2005-10-28

 

SONHOS E PESADELOS

Cavaco Silva foi ao Porto anunciar o seu manifesto. Ante uma plateia embevecida, resumiu, numa promessa, o conteúdo da sua longa comunicação: se for eleito cooperará com os Governos (todos os Governos) “no estrito respeito pelas funções presidenciais definidas pela Constituição”. Apesar de óbvia (não poderia, seguramente, anunciar outros intentos que não estes) fica-lhe bem esta definição.
Contudo, para além da formulação teórica, sobram os reveladores desejos do candidato esboçando as suas verdadeiras intenções. Na interpretação do que considera o seu “sonho”, Cavaco pretende um “Portugal maior”, angustia-se com a falta de competitividade do país e deseja ter uma “intervenção activa” na inversão deste indigente percurso. Não é difícil imaginar o que entenderá por “intervenção activa”, nem tão-pouco quais os seus resultados.
Cavaco Silva sente saudades dos tempos em que foi primeiro-ministro quando (são suas as palavras) “nos aproximámos de Espanha”, deixando no ar a sensação de que depois de si foi o diluvio. Esquece, evidentemente, que o “dilúvio” nunca verdadeiramente deixou de existir, manifestando-se com clareza durante o seu consulado.
O passado constituirá, de resto, a marca desta candidatura. Cavaco será incensado como "o grande primeiro-ministro", recordar-se-á um tempo purificado, descrito como se um mar de rosas, desfilando obras muitas, realizações várias, imagem de dinamismo e execução. Depoimentos emocionados lembrarão a sua “competência” e “capacidade de realização”, saudando o seu regresso salvador. Muitos abraçarão entusiasticamente a sua candidatura como uma oportunidade de correcção das eleições legislativas do passado dia 20 Fevereiro.
Não é estranho, portanto, que Cavaco Silva tenha apresentado uma espécie de programa de Governo alternativo. A coberto de um putativo respeito pelo cumprimento das “funções presidenciais definidas pela Constituição” encarregou-se de enunciar intenções executivas apelidando-as (eufemisticamente) de “sonhos”. Acontece apenas que estes “sonhos” (a sua aplicação) transformar-se-iam, seguramente, no nosso pesadelo colectivo.

Comentários:
É uma descarada batota!
A isso eu chamo publicidade enganosa!!!
 
Será, sem dúvida, um factor de instabilidade para qualquer governo...
É um homem que se julga predestinado!
 
Até tremo só de pensar na sua eleição, que quase parece inevitável. O tal senhor fala como se tivesse a candidatar-se às legislativas. Pior são todos aqueles que não sabem ou não se lembram que ele é sim o Pai do buraco que temos nas nossas finanças.
Enfim...

Soniamb
 
Dizer que Cavaco Silva é o pai do buraco das finanças é não perceber mesmo nada de Economia nem de Finanças.
São os que dizem essas barbaridades que compram o carro, o plasma, e a consola a prestações, para descobrir que no final do mês não há dinheiro para pagar.
Cavaco não foi um primeiro ministro perfeito, mas o seu erro foi não ter ido suficientemente longe. Foi ter cedido demasiado a sindicatos e outros que tais, achando que os aumentos iam estimular a produtividade. Mas o trabalhador médio português consegue fazer sempre pior do que o esperado.
 
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