2005-09-04

 

A PONTA DO ICEBERG

Recentemente a ONU publicou o relatório “A Situação Social Mundial 2005”, constituindo um retrato tenebroso, patenteando o fosso que se vai cavando, paulatinamente, entre os mais ricos e os mais pobres.
Não se trata sequer de olhar para um Norte desafogado usufruindo os confortos próprios de países ricos em contraponto ao Sul pobre onde se localizam os países carecidos.
A diferença crescente, referida no relatório da ONU, encontramo-la todos os dias nas nações mais desenvolvidas. Encontramo-la nos incêndios de Paris, em Nova Orleães, ali mesmo na esquina do nosso bairro.
Na capital francesa, por detrás das belas fachadas, escondem-se tragédias humanas, escondem-se condições de vida inaceitáveis em qualquer parte do mundo. Alguns dos incêndios que têm tragicamente assolado Paris, atingem comunidades de imigrantes pobres a raiar a indigência, ocupando os espaços que uma burguesia endinheirada abandonou, deslocando-se para áreas mais confortáveis nas cercanias da grande cidade.
Nos Estados Unidos, a mesma tragédia. Em Nova Orleães, apenas os desprotegidos pela sorte ficaram para trás, na impossibilidade da fuga, na falta de recursos. Os dramas humanos que se desenvolvem ante os nossos estupefactos olhos não acontecem num remoto país da Ásia ou África, mas numa das mais importantes cidades do centro do Mundo. Não cabe aqui questionarmo-nos se teria sido diferente a reacção acaso fossem outros os protagonistas da tragédia, mas antes observar a estranha e persistente convivência, nas sociedades modernas e mais desenvolvidas, com este fosso social como se fora inevitável, como se fora aceitável. Não é, não pode ser.
Numa sociedade que vai esquecendo os valores da solidariedade e da protecção dos mais desfavorecidos, numa sociedade que celebra os valores materiais como máxima realização pessoal, numa sociedade que promove o hedonismo de uma forma doentia, não admira que se vá criando um fosso tão profundo entre “uns” e os “outros”.
Não é necessário ser particularmente brilhante para compreender que este tipo de sociedade engendra a sua própria destruição. Em Nova Orleães e Paris, aqui e ali, assistimos apenas ao aparecimento "competitivo" do topo de um imenso iceberg.

Comentários:
A passos largos. Para onde caminha não sei muito bem, mas sei que é a passos largos que esta sociedade caminha.
 
Uma análise correcta e pertinente de um problema que não pode ser mais calado e urge denunciar.
 
Uma análise correcta e pertinente de um problema que não pode ser mais calado e urge denunciar.É uma bomba-relógio prestes a explodir e cuja responsabilidade é inequivocamente do egoísmo dos poderosos deste mundo.
 
Pois pois é mas nada disto é mt surpreendente pois não? estava-se mesmo a ver a sentir a ler que iria acontecer...e o mais grave vem aí,a total desagregação/degradação dos valores éticos e morais, a total ausência de bom senso e sobretudo de humildade, sem que isto queira dizer comiseração....caminhamos serena e inabilmente para o "maquinismo"....merecemos? talvez...uns mais que outros, mas todos acabamos por ser responsáveis...boa tarde. enquanto é dia.
 
"As desigualdades entre países e dentro dos mesmos têm acompanhado a globalização"

consta do documento e talavez seja uma explicação...
 
O terceiro mundo, ou o quarto, como se queira, está dentro das nossas fronteiras. Só não vê quem não quer.
 
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