2005-11-20

 

O FUTEBOL, O PAÍS

Em Portugal o futebol não é apenas um desporto: no futebol projectam-se as nossas misérias e grandezas, constituindo um espelho reflector do que somos como povo.
Observando a falência assumida pelo clube de futebol Farense (na sequência de idêntico desenlace no Académico de Viseu), observando as dificuldades reconhecidas por diversos clubes, percebe-se que se esgota um modelo de existência suportado numa acumulação demencial de gastos espampanantes. Traduzindo numa frase crua: os clubes têm vivido muito acima das suas capacidades.
Este processo parece ainda estar no seu inicio, perspectivando-se uma comoção generalizada ante o incontornável desaparecimento de outras agremiações com “décadas de história”.
Todavia, o que surpreende neste fenómeno não é tanto a sua emergência, nem tão-pouco a sua dimensão - o que verdadeiramente espanta é ter-se persistido energicamente num caminho que se sabia conduzir à catástrofe. Elegeram-se direcções populistas especializadas em diatribes boçais e estéreis, suportadas por promessas delirantes (apoiadas entusiasticamente pelos sócios). Em nome da “imagem” e “dignidade” do clube, congeminaram-se as mais ruinosas decisões dando-se curso doentio à má gestão. Em nome da “imagem” e “dignidade” do clube, uns quantos aproveitaram a sua “dedicação” para alargar generosamente o seu pecúlio particular.
Todos os sintomas do descalabro desfilavam (desfilam) persistentemente e não provocam estremecimento, não implicam uma alteração: mantém-se animadamente a rota funesta.
A ninguém parece ocorrer a necessidade de mudar, vale tudo pelo imediato: fazemos da máxima “primeiro os cómodos, depois logo se pensará (vagamente) nos incómodos” uma espécie de filosofia de vida.
Ali, no futebol, estamos nós, está o reflexo do país que somos.
Talvez seja genética esta nossa condição: as dificuldades esgotam-nos, deprimem-nos; necessitamos permanentemente de ânimo, de alimentar o nosso ego colectivo com grandezas aparentes, esgotar numa festa (que julgamos interminável) as nossas energias, os nossos recursos.
Perante a inevitável desgraça, perante a fatalidade, chegará o tempo das recriminações; chegará o tempo de exigir o apoio “deles” - quer “eles” sejam o Estado, a União Europeia, o Mundo.
Sucede, contudo, que não temos mais fiador, estamos por nossa conta.
Na ausência de soluções, incapazes de nos confrontarmos com a realidade, procuraremos desalentados e submissos, um qualquer “salvador”: erigir-se-á alguém a essa condição mirifica, crer-se-á nas suas capacidades inauditas, acreditar-se-á, com fé, cegamente, no impossível.
À custa deste vício estamos como estamos, viemos donde viemos, mas, perigosamente, parece que ainda não aprendemos.

Comentários:
Há muito que o Futebol se transviou, deixando de ser apenas um Desporto, para passar a ser, sobretudo, um negócio e dos mais confusos e torpes que por aí grassam.Se a «normalidade administrativa e fiscal» aqui funcionar, a situação tornar-se-á brevemente insustentável.Se não, acabará sem adeptos, quando estes se recusarem a alimentar o grande logro em que ele se transformou.
 
Faço minhas as palavras de António Viriato.
Só temo (tremo) que alguém do poder caia na tentação de acudir aos aflitos com subsídios pagos com os nossos impostos.

Por mim, faço o que posso: quando aparecem nas TV's "bola", notícias da "bola" ou conversas da "bola", mudo, sempre, de canal.
 
Vários casos têm surgido neste jogo de "chuto na bola" areia para os olhos. Desde que os clubes começaram a ter um tratamento diferente para regularizarem a sua situação às Finanças e à Segurança Social e mesmo assim tudo voltou ao mesmo que o descrédito reina no "pontapé na bola".
Boa semana.
 
subadiving, é melhor q footbal!!!!
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?