2005-11-18

 

OS "ACESSORES"

Ontem, pela noitinha, o telejornal da SIC noticiou o sorteio da taça futebolística, apresentando as comoventes (e interessantíssimas) declarações dos representantes de cada clube. Nada de especialmente relevante, não fora a simbólica identificação do delegado benfiquista como “acessor”.
Ora, sabendo nós que tudo o que surge na televisão é verdade (nunca erram), é legítimo pensar que o termo não surgiu em vão, não era, portanto, um vulgar assessor.
Aquele homem será alguém com direito de acesso, detendo, porventura, uma chave, um código, que lhe abra uma porta, que o introduza num espaço reservado.
O “acessor” constitui, pois, uma emergente figura neste jogo de figurantes, dir-se-ia que membro destacado de uma qualquer elite - o homem com acesso. Aceder, afinal, constitui a materialização de um desejo: a entrada que é franqueada, evitando a humilhante invectiva “acesso negado”.
Eis que o “acessor” acedeu, deslumbrado, ao acessório. Celebra o convívio tão íntimo com entidades celebradas, celestes. É já um esforçado e dedicado membro do grupo, crescente, de sedentos conquistadores do efémero, de alquimistas da ilusão.
Que a turba de “acessores” não faça cerimónias, que se apresse a apossar-se da possibilidade. Que faça do acesso a destrinça maior.
Que nos encerre, definitivamente, na jaula dos que não têm acesso.

Comentários:
Uma palavra com tantos 'esses' deve merecer outra abordagem. Pensará o escriba televisivo da palavra "aceçor". Afinal, tantos 'esses' numa só palavra, só o nome do rio e, por acaso, nunca vi escrito Micicipi.
Alguns pontapés no português, já de si cheio de mazelas.
 
Luís, São coisas próprias da CIQ ;)
Abraço.
 
Ainda estou a (so)rrir.
 
Essa não vi, mas foi bem observada.
 
Estou a dar os meus primeiros passos neste blog e já sou seu fã. Um dia, hei-de escrever assim.
 
No outro dia ouvi a jornalista dizer «quinhentas gramas» - o que induz a pensar que a senhora gosta de relva.
 
Podemos então concluir que em "televisês", porteiro=acessor.
Há por aí jornalistas que estão sempre a surpreender-nos. Como no caso do veículo, que alguns teimam em chamar "ilecóptero".
 
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