), frases vagas e simples (para passar melhor a mensagem – seja lá qual ela for).
Programa de Governo? Nada.
Tal como estão, as campanhas eleitorais não permitem distinguir entre o trigo e o joio, não esclarecem, promovem a demagogia, o populismo e proporcionam condições para que personalidades sem capacidade possam projectar uma ideia diferente.
Seria bom que a campanha se apoiasse, por exemplo, em entrevistas de fundo com entrevistadores especializados em diversas áreas que permitissem aos responsáveis dos partidos explicar e desenvolver as suas propostas e o seu projecto.
(Continua…)

P.S. Sobre os cartazes do PSD vale a pena ler este excelente texto de Carlos Manuel Castro no Tugir e esta montagem genial no Ideias em desalinho.

2005-01-07

 

TRISTE SINA

Não deixa de ser sintomatico que todos os partidos tenham concluido a elaboração das listas, menos o PSD. A razão é a mesma que tem movido o partido nos últimos 5 meses: desorientação, falta de liderança. Até mesmo a fase de “mercearia”, muito própria destas construções, não escapou à total confusão. Nada de novo.
Goste-se ou não do PSD a verdade é que tudo isto me deixa estarrecido e preocupado.
Quem olhar para este triste espectáculo com um sorriso só por que não se reconhece no campo político do PSD, poderá engolir em seco, quando vir os Populares sair do seu “taxi” para ocupar, artificialmente, um espaço substancial.
Muitos portugueses de direita que se sentem inquietos com o louco frenesim que lhes promete o PSD, poderão encontrar no PP um refúgio que julgam conveniente.
Com o seu discurso demagógico, sublinhando a “estabilidade” (como se fossem os seus arautos, vejam bem), o PP de Portas estará a apelar a uma vasta camada de portugueses que não gostam de confusões e que não têm capacidade (ou não querem) compreender o que representa verdadeiramente o PP.
Bem vistas as coisas há uma diferença enorme entre ter o PSD a liderar a oposição ou vê-lo partilhar com o PP esse espaço. Veremos como é diferente. Veremos o que é ter o PSD a ser puxado constantemente para a direita, “ensanduichado” entre o PS e um PP relativamente forte. É nessa medida que nos interessa a todos o que se está a passar no PSD, independentemente do campo político de onde observamos este descalabro. E é nessa medida que desejaria que o PSD fosse capaz de impedir a subida do PP, mas isso - bem o sei - seria pedir o impossivel.
Santana deixa-nos mais esta amarga herança: o PP de Portas.
Por isso temos de nos preparar para aturar o “Paulo” e os seus insuportáveis “sound-bytes” perigosamente gerindo o seu veneno numa corrida para liderar a oposição!

2005-01-06

 

PERCEBE, SENHORA MINISTRA?

Maria do Carmo Seabra, eis o nome da senhora ministra da Educação. O seu nome está indelevelmente associado às lamentáveis trapalhadas (valha a verdade que o seu antecessor deu um precioso contributo) que o ministério que tutela gerou ao preocessar a simples colocação de professores. Milhares de familias e de profissionais foram involuntáriamente envolvidos neste processo que ainda não terminou. Já aqui falámos da inenarrável decisão da ministra de considerar confidencial uma auditoria cujos resultados Nuno Morais Sarmento tinha anunciado que seriam tornados públicos.
Mas a senhora não descansa. Afectando um ar de quem acha tudo isto uma maçada, a senhora que termina todas as frases com um elegante “percebe?”, achou que essa coisa de ir ao parlamento não “é interessante”, aliás vale a pena citar a sua frase: "Telefonaram-me a perguntar se achava interessante ir e eu disse que não, porque achei que os jornalistas fariam hoje [ontem] todas as perguntas relevantes".
Acontece que a senhora não está numa qualquer “vernisage”, os seus estados de alma são completamente irrelevantes. Caso não tenha ainda percebido ocupa o cargo de ministra da Educação, e o Parlamento é um orgão de soberania onde estão os eleitos pelo Povo e que deve respeitar. Por muito que lhe possa custar os resultados da auditoria ao rocambolesco processo de colocação de professores devem ser conhecidos, doa a quem doer. Percebe, senhora ministra?

 

A METAMORFOSE DO PSD

O PSD vive um processo de metamorfose que dificilmente inverterá. A actual constituição das listas representa mais um desses inexoráveis processos. Santana está a colocar a sua gente em posições de destaque, o que implica o despautério de convidar “socialites” (e ouvir a humilhante recusa), fadistas e quejandos para abrilhantar o espectáculo.
Quaisquer que sejam os resultados do dia 20 de Fevereiro vai procurar na perseguição que lhe foi movida a razão da derrota. Não abandonará a presidência do partido, colocando-se, de imediato, pronto para mais um “combate”. A saga continuará.
Arrastar-se-á uma dolorosa luta interna, sendo difícil encontrar alguém disponível para corporizar uma mudança no PSD. O partido estará “minado”. Na Assembleia da República e nos lugares chave, estarão as gentes de Santana.
O rasto destes últimos meses deixará uma lúgubre memória que impedirá ao futuro líder qualquer argumentação credível. A saída indecorosa de Durão Barroso anula a fuga de Guterres. As trapalhadas protagonizadas por Santana Lopes tornarão a recordação dos últimos anos do Governo Guterres bastante menos agreste. O desnorte das finanças públicas (com o repetido anúncio da chegada da retoma que tal como Godot faltou à chamada), não deixará margem para recordar Manuela Ferreira Leite.
A imagem do PSD ficará lastimosamente afectada.
Talvez então se procure compreender como foi possível que um partido com as responsabilidades do PSD tenha perdido (em escassos meses) o capital de credibilidade que construiu ao longo dos 30 anos de Democracia, às mãos de Pedro Santana Lopes e da sua gente.

2005-01-05

 

UMA BOA NOTICIA

Eis que nos chega esta boa noticia.
Sem a presença do “governo” (talvez por isso mesmo) as associações patronais e os sindicatos chegaram a um acordo relativamente à contratação colectiva, preparando-se para discutir a formação profissional.
Num período particularmente dificil para a nossa Economia, avizinhando-se tempos muito conturbados, é bom que os parceiros sociais conservem esta lucidez.
Mais uma prova de que este “governo” deixou, há muito, de ser parte da solução para ser, ele próprio, o problema.
Afaste-se pois o problema e encontra-se a solução.

 

MODA IRRITANTE

Subitamente, alguma rádio foi tomada pela irrirante moda dos “parzinhos” de apresentadores. Um menino e uma menina pretendendo ser muito engraçados e jovens, concorrem entre si na tentativa de alcançar o prémio maior da tonteria.
Nas suas vozes a lingua portuguesa sofre tratos de polé, as graçolas são do mais elementar e a dicção remete-os para a categoria de mastigadores de palavras.
Estes meninos, não conseguem mais do que tornar penosa a audição de alguma rádio.

2005-01-04

 

O CONVITE

Com este renovado PPD/PSD a realidade ultrapassa, todos os dias, a ficção. O recente episódio envolvendo o senhor Pôncio Monteiro consegue reunir os condimentos próprios de uma rábula de revista do Parque Mayer.
Num partido minimamente organizado a elaboração das listas (momento único de guerras de alecrim e manjerona) ocorre à porta fechada, quando muito escapam uma fugas de informação relatando o conturbado processo, mas a coisa fica por aí.
No Partido Social Democrata (renovado) é diferente. Fazem-se testes em tempo real.

Convida-se um personagem. Permite-se que este se sente, confortavelmente, no sofá da sua sala para receber os jornalistas e dissertar, com vagar, sobre o que fará para resolver o diferendo entre a Câmara Municipal e o clube de futebol local.
O presidente da edilidade (por sinal vice-presidente do partido) ouve a entrevista, soa-lhe estranho que não soubesse do convite, desagrada-lhe o discurso. Pega no telefone e pede, carinhosamente, explicações ao presidente do partido.
-“Tu não me digas que o homem disse isso” (pergunta, simulando estupefacção, o presidente). Ante a confirmação, não foi de modas: “eu já vou tratar disso, esses malandros, estão em roda livre, não me dizem nada, escondem-me tudo. Mas tu sabes que sou um homem de combate, não tolero que façam pouco de mim e do PPD/PSD, eles vão ver”, deixando-se levar pelo entusiasmo da encenação, desligou o telefone abruptamente, deixando o vice-presidente a falar sózinho quando lhe garantiu que desculpasse, mas este tipo de brincadeiras não eram para ele.
Na manhã do dia seguinte ao ouvir, nas noticias, que o personagem convidado tinha sido “desconvidado” o vice-presidente, olhando o rio, não conseguiu disfarçar um angustiado desabafo: onde eu me fui meter!

2005-01-03

 

AS PRESSÕES

Num destes dias ouvia Carlos Pimenta recordando os anos como Secretário de Estado do ambiente no Governo de Cavaco Silva. Referia-se às conversas que habitualmente mantinha com os seus secretários-gerais quando estes se queixavam das fortes pressões a que eram sujeitos. Dizia Pimenta que o problema das pressões não está em quem as exerce, mas apenas na forma como estas são encaradas por quem representa o poder público.
É uma constatação óbvia, lamentavelmente esquecida.
A pressão decorre da defesa dos interesses, pretensões e reinvindicações. Quando efectuada dentro da legalidade é legitima e até desejável.
Todavia, nestes dias perigosos de preparação de listas e de campanhas, os partidos estão a hipotecar, todos os dias, a capacidade de resistência às pressões.
Todos preparam campanhas carissímas em estilo “hollywoodesco” com profusão de bric-a-brac e propaganda vária. As elevadas verbas serão conseguidas junto de “organizações” que “apoiarão este esforço em prol da democracia” - acumulando créditos que, naturalmente, utilizarão no futuro.
No afã de garantir uma “onda” de apoio junto da “sociedade civil”, não vão regatear esforços para conseguir apoios junto dos clubes de futebol, sindicatos, ordens profissionais, associações de classe, e outras “entidades”, comprados com os inevitáveis “compromissos”.
A campanha eleitoral reeditará os tradicionais concursos de promessas em que tudo (talvez menos a lua) será garantido se, claro, a cruzinha for colocada no sitio certo.
No final, o vencedor carregará o peso das promessas e dos compromissos (acaso, os próprios representantes dos interesses) para dentro do poder público.
Entretanto, os chamados “agentes políticos”, de onde virão muitos dos futuros responsáveis, são profissionais da política, na sua maioria, sem curriculum fora desse mundo estranho de sinecuras e cargos de nomeação. Têm uma “carreira” que muito prezam e não a vão agora arriscar em nome desse vago “interesse colectivo” ou das exotéricas “reformas”.
Dificilmente conseguirão (ou quererão) resistir às pressões. Seria acabar com a sua base de sustentação.
Enquanto este estado de coisas não for invertido, receio bem que nada de verdadeiramente substancial será alterado.

 
OBRIGADO José Teófilo Duarte pelas palavras gentis.

2005-01-01

 

O MUNDO DO “PEDRO”

Quem tivesse o infortúnio de se encontrar frente ao televisor no final do ano, teria um bom e triste retrato do nosso país.
Ali estava, em todo o seu esplendor, o efémero plástico que tem ganho predominância na nossa sociedade com a projecção de criaturas desconhecidas que à força de “aparecer” são alcandoradas para esse mitico patamar dos “famosos”.
Aparecer na televisão, custe o que custar, eis o objectivo máximo desta gente.
Perguntar-se-á o que justifica a aparição, no pequeno ecrã, deste grupo de almas. Não são conhecidos por obra que tenham produzido, pensamento, estudo, acções, nada. Corporizam, tão-somente, a cultura do facilitismo. Histórias de “sucesso” imediato (e sem muitas canseiras), exibidas e observadas com a euforia própria de quem vê, assim, projectadas as suas próprias ambições.
Num país que devota tamanha atenção a programas como “big brother” ou a “quinta”, que ri com gosto do humor boçal dos “malucos do riso” ou dos “batanetes”, só admira que o fenómeno “Pedro” tenha demorado tanto tempo a alcançar o topo da hierarquia política.
Santana Lopes é fruto deste caldo, vem deste mundo, vive de “aparecer”. Aplica na política a fórmula de sucesso que resulta na criação dos “famosos”.
Vive do momento, do seu instinto, de aparecer. É um fenómeno “comunicacional” vazio de conteúdo.
Não se lhe conhece um pensamento, um projecto, uma linha de rumo, uma visão. Pouco importa.
Santana Lopes sabe que não necessita dessas minudências, basta-lhe apelar à “sua gente”, encenar com gosto uma novela “da vida real”, exercitar as suas capacidades histrionicas, tudo embalado num vago apelo à “defesa dos mais pobres” contra os “poderosos”, uma lágrima furtiva, aqui e ali, próprias de quem é vitima deste “combate” e sente a “injustiça”.
Ainda que não garanta a vitória do “Pedro” nas próximas eleições, muito provavelmente conferir-lhe-á uma votação suficiente para confirmar o “sucesso” da sua fórmula, projectando-o como incontornável presença numa qualquer eleição nacional.
A sua “base de apoio” vive fora da órbita dos partidos políticos, deslumbra-se com as luzes e com o “espectáculo”, acha-lhe graça, simpatiza com ele, vê-o com regularidade na TV trata-o como se fosse da familia, deseja (intimamente) que os seus filhos possam (um dia quem sabe) aparecer na televisão e ser como o nosso “Pedro”.
Não se julgue ver no “Pedro” um epifenómeno, ele foi um percursor e é apenas a face mais visível desta “tabloidização” onde cabem tantas outras figuras. Vários dos seus “clones” disputam já o quinhão ou estão a fazer o seu percurso pelas “jotas”, movidos pela ambição de ser “famoso” e “poderoso” no grande espectáculo em que a política se transformou.

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