2005-08-28
NAÇÃO INSEGURA
Desde tempos imemoriais Portugal manifesta uma inaudita insegurança em si próprio. A “imagem” que os estrangeiros possam ter da nação ganha foros de ânsia doentia. Na expectativa de um comentário positivo, desfazemo-nos em desvelos raiando a subserviência, tudo se justifica por um elogio externo, pequeno e insignificante que seja.
À conta desta patologia, motivou-se o país em torno de loucuras, em torno de investimentos muito para além das nossas capacidades. Sem excepção ecoa a ladainha em forma de justificação suprema para todos estes desmandos: “melhorar a imagem de Portugal no estrangeiro”.
Na ressaca de cada “grande evento”, de cada “investimento espectacular”, mantém-se a roda-viva para insuflar entusiasmo nos indígenas, seja na forma de extraordinário aeroporto (talvez o melhor da Europa), seja linhas de comboios de alta velocidade, seja mesmo (deixem-nos sonhar) a realização dos jogos olímpicos. Tudo parece ser justificado se houver a certeza de captar o interesse (quem sabe a inveja) dos estrangeiros.
Neste colectivo esforço insano consomem-se recursos escassos e preciosos, olvida-se a construção ou reforço dos mais elementares alicerces de uma sociedade.
Vivendo em permanente ilusão, somos periodicamente chamados à dura realidade quando confrontados com a nossa infeliz pequenez, com os resultados do esbanjamento, da incompetência, com a infinita carência do essencial. Desgraçadamente, acabamos por ter de engolir em seco ao ler artigos como este e ver o que os outros verdadeiramente pensam de nós (infelizmente com razão).
É bom que tenhamos tudo isto bem presente nas próximas eleições ou quando ouvirmos algum responsável político convocando-nos para uma qualquer façanha para “levantar o moral” ou melhorar a nossa imagem "lá fora".