2005-10-23

 

A COR DO DINHEIRO

A direita norte-americana tem no canal televisivo Fox News o seu poiso habitual. Naquela estação, os distintos conservadores encontram o descanso das notícias “correctas”, devidamente enquadradas com os seus interesses. O canal exibe uma ideia de mundo a preto e branco, pautando-se pelo maniqueísmo, dividindo o planeta entre os bons e os mafarricos "esquerdistas". Coisa para confortar espíritos habituados a estranhas formatações.
A máquina funciona na perfeição e permite ao seu proprietário, o senhor Rupert Murdoch, amealhar simpáticos lucros no final de cada ano fiscal.
Esta comprovada fórmula de sucesso admite diversas adaptações em nome de valores maiores, conforme se pode ler na reveladora estória contada no recente livro de James McGregor (One billion customers: lessons from the front lines of doing business in China). Ali, é relatado o percalço do senhor Murdoch que, entusiasmado, disse num discurso: “os avanços nas tecnologias de comunicação provaram ser uma forte ameaça aos regimes totalitários”. Sucede que Rupert Murdoch tinha adquirido uma estação televisiva em Hong Kong (Star TV) que emitia para toda a China. Os chineses, não gostaram das palavras do empresário australiano (vá-se lá saber por que razão...) e decretaram, em retaliação, a proibição da posse privada de antenas satélite. Murdoch iniciou, então, um longo calvário pelos corredores do poder chinês, procurando, sem sucesso, inverter a decisão (ruinosa para o seu investimento). Quatro anos depois, o presidente chinês, Jiang Zemin, tinha prevista uma visita oficial aos Estados Unidos, não sendo desagradável garantir uma cobertura mediática “correcta”. Eis, pois, a solução encontrada: Murdoch garantia, na Fox News, a providencial “correcção” das noticias, em contrapartida, era anulada a proibição relativamente à posse de antenas para captar sinal de satélite.
Evidentemente, tudo correu pelo melhor nesse longínquo ano de 1998. As autoridades comunistas e o empresário de “direita” entenderam-se lindamente. Estivesse por perto o senhor James Carvile para esclarecer: “it’s the economics, stupid”. Elementar.

Comentários:
Tudo tem um preço. Tudo se compra, tudo se vende.
 
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