2005-12-05

 

DEBATE (I)

Cumpriu-se o primeiro debate para as eleições presidenciais. Tensos e espartilhados num modelo plástico, sem vida, os candidatos pareceram enquadrados por uma moldura onde não soubessem repousar as mãos.
Cavaco começou à defesa, fugindo para um imaginário espaço dos anfiteatros, cuidando dar uma aula de finanças, explicando, detalhando, números, cifras, pormenores. Parecia estar ali a espalhar sobre a mesa um estendal de atributos executivos, económicos, que julga fundamentais para o exercício do cargo presidencial.
Não conseguiu explicar o criativo conceito “cooperação estratégica” (quase parecendo uma introdução de um qualquer manual de gestão), garantindo que não quer “ficar sentado a observar” quer “aconselhar medidas” ao governo, quer, em suma, intervir.
Manuel Alegre abriu o leque, falou da pátria, de estratégia, sublinhou a importância da nação, da língua, da cultura portuguesa, lembrou que nenhum, mas nenhum, detém uma “varinha mágica”, que não há salvadores.
Cavaco manteve o registo quase pueril (disfarçando uma leitura única da realidade), entende que pode e deve promover um pacto: um pacto na justiça, um pacto para a educação. Talvez por tanta insistência, talvez por crença, Cavaco Silva abraçou, definitivamente, o messianismo, acreditando que todos “darão as mãos” – o país subitamente encontrado, feliz – apenas por que ele assim o diz ou deseja.
No final, Cavaco (mais profissional encarando de frente a câmara) falou de “crise”, Alegre de “confiança”.
Dir-se-ia que duas concepções, duas visões distintas, estiveram em confronto neste serão: a crença de Alegre na nação, a fé de Cavaco em si próprio.
Foi um debate, não um jogo, logo não houve vencidos, tão-pouco vencedores, apenas sobram mais dados para a escolha maior no dia 22 de Janeiro.

Comentários:
Parece-me que não assistimos a qualquer debate, mas a duas chochas entrevistas em paralelo.
É resultado inevitável face ao modelo, à atitude politicamente correcta dos entrevistadores e ao acordo tácito entre os candidatos em não se interromperem nem se atacarem.

Permito-me ainda comemtar a intervenção de eremita batista: claro que Cavaco parece o salazar e deve ganhar porque um número significativo de portugueses são fascistas. Anda-se na rua e vê-se logo.
 
Cooperação Estratégica, diz Cavaco.
Que sim, diz Alegre, pois o que os ume é o ódio a Soares.

O que move Alegre.

O que faz mover Alegre, não é derrotar Cavaco, pois como os seus próprios apoiantes afirmam "Cavaco vai ser Presidente da Republica” ver no Independente. O que o move, neste momento é apenas querer ficar à frente de Soares na 1ª volta.

Debate, não. Foi uma alegre e amena cavaqueira

O debate de ontem à noite, deveria ter decorrido, por comparação, como se fosse um jogo de futebol. Jogo esse, em que uma das equipas (Cavaco), partia em vantagem em golos marcados, e outra (Alegre) necessitava de marcar, para poder seguir em frente. O que eu vi, foi que a equipa que deveria estar ao ataque, remeteu-se à defesa, a outra satisfeita com o andamento do jogo, limitou-se a gerir o resultado, sem grande esforço.

Quando, finalmente, deveria ser contundente, jogando ao ataque, Alegre foi uma desilusão, pela benevolência em relação ao adversário. Parece que Alegre só sabe ser contundente para atacar aqueles com quem conviveu, durante 30 anos, e que agora por questões de táctica politica quer renegar. Afinal, alguém sabe que diferenças marcantes existem entre Alegre e Cavaco Silva? Eu não! É problema meu com toda a certeza.

Tendo em conta o espírito que parece reinar nas hostes do candidato Alegre, e como um apoiante de Alegre dizia no Independente, deste fim de semana, “Cavaco vai ser Presidente da Republica” – A direita lhe agradecerá a entrega da Presidência ao Sr. Cavaco Silva.
 
Sem dúvida que o debate foi fraco, se é que aquilo assim é debate : um formato demasiado rígido, com os candidatos a falarem com os jornalistas ou para as cãmaras, em vez de debaterem assuntos um com o outro. Neste modelo, Cavaco tenderá a sair beneficiado. Alegre ou Dr. Alegre, como agora lhe chamam(será mesmo doutorice serôdia?), foi o que mais decepcionou, por falta de verve, coisa em que o julgávamos pródigo, com um discurso pouco articulado e por demais retórico, também com a sua «estratégia», a sua «visão» e outros tantos chavões, de resto, equivalentes aos de Cavaco, que finalmente reconhece o fracasso da sua reforma educativa. Ficámos agora a saber que a de então foi pela quantidade, mas garante-nos que a nova aposta será na qualidade. Tudo isto é muito pouco inspirador. Teria sido muito preferível que tivessem surgido outras pessoas, que não tivessem estado tantos anos em órgãos de soberania, que não pudessem ser associados a tantos fracassos e a tantas decepções. Para o País, tudo isto se torna penoso. Lá iremos, de novo, escolher pelo mal menor, com a alegria de quem vai a um velório. Ressalve-se, no entanto, o tom cordato do debate, sem truques, nem golpes baixos de chicana política. Oxalá,neste aspecto, os restantes não deslustrem o quadro inicial.
 
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