2005-06-28
UM ARTISTA PORTUGUÊS
Por estes dias, os jornais contam a extraordinária façanha do senhor Daniel M’Mburugu, um queniano com a provecta idade de 73 anos. Homem pouco dado a subtilezas, sentindo a presença ameaçadora do leopardo no seu reduto, enfureceu-se, fitou o felino e terá pensado “tu queres ver que temos brincadeira?”. A coisa estragou-se, engalfinharam-se e Daniel lançando-se à boca do leopardo com as próprias mãos, arrancou-lhe a lingua e a vida. Naquelas bandas o ancião é agora, muito justamente, considerado um herói e terá recebido um reconfortante e oportuno tratamento hospitalar gratuito – gentil oferta das autoridades quenianas.
Registe-se a proeza, reconheça-se a coragem, tire-se o chapéu.
Valerá a pena que o façamos, pois que entretanto, as televisões portuguesas exibiram as edificantes imagens de Santana Lopes e comitiva, anunciando (no próprio local) a abertura do cruzamento da rua Artilharia Um com a avenida Joaquim António de Aguiar.
Ali estava o edil, acompanhado pelas câmaras, pelos microfones. Eis que chega o momento da valentia. Empertigado, pontapeia um separador, confrontando (irado) um assessor: “não tinha dado ordem para tirar esta porcaria na sexta-feira?”, num crescendo de fúria, os braços que apontavam um monte de entulho, o comentário para o vazio “olha que bela fotografia” o andar desordenado, em círculos, as mãos balançando soltas, o olhar perdido, a expressão carregada numa explosão de fúria, o dedo que se estica, que alcança os trabalhadores atónitos, que o ouvem ameaçar: "têm 1 hora para tirar isto daqui”, em admoestação agastada, não concluindo sem a confirmação interrogativa “ouviram?”.
O Presidente, assanhado, em luta com uma fera imaginária defronte das câmaras. O Presidente, colérico, puxando pela lingua, não a da fera, a sua própria lingua, em batalhas consigo próprio. O Presidente, furibundo, satisfeito com mais um número.
Registe-se a proeza, reconheça-se a coragem, tire-se o chapéu.
Valerá a pena que o façamos, pois que entretanto, as televisões portuguesas exibiram as edificantes imagens de Santana Lopes e comitiva, anunciando (no próprio local) a abertura do cruzamento da rua Artilharia Um com a avenida Joaquim António de Aguiar.
Ali estava o edil, acompanhado pelas câmaras, pelos microfones. Eis que chega o momento da valentia. Empertigado, pontapeia um separador, confrontando (irado) um assessor: “não tinha dado ordem para tirar esta porcaria na sexta-feira?”, num crescendo de fúria, os braços que apontavam um monte de entulho, o comentário para o vazio “olha que bela fotografia” o andar desordenado, em círculos, as mãos balançando soltas, o olhar perdido, a expressão carregada numa explosão de fúria, o dedo que se estica, que alcança os trabalhadores atónitos, que o ouvem ameaçar: "têm 1 hora para tirar isto daqui”, em admoestação agastada, não concluindo sem a confirmação interrogativa “ouviram?”.
O Presidente, assanhado, em luta com uma fera imaginária defronte das câmaras. O Presidente, colérico, puxando pela lingua, não a da fera, a sua própria lingua, em batalhas consigo próprio. O Presidente, furibundo, satisfeito com mais um número.
Enquanto o bravo queniano dorme o sono dos justos, dos heróis, o Presidente entra no carro, provavelmente comentando para o assessor “estive bem, não estive?” ouvindo a resposta mole, pegajosa: “um valente!"
Comentários:
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Pois cada vez mais se confunde autoridade com autoritarísmo, uma conquistasse a outra exercesse.
Já agora o nosso amigo Medina Carreira afirma que em 1960 o estado gastava 14,5% da receita, hoje gasta 45%. Afirma também que por mais que apertem, virem ao contrário, vamos chegar a 2009 sem recuperação económica ou coisa que o valha.
Com um pouco de jeito ainda vamos encontrar um iluminado algures para resolver a situação, da mesma forma que foram descobrir Salazar. Sinceramente cada vez mais acho que este é um País em que os chefes seja do que for são tudo menos lideres. O Santana vive da imagem que criou e que vai definhando.
O monólogo já vai longo ...voltarei.
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Já agora o nosso amigo Medina Carreira afirma que em 1960 o estado gastava 14,5% da receita, hoje gasta 45%. Afirma também que por mais que apertem, virem ao contrário, vamos chegar a 2009 sem recuperação económica ou coisa que o valha.
Com um pouco de jeito ainda vamos encontrar um iluminado algures para resolver a situação, da mesma forma que foram descobrir Salazar. Sinceramente cada vez mais acho que este é um País em que os chefes seja do que for são tudo menos lideres. O Santana vive da imagem que criou e que vai definhando.
O monólogo já vai longo ...voltarei.
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