2004-12-08

 

A AUTO-MUTILAÇÃO DE UM PARTIDO

Todos os dias o PSD vai perdendo, inexoravelmente, o capital histórico que lhe deve ser creditado como partido com sentido de Estado. Como que movidos por uma mágoa envergonhada, os mais destacados membros do PSD reservaram-se ao silêncio ante o descalabro populista e demagógico promovido pelo seu líder.
Observar o desempenho de Santana Lopes é um exercício penoso e triste.
Santana é um daqueles casos evidentes de falta de “perfil” (forma elegante de dizer falta de capacidade). Ainda que o queira, não engana ninguém (à excepção, talvez, do seu ex-amigo Henrique Chaves), conhecemos-lhe as “manhas”, o vazio da argumentação, a vertiginosa vocação para o tele-lixo. Santana faz dos cargos onde está (quaisquer que sejam) uma adaptação doentia do momento em que foi mais feliz e verdadeiramente desempenhou o seu papel – o programa “a cadeira do poder”. Reveja-se o citado programa da SIC, para se compreender a verdadeira natureza do “Pedro”.
Se não há novidade nem surpresa nos cacos que deixa como rasto da sua acção, francamente já me parece menos óbvio que um partido como o PSD persista num autêntico “hara-kiri”.
Os mecanismos que garantem a apresentação desta estranha personagem à frente de um partido como o PSD nas próximas eleições merecerão, estou certo, uma cuidada análise. Este processo autofágico tem, entretanto, permitido a projecção das mais improváveis figuras, ou o destaque de criaturas que o decoro do partido tinha mantido, cautelosamente, limitadas a uma intervenção regional.
As “bases” sempre colocadas no altar da mais impoluta popular sapiência estão, as mais das vezes, a tratar da vidinha, aplaudindo e apoiando quem lhe garante uma pequena sinecura, um lugarzinho numa lista, um empregozinho, a ilusão do acesso ao poder.
Exibem o sorriso alarve e basbaque no exercício da palmadinha nas costas ao “Pedro”.
O sistema político português necessita de um partido social-democrata forte para que possa constituir uma alternativa disponível. Aquilo que vejo é a destruição inacreditável do PSD. Não sei como se recuperará tudo o que se perdeu e perderá, mas julgo ser necessário compreender as consequências do populismo que começa precisamente dentro dos próprios partidos.
O PSD sairá deste processo ferido. Nos próximos anos os futuros líderes não conseguirão ensaiar o discurso do partido com sentido de Estado sem ouvirem como resposta o exemplo destes meses que vivemos. O PSD comprou, alegremente, o instrumento com que se auto-mutilou.

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