2005-03-04

 

JOGOS DE SOMBRAS

Numa semana política marcada pelas esperas e incertezas, um nome ganhou destaque: António Vitorino. A desusada atenção que lhe foi devotada não é, obviamente, inocente.
A criação de uma novela em torno do seu futuro político (vai, não vai para o governo) pretende fazer passar a ideia de que um executivo sem a sua presença estará diminuido, por outro lado, tenta-se desvalorizar Sócrates.
Esta quinta-feira a revista Visão entendeu traçar um “perfil” de António Vitorino, não é preciso muito esforço para ler as entrelinhas (não é sequer um texto “sofisticado”). Ali se repete à exaustão as habilitações académicas de Vitorino. Por lá se deixa a ideia de que será um bom nome para Presidente da República, explica-se que poderá constituir uma excelente escolha para tudo, menos para ... ministro!
É, evidentemente, uma estratégia primária.
Vitorino é um homem com valor, a sua presença no governo será uma mais-valia, mas não mais do que isso. Mal estaria o País, mal estaria o Partido Socialista, se tudo girasse em torno de um só homem.
Anda muita inquietação no ar. Percebe-se um certo espirito de orfandade por parte de muitos jornais habituados a constituirem-se eles próprios como centro da acção política. Quem leia a imprensa desta semana percebe perfeitamente que ninguém faz a mais pequena ideia de quem serão os próximos ministros, qual sua estrutura do próximo governo. São, por esse motivo, demasiado óbvios estes jogos de sombras.

Uma observação em torno do “perfil” de Vitorino que a Revista Visão publica hoje: O texto é de uma pobreza franciscana, o português sofre ali tratos de polé, atente-se neste parágrafo: “Eu sou um homem pequeno e dou pequenos passos em frente’ Assim se afirma António Manuel de Carvalho Ferreira Vitorino, 48 anos, lisboeta, filho de uma professora de francês e de um bancário, casado com uma médica, três filhos, irmão de um professor de Matemática Aplicada, a uma das mais prestigiadas revistas internacionais, a Economist” (sic) p.34. Leio este parágrafo e não consigo deixar de me recordar de uma entrevista dada por José Craveirinha ao Público aqui há alguns anos quando, a dado passo, referiu: “a lingua portuguesa é um milagre”! Assim é.

Comentários:
António Vitorino não é indispensável, mas é (ou seria) muito útil num governo socialista. No caso de Vitorino se mostrar indisponível para servir o país e pagar a “conta” ao seu partido, o próprio PS ajustará contas com ele muito em breve. Não é impunemente que se colocam os interesses pessoais à frente dos interesses colectivos. Quanto ao milagre da língua… com pontapés desses é, de facto, um milagre ela ainda existir.
 
Razão tinha o Craveirinha, ao fazer a afirmação que fez, porque é quase um milagre conseguir destrinçar quem é quem e o quê, na descrição que é feita do António Vitorino...
Abraço.
DespenteadaMental
 
Convenhamos que, para quem tem por hábito condicionar as opções, não será muito fácil gerir estes silêncios.Quanto a António Vitorino, já agora, esperemos para ver!
 
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