2005-12-21

 

EXAGEROS

Ontem à noite Mário Soares entrou no estúdio da RTP com a firme convicção de que “esmagaria” Cavaco.
Ao longo de uma hora, Soares foi obsessivo, disparando em todas as direcções sem saber concentrar-se no fundamental.
Após ter denunciado (e muito bem) a campanha enganadora de Cavaco, lembrando-lhe que não deve prometer aquilo que não pode manifestamente cumprir; depois de ter recordado (correctamente) que Cavaco já foi julgado anteriormente pelo eleitorado quando o derrotou nas eleições presidenciais de 1995; depois de lhe ter sublinhado (com exactidão) que não existem “salvadores da pátria” e que ele (Cavaco Silva) está longe de constituir o mito que tenta(m) construir; depois de tudo isto - que era muito e justo - Mário Soares deitou tudo a perder: cego pela vontade de exibir uma capacidade de “colocar Cavaco no seu lugar”, foi agressivo e deselegante exagerando na pouco cordial forma de se dirigir ao seu adversário (ele), utilizando um estilo acintoso, concluindo com uma inaceitável insinuação acerca do que os seus “amigos da Europa” lhe contariam sobre Cavaco Silva.
No fundo, Soares mostrou-se tal como é: combativo, utilizando argumentos fortes, certeiros, mas também o Soares “ó senhor Guarda, desapareça!”, quando recorreu à arrogância (“Cavaco não tem conversa, para lá da Economia não sabe falar de mais nada”); quando exibiu a insuportável crença numa superioridade que critica no candidato da direita; quando demonstrou uma crispação que, correctamente, havia identificado como perigosa na personalidade do seu adversário.
Esteve ali o Soares das mil contradições, oferecendo de bandeja a Cavaco Silva a oportunidade de se afirmar como vitima, proporcionando a Cavaco uma inesperada ocasião para vincar a sua perigosa e inaceitável mensagem de redentor.

Comentários:
Na mouche, Luis. Isto está para lá do ganhar ou perder um debate: empata a cidadania, retira nobreza à política. Um forte abraço
 
Concordo grandemente. Soares excedeu-se em absoluto, foi alcoviteiro e exibiu uma arrogância insuportável.Cavaco não lhe soube ripostar, ficou algo amedrontado e revelou pouca agilidade argumentativa, como, de resto, já se esperaria, dada a sua notória limitação cultural.Mas, fosse ele de outra fibra intelectual, e Soares teria sido confrontado e sairia dali humilhado, porque se comportou como um grosseiro altercador, com imensa presunção, que até o levou a intitular-se Professor Universitário e a classificar o seu adversário de apenas razoável economista, como se ele tivesse alguma competência ou conhecimento específico na matéria, para estabelecer qualificações profissionais de quem quer que seja, muito menos daquele com quem discutia, que é, por acaso, Professor, natural, legítimo, e não por Honoris Causa, de Economia. Enfim, foi demasiado aviltante todo o discurso soarista, típico de quem pensa que tudo lhe é permitido na República, que o tem, erradamente, premiado ao longo dos últimos 30 anos, em completa desproporção com os seus reais merecimentos. Cavaco pecou por temor e por algum embaraço discursivo, perdendo tempo com banalidades e com justificações de políticas passadas, de que não deveria orgulhar-se. Mas entre estas duas alternativas, julgo que a opção ficou definida, no País que assistiu ao debate.
 
Caro Luis
Só para deixar um abraço de Boas-Festas
 
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