2005-11-15

 

O MITO COM PÉS DE BARRO

Nestes últimos tempos, perante os nossos estupefactos olhos, foi sendo desenvolvida uma curiosa e inverosímil candidatura do impossível. Sem que se ousasse sequer questionar, um homem surgia como o redentor dos males portugueses, como se dominasse uma qualquer varinha de condão.
Acontece porém, que a estratégia esqueceu um pormenor, significativo: o próprio candidato.
Embalado pela vertigem do seu ego, embalado pelo canto de sereia dos seus apoiantes, Cavaco Silva surgiu, ontem, no pequeno ecrã. Vinha preparado para se glorificar, explicar que é “um homem de palavra”, vender a fantasia de que a sua imagem (que o próprio considera de rigor e autoridade) valeria uma eleição.
Sucede que uma entrevista não é um tempo de antena. Confrontado com questões prementes e óbvias, Cavaco Silva não foi capaz de ir além de vacuidades e fugas inexplicáveis à formulação de opiniões.
Falou do passado, do seu passado, vangloriou-se, foi incapaz de projectar o futuro para além de si próprio.
A entrevista terminou com um momento revelador: ignorando que a realidade não corresponde à ilusão que criou, pareceu genuinamente estupefacto quando a jornalista lhe lembrou os seus ataques contundentes a Jorge Sampaio há dez anos - semelhantes, de resto, aos comentários que hoje considera ataques pessoais – Cavaco ainda ensaiou uma negação, uma dúvida, refugiando-se num arrazoado incompreensível, falando do “mundo” e das mudanças ocorridas numa década.
Pouco sobrou desta entrevista, para além da leveza e fragilidade. Ainda que involuntariamente, Cavaco Silva demonstrou que o mito tem, afinal, … pés de barro!

Comentários:
Aquele final de entrevista...
"Sabe...em dez anos...o Mundo mudou muito..."
 
A minha reacção pessoal à entrevista não anda longe do que aqui é exposto. Mas acho que serviu os objectivos do candidato, que atingiu o seu público-alvo. Não afastou ninguém e cimentou a opção de quem já se decidiu por ele.
 
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