2004-12-17

 

SANTANA MARKETING

No dia 19 de Julho escrevi um artigo de opinião no Jornal de Negócios, acerca da então recente nomeação de Santana Lopes para o cargo de primeiro-ministro a que atribuí o título Santana Marketing, e que reproduzo na íntegra:

O novo primeiro-ministro é muito dado às coisas da publicidade, seguindo a chamada escola brasileira. Conhecemos-lhe a sua propensão para os “placards” publicitários, o fenómeno da multiplicação das comunicações oficiais contraditórias (o Parque Mayer, já teve dois arquitectos internacionais designados, vários projectos e mantém-se rigorosamente na mesma), entre outras preciosidades.
Ocupemo-nos então, por ora, da vertente Marketing do dr. Santana. Imaginemos, por absurdo, que tudo isto se passava numa empresa, chamemos-lhe, por conveniência, Portugal SA.
A empresa vive momentos conturbados, o Conselho de Administração está ainda em estado de choque perante a saída do CEO que decidiu aceitar a proposta apresentada por uma multinacional. A pressa foi tanta que não cumpriu o prazo de pré-aviso, conseguindo, contudo, que o “chairman” da empresa sancionasse a aceitação de um substituto, homem muito amigo do anterior líder, e conhecido por “aparecer na televisão”.
De facto, o CEO substituto liderava uma empresa mais pequena – Lisboa, S.A. – dele se dizia “ter muito jeito para os reclames”, tínhamos, pois, especialista. Alguém terá lembrado, que o homem participou num concurso televisivo – A cadeira do Poder – que perdeu, mas onde “mostrou muita combatividade e convicção”.
Perante um facto consumado, e visivelmente contrariada, a Administração pediu ao novo CEO um Plano de Negócios para os próximos dois anos, tendo para o efeito estabelecido um prazo de um mês para a sua apresentação. Qual não foi a sua surpresa quando, ainda antes de tomar posse, o novo CEO se apressou a dar duas entrevistas nas televisões, falando de generalidades e apresentando aquilo que parecia ser uma ideia-chave (e única): a mudança de alguns departamentos da empresa para outras regiões do País “estaremos assim mais perto dos nossos consumidores” terá dito.
Convocado, de urgência, o Conselho de Administração procurou saber melhor o alcance da medida. Choveram perguntas: “quanto vai custar?”, “Estudou as diversas alternativas e todas as implicações da medida?”, “É possível pô-la em prática?”, “Qual o público-alvo”, “É fruto de algum estudo que tenha revelado um desejo forte dos consumidores?”. O homem ouvia todas as perguntas com um sorriso de desdém, até que, finalmente, decidiu explicar: “É evidente que não iremos pôr em prática tal medida, em bom rigor, foi uma ideia que me ocorreu quando passeava à beira rio, pareceu-me formidável já que desta forma temos toda a comunicação social a falar deste projecto. Pelas minhas contas a coisa durará mais uma semana. Quando estiver a esmorecer tenho já preparada uma outra que promete durar bastante mais e manter ocupados os media: vamos mudar o nome da empresa, para Portugal/Portucalense, S.A., damos assim motivo de interesse aos accionistas, ouviremos as suas opiniões, podemos até criar um concurso de ideias para o novo nome da empresa e, entretanto, conseguimos trazer cá para dentro uma rapaziada amiga, que isto, já se sabe, a vida está difícil”
Perplexos, os administradores ainda perguntaram “mas então e o Plano de Negócios? O que pretende, afinal, fazer nos próximos 2 anos? Não tem consciência da situação difícil da empresa?”
O novo CEO, arrumando os papeis na pasta que tinha acabado de comprar numa loja muito da sua preferência da Av. Liberdade, ainda teve tempo de dizer “mas que Plano de Negócios? Isto é o meu Marketing, senhores” e apressado abandonou a sala deixando para trás um Conselho de Administração com nó na garganta, incapaz de deixar de pensar no futuro que, subitamente, se apresentava ainda mais negro. Consta que terá havido um dos membros do Conselho, que ainda se beliscou: não acreditava que fosse verdade, era mau de mais!
Qualquer relação entre esta história e a realidade é, claro, pura coincidência…

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