2005-12-16

 

ABISMOS

Talvez atraído pela ideia de imortalidade, talvez tomado por um súbito e luciferino impulso, o prefeito da cidade brasileira de Biritiba-Mirim, enviou à assembleia municipal um projecto exigindo: “fica proibido morrer em Biritiba-Mirim. Os munícipes deverão cuidar da saúde para não falecer”.
O dedo em riste do prefeito perfeitamente traduzido na frase imperativa, oficial, “fica proibido morrer”, porventura supondo uma perseguição pelo Além a todos os que ousarem claudicar.
Atemorizados, os populares recearam de morte a proibição. Aquela não era uma simples interdição, apenas as mãos poderosas, divinas, de alguém íntimo do Criador poderia ousar apossar-se da faculdade de proibir oficialmente a morte em Biritiba-Mirim.
Roberto Pereira da Silva, assim se chama o ousado prefeito, não resistiu à tentação, sucumbindo à maleita comum: transformou-se no ilusionista da sua própria ilusão, julgando-se elevado à condição sobrenatural.
O brasileiro, na sua grotesca decisão, exemplifica o estranho abismo de insanidade que o exercício do poder encerra para espíritos mais susceptíveis. Na verdade, são inúmeros os casos de deslumbramento de responsáveis políticos, mas também de muitos outros a quem foi conferido poder sobre os seus semelhantes. Com maior ou menor gravidade, vamos assistindo a pequenos déspotas aplicando afincadamente a sua deformada visão do mundo.
Desgraçadamente, eles andam aí.

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