2005-03-21

 

OS ARTISTAS

Tomado pela necessidade de cumprimento de prazos apertados (a impedir textos mais regulares aqui no Abnegado), perdido no mar de papelada em caos (aparentemente) organizado, tento retomar o fio à meada da informação caseira. Munido do sempre útil comando do televisor, lá procuro os serviços noticiosos que me levem pela mão, na visita às noticias. Retenho a apresentação do Programa de Governo no parlamento.
Lá está a bancada do PP devidamente decorada com rapaziada avulsa. Momentos únicos a fazer inveja à comunidade circense.
Portas fazendo uma perninha no parlamento enquanto não é chamado, pelo intercomunicador do mundo, para os voos planetários anunciados, com indisfarçável orgulho, pelos miúdos seguidores do líder. Haverá de chegar a senhora do departamento administrativo do mundo à sua repartição, estará pronta para a convocatória, ligará o microfone cósmico e chamará com voz fanhosa: “senhor Portas à repartição dos génios, favor entrar pela secção Burkina Faso”.
Portas ainda não sabe, não pode saber, que a diferença do fuso horário garante que a senhora (a da voz fanhosa) se encontre ainda entregue aos braços de Morfeu (a falta de tempo não permitiu confirmar se um qualquer garboso Morfeu se o outro, o pequeno deus helénico). Adiante, que esta conversa de cama pode bem despertar a atenção do senhor João das Neves e sabemos que o homem é capaz de entrar por aqui dentro, fazer um estardalhaço, acusar-nos de estarmos a promover o consolo privado de uns quantos púberes que possam achar a referência estimulante, o homem é bem capaz de nos partir a loiça, levantar a voz, gritar que “isto é uma pouca vergonha, ao que isto chegou” e aqui a coisa azeda que a falta de sono a mim provoca-me uma sensibilidade aguda aos sons mais estridentes. Façamos pois as coisas com mais vagar para não despertar demónios (os outros, senhor João das Neves, pela sua saúde não me entre pelo blogue dentro).
Portas, diziamos, ali esteve a usar da palavra e o termo aplica-se bem por que usar (mal) foi exactamente o que fez. Era pouco, o PP precisava de mais, mais grotesto, para garantir um outro momento de antena. Foi a vez de Telmo (ainda agarrado à sua correia), solta uma graçola, dizendo qualquer coisa parecida com “centro-direita” olhando o ministro dos Negócios Estrangeiros (alguém ouviu falar do complexo de Édipo?), nas suas costas uma criatura juvenil soltava uma daquelas gargalhadas próprias do mais requintado bas-fond, do mais elegante cabaré, da mais fina casa de alterne. Um regalo!
A noite não estaria completa se não tomasse a palavra um obscuro indivíduo que (compreensivelmente) avisou que tinha sido secretário de estado, repetindo o anúncio para que não restassem dúvidas. Pois o bom do Freitas (o ex-secretário de estado) achou que poderia contar uma graça. Balbuciou um chiste, recebido, em gélido silêncio, pela câmara, esperando a conclusão da piada que aparentemente já tinha sido terminada.
No final terão todos sido recebidos pelo grande líder (perdão que o homem já se demitiu e o rigor obriga a que o deixemos claro, fique então escrito: o ex-grande líder), pois lá está ele recebendo, de braços abertos, esta equipa de aprendizes de feiticeiros da galhofa, exclamando carinhosamente: “assim se vê a força do PP”.

E agora lá regresso para a companhia das variáveis independentes e dependentes dos “construtos”, da papelada que há-de resultar em qualquer coisa palpável para o conhecimento do mundo...

Comentários:
Caríssimo
É notável a forma como transmite um estado de espírito que só não entende quem teve a felicidade de não ver o comportamente daquela bancada!
Um abraço
 
Muito bem, conseguiste transformar uma sessão parlamentar que foi um monumental aborrecimento, pontuado pelas patetices da bancada, do PP num momento de humor.
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
O desempenho dos intervenientes da bancada do Partido Popular na AR, especialmente Paulo Portas e Telmo Correia foram de uma tristeza constrangedora, fica-nos este excelente texto humorístico sobre a intervenção dessas sinistras figuras.
Parbéns e um abraço.
 
Luís,
Votos de uns dias tranquilos e com mais tempo para a escrita.
Boa Páscoa e melhores notícias.
Abraço.
 
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