2005-10-07

 

DA INDECISÃO

A poucos dias de eleições repetem-se as costumadas sondagens. Numas, a certeza da vitória, noutras talvez o empate, noutras ainda, a derrota. Resultados para todos os gostos, sondagens que “valem o que valem”, e que, inevitavelmente, serão confirmadas (ou não) no domingo. Nada de novo.
Todavia, em todas um dado coincidente, repetido: o desusado número de “indecisos”, prenúncio de abstenção em barda.
Observar tal desproporcionalidade nas eleições onde o poder se “exerce mais próximo das populações” deveria fazer-nos pensar sobre que Portugal democrático estamos a criar.
Aos poucos, uma parte considerável da população portuguesa aparenta afastar-se do fenómeno político, deixando o terreno livre para os demagogos e toda a espécie de finórios populistas. Estes “espécimes” conseguirão sempre arregimentar uma corte de fieis seguidores à custa de diatribes, promessas indescritíveis, convictas criações de “números”, abraços e palmadas nas costas. Terão o caminho aberto para o assalto ao poder, que usufruirão com inegável rapacidade. Demonstrarão a “fórmula de sucesso” estabelecendo um padrão que será repetido à exaustão.
Os Avelinos, as Fátimas, os Loureiros, encontram-se em processo de criação, em esforçada reprodução. Por cada abstenção, por cada desistência, contribuiremos para o caldo criativo de hediondas criaturas, "clones" perfeitos dos repugnantes originais.
Sair, ainda que em sinal de protesto, equivale a deixar entrar uma turba que se estabelecerá inabalavelmente no poder, minando as bases do nosso sistema representativo.
Triste, desgraçadamente triste, é saber tudo isto, olhar pela enésima vez, para os folhetos eleitorais com os sorridentes candidatos, engolir em seco ante a miserável opção e perceber fazer parte dessa maioria anónima de desiludidos que se esconde na desconfortável “indecisão”. Pertencer, afinal, ao grupo dos que não conseguem inventar uma razão para não desanimar.

Comentários:
Na minha opinião, as taxas de abstenção e as muitas das opções do eleitorado mostram que por muito má que seja a chamada classe política, a classe "eleitorado" é bem pior.
 
E, caro Luís Sequeira, quão doloroso é não conseguir "inventar uma razão para não desanimar"!
Mas vamos ter que a encontrar, que este País tem quase 900 anos de História!!!!
 
Há determinadas autarquias onde não deve haver espaço para indecisões.
A sua última frase é tão pertinente quanto bela.
 
Cada vez me parece mais difícil cumprir o dito dever cívico. Apetece dizer : «Ai que prazer não cumprir um dever....» como ditou a mente algo perversa, quanto superior, do nosso inesquecível Fernando.
Bom fim-de-semana e coragem...
 
Parece que ser-se arguido é um forte handycap...
 
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