2006-01-20

 

DA REALIDADE

Ouvia-se a voz do apoiante e era como se víssemos a sua expressão de espanto. Na TSF ecoava o seu desalento, agarrado ao microfone ensaiava uma última tentativa de mobilização “Cabaco, Cabaco”, mas as gentes de São Pedro do Sul não responderam à chamada, ignoraram o candidato.
O apoiante, quase desabafando, assegurava ao repórter que poderia ter havido ali uma multidão acaso os patrões tivessem permitido uma providencial folga aos trabalhadores, ou mesmo se a mandatária distrital se tivesse empenhado um pouco mais. Desalentado, ensaiou ainda outras explicações mirabolantes para a praça incompreensivelmente vazia no dia da visita do “presidente”, como delirantemente teimava chamar ao seu candidato.
Ouvia-se a voz e sentia-se a sua consternação. O apoiante beirão, talvez acreditasse genuinamente que a simples chegada do candidato garantiria que a vila ali se reunisse num festejo efusivo.
Ouvia-se a voz e era como se lhe sentíssemos uma revolta pelas voltas revoltosas de um dia que antecipara perfeito.
Aquele homem que aceitara os entusiasmos inflamados, que abraçara as expectativas exacerbadas, conheceu o gosto amargo da decepção - o mesmo que se experimenta quando se regressa à realidade vindo da terra da ilusão.
Talvez não o saiba, mas sempre é melhor uma decepção por um dia mal passado do que a angústia desorientadora trazida pela ausência das soluções miticas e salvadoras.

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