2005-11-01

 

SEM POLÍTICA

Tornou-se elegante, e até moderno, denegrir a Política como se uma malfeitoria, como se uma ocupação menor, ou mesmo um empecilho ao "desenvolvimento" e ao "progresso". Nesses exercícios de maledicência não se pretende criticar todos quantos são indignos das funções que exercem, não se pretende criticar todos quantos não possuem capacidades para os cargos que ocupam, pretende-se fundamentalmente denegrir a Política.
Percebe-se. No jogo de soma nula do poder, a diminuição da autoridade escrutinada, constitui uma oportunidade apetitosa.
Todavia, esta diminuição configura um caminho perigoso, sem retorno. A esse respeito, talvez valesse a pena observar atentamente este exemplo.
A Wal-Mart é a maior empresa do globo, o seu volume de negócios é superior ao PIB de muitos países da União Europeia (ver aqui). Ao decidir impedir a contratação de pessoas obesas ou com uma idade superior a 40 anos (para reduzir os custos com despesas de saúde) a empresa não faz mais do que dar sequência a outras decisões inaceitáveis, cumprindo uma mesquinha visão de curto prazo.
Mas não tenhamos ilusões, infelizmente esta forma de ver o mundo não é exclusiva da Wal-Mart. As grandes corporações cotadas na bolsa, necessitam apresentar contas trimestralmente. Os accionistas (ironicamente muitos deles fundos de pensões) exigem resultados crescentes. Perante esta pressão, perante a falta de escrúpulos, algumas empresas cedem à tentação do imediato.
Os interesses privados são, evidentemente, legítimos. Contudo, devem obedecer ao interesse colectivo. Este caso da Wal-Mart vale apenas como um pequeno exemplo do que substituiria a Política e a autoridade do Estado. Esclarecedor!

Comentários:
Temos de procurar uma forma de sustentar um Estado Social eficiente,equilibrado, com exequibilidade financeira assegurada, baseado no princípio da solidariedade. Sem ele, toda a vida social perde dignidade e o exemplo aqui referido é bem elucidativo do que pode acontecer, se tudo se submeter aos critérios de economicismo estreito. É preciso que mais gente valorize e dê prioridade à sustentabilidade do Estado de Bem-Estar Social. Se este falir, por desinteresse nosso ou por má gestão política, espera-nos uma espécie de selva, porventura democrática, no seu formalismo, mas qualquer coisa muito diferente das sociedades que conhecemos no Centro e no Norte da Europa e que nos levou a aderir à União Europeia. Pode estar em marcha um grande logro político e um fiasco social garantido, se, por desinteresse ou por indiferença, nos deixarmos convencer da inevitabilidade do fim do Estado de Bem-Estar Social europeu.
 
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