2005-01-12

 

MARKETING POLÍTICO (II)


Adoro Portugal porque é um país de irrealidade política (André Malraux)

A diferença entre marketing político e marketing eleitoral não é pequena. O primeiro tem uma orientação estratégica, a sua acção deverá permitir que os valores, projectos e visão da sociedade de um partido seja comunicada com eficácia. Já o marketing eleitoral centra-se, quase obsessivamente, nas tácticas eleitorais. O primeiro não deveria ser subjugado pelo segundo. Receio que não seja assim.
A pouco mais de um mês das eleições legislativas, os programas de governo dos principais partidos não são conhecidos, e no entanto, a campanha já “está na rua”...

Centremo-nos, por hoje, na fulanização.

OS CHEFES
As próximas eleições destinam-se a eleger os 230 deputados da Nação, quem acompanhe a comunicação dos partidos parecer-lhe-á inverosímil. Os partidos foram quase exclusivamente transformados no local de culto do grande chefe, apagando-se na luz radiante da personalidade que os dirige. Mesmo a CDU cedeu à sua tentaçao (vale a pena lêr este texto de Carlos Manuel Castro no blogue Tugir).
Uma visita rápida aos sitios da internet dos principais partidos é reveladora. No sitio do PS é esta a imagem permanente no cabeçalho:

No sitio do PSD a situação é a mesma, com este cabeçalho:

.

Em ambos os sitios é possível ler em detalhe os curricula dos líder, mas quase impossivel conhecer outros elementos do partido.
Na campanha, os cartazes (e toda a parafernália de campanha) ostentarão o perfil sorridente do “chefe”.
Os líderes carregam, assim, o peso de todo o partido, tornam-se a sua face visível. Praticam a arte dos tempos que correm: aparecer. Assim é, aparecem, “dão a cara”, encarregam-se de garantir visibilidade, mesmo se à custa de repetição de frases feitas, de belo efeito e poucas ideias.
A ditadura da imagem aconselha a escolha de candidatos “telegénicos” que criem empatia com o eleitorado, gente de fácil contacto, caução de emoção a rodos.
Chefes que garantem na sua condição de “campeões de campanha” o lugar cimeiro do partido a quem é confiada a responsabilidade maior de “ganhar eleições”. Eis no que se estão a transformar os partidos: máquinas de eleições com um comandante ao leme.
Acontece que um “campeão de campanhas” não faz necessáriamente um bom Estadista.


Comentários:
E, assim, de campanha em campanha, se vai impondo a nova forma de as (des)fazer - limitam-se a apresentar um chefe, uma dúzia de personalidades capazes de responder pela 'navegação à vista' e o resto não passa de massa de enchimento.
Pensar em mudar o sistema eleitoral, para obter maiorias, sem mudar esta atitude 'puzzleana' de compor listas, é abrir caminho a mais massa de enchimento, a mais mediocridade. Eu não quero desesperar, mas os indícios não são nada animadores.
 
Caro Luís,

De facto, assim tem acontecido. Um partido um rosto. Nada mais do que isto e, como bem refere, são eleitos 230. Aos quais devemos acrescentar, no caso do partido que vier formar Governo, os seus deputados colocados nas zonas cinzentas, isto é, na fronteira entre o eleito e não eleito, 'instalam-se' em São Bento subsitituindo os deputados, os ainda conhecidos, que saltam para o Governo.
Este outro dos pequenos, mas grandes pormenores. Quem são as outras e outras para além dos líderes?
Por isso, e em certa parte, é que não sabemos quem são os deputados do círculo eleitoral em que votamos.
Assunto a merecer, certamente, mais abordagem.
 
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