2004-11-12

 

A QUALIDADE E OS MEIOS DE COMUNICAÇÂO SOCIAL

Entrevistado no Clube de Jornalistas no canal 2, Miguel Sousa Tavares referiu que hoje não haveria público para um programa como o "terça à noite", sublinhando que as televisões não fazem mais do que oferecer ao público aquilo que ele pretende. Sei que esta discussão é um terreno pantanoso recheado de ideias feitas. Contudo, recordo, com saudade, esse mesmo programa que MST apresentava com António Barreto e Pacheco Pereira, há cerca de 10 anos. Nessa altura, um canal de televisão - SIC - tentava impôr-se e ganhar audiências entendendo que o programa em questão poderia ser um trunfo nessa luta.
Francamente não acredito no súbito "embrutecimento" do público, parece-me, antes, que se optou pelo caminho mais fácil.
Os chamados programas de "telelixo" não fazem mais do que apelar à vertigem do grotesco e do voyeurismo. Trata-se, a meu ver, da convocação dos instintos primários, os mesmos, aliás, que levam a turba em correrias loucas para poder chegar rapidamente ao acidente, não movidos por um qualquer impulso de ajuda, mas somente pelo desejo mórbido de assistir à catástrofe ao vivo. Talvez pelo mesquinho sentido de segurança de que "aconteceu aos outros, não a mim".
A "tabloidização" dos telejornais e o telelixo têm o condão de gerar uma espiral, criando no concorrente a sensação de que tem de ser mais "espectacular", ainda mais ousado, numa corrida demencial, onde o directo assume um papel maior.
Lembro uma nota na revista "Grande Reportagem" há alguns anos, aí um jornalista denunciava a canalha atitude de um colega de uma TV que ante um acidente de viação grave que terá ocorrido na autoestrada do Sul não se cansava de repetir ao cameraman que estavam a colher imagens lindas!
O lado lunar do ser humano não nasceu hoje nem julgo que aumentou. Pensar que, de súbito, temos uma população de "vidiotas" pode consolar os espíritos de quem toma este caminho, ajuda-os a sentir-se como Pilatos, lavando as suas mãos, evitando assim a tarefa mais trabalhosa e a exigir mais capacidades de encontrar outro caminho.
Estamos a alimentar a fera, depois queixamo-nos que ela é indomável!

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