2005-07-15

 

UM ESTILO

Os estimáveis franceses oferecem ao resto do mundo o eloquente exemplo da sua venerável decadência.
A direita gaulesa, não satisfeita com a exibição da estranha criatura que concebeu e colocou em 1995 na presidência, vai gerando o inefável senhor Sarkozy - portador da abençoada "nova vaga" – na esperança de manter na chefia da república francesa mais um dos seus discípulos.
O ministro do interior francês, entusiasta, acaricia a mão que o alimenta, oferece-lhe o espectáculo do seu despautério.
Na quarta-feira, o senhor Sarkozy participou na reunião de emergência dos ministros da Justiça e Administração Interna da União Europeia. Ali chegou procurando ansiosamente os holofotes, os microfones, buscando o momento para uma “declaração”. Demonstrando um desprezível oportunismo, eximiu-se das suas responsabilidades procurando o protagonismo à custa de afirmações propositadamente alarmistas garantindo saber que alguns dos alegados autores dos atentados de Londres já tinham sido presos em 2004, exigindo, claro, o endurecimento das medidas “preventivas” (que evidentemente não especificou).
O ministro inglês do interior, indignou-se, afirmando que a informação “é completa e totalmente falsa”. Fleumático, o senhor Charles Clarke adiantou: “Sarkozy chegou atrasado à reunião. Tive uma breve discussão com ele nos corredores. Mas não falei disso, nem no conselho, nem nalguma conversa privada” referindo ainda não ter tido oportunidade de desfazer o mal-entendido dado “que ele se foi embora a meio da reunião, talvez seja o seu estilo”.
É exactamente assim: “o seu estilo” - um estilo manhoso, demagógico, populista, manipulador, utilizando o medo como arma.
Um estilo que os franceses aparentemente apreciam, um estilo que a direita certamente preza, um estilo que o levará ao Eliseu. Um estilo que exibe à saciedade a decadência francesa. Um estilo que desgraçadamente faz escola.

Comentários:
O ser humano sempre gostou de descriminar seja pelo que for, pela cor da pele (leia-se o branco ao negro e vice-versa), pela nacionalidade, até pelas deficiências que alguns de nós são portadores. Em relação aos franceses, ingleses, espanhóis ou portugueses, penso que não é o facto da nacionalidade que os faz mais ou menos "espertos". Quanto à realidade francesa essa é bastante complicada uma vez que o número de franceses cujos ascendentes não são franceses é a maior da Europa. Esta realidade no contexto actual da "cruzada" americo-inglesa no Iraque levanta problemas internos (em França) muito complicados principalmente de gerir.
Gostaria de lembrar no entanto que no pós guerra fria foram os serviços secretos franceses que detectaram várias situações de espionagem industrial americana na Europa, que ainda hoje existe. Poder-se-á pensar que a Europa nada tem a ensinar aos americanos, nada mais errado. O Airbus recentemente lançado tem tecnologia que concorre e ultrapassa a Boieng, por exemplo.
Que a inteligence inglesa falhou é um facto, o aproveitamento político da situação poderá não ser a mais correcta, mas os Ingleses de todos foram sempre os que quiseram ficar de fora, em tudo até no Euro, já para não falar nos sistemas conservadores que ainda utilizam. Para terminar um jornal semanário esta semana publicava uma desmistificação em relação à Irlanda que eu me abstenho de comentar porque o lençol já vai longo, mas o país europeu com maior taxa de mortalidade (cancro pulmão, asma, etc)provocado pela gases tóxicos lançados para a atmosfera eram exactamente a Irlanda e Inglaterra.
Por isso apenas digo que nos bastidores há muitas cartas que são passadas sem que todos os jogadores as vejam.
Boas férias para si e respectivos comentadores, eu ainda andarei por cá mais um mês.
 
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