2005-03-31

 

REGRESSO À NORMALIDADE

Existe uma estranha sensação de estarmos fora, numa existência outra, quando somos tomados por urgências tamanhas, apontando com dedo acusador o calendário, o dedinho “toc-toc” sublinhando a data. As urgências, essas senhoras descaradas que nos acordam no sono, que nos gritam sem cerimónias, que nos puxam as orelhas como se fossemos gaiatos apanhados em flagrante. Não pedem, mandam. Chegam, instalam a sua tenda de caos, carregam na tecla e desligam o nosso quotidiano. Pára tudo, férias desperdiçadas, gastas, nos cuidados que estas senhoras exigentes obrigam.
A sua tirania, tal como todas, não tem a duração da eternidade. Chega sempre o dia, a hora, em que nos vingamos, concluindo a tarefa que as senhoras tão pressurosamente escudaram, cumprindo os prazos tão despóticos, aí regressamos à confortável normalidade, aos nossos dias mais amparados pelo conhecido, até ao próximo retiro obrigatório.
Faz-se a leitura apressada dos quilogramas de jornais em atraso, tenta-se recuperar o contacto com o mundo.
Na Pátria, nada de novo dir-se-á, e neste nada está tudo. Fazia-nos falta esta “normalidade” política, saber que o Governo existe não por que alardeia a sua presença em tiques novo-riquistas, mas tão-só porque Governa. Há recato, imagina-se que trabalho, aguarde-se criticamente os resultados. Fica, contudo, uma pequena nota, um sinal, um mau sinal.
Freitas esteve no Casino do Estoril, estava ali representando o Governo na cerimónia de atribuição a Durão Barroso do prémio personalidade do ano pela associação de jornalistas estrangeiros. Chegou, foi abordado pelos jornalistas, e não resistiu: assegurou que Barroso era, de facto, o português que ocupava o mais alto cargo internacional, afiançando que “estava à vontade para o dizer”. Este “à vontade” já ficava mal, mas não resistiu concluir dizendo “houve tempos em que fui eu a ocupar essa posição”. Este deslumbramento, este hábito de auto-elogio de Freitas (que já se tinha manifestado quando acusou de “inveja” aqueles que o atacaram na lamentável exibição de imbecilidades no Parlamento) parece-me o contraponto (mau) ao resguardo dos restantes membros do Governo.
Entretanto, há coisas que não mudam: o apresentador do jornal televisivo da SIC continua a garantir-nos que o país e o mundo são coisas distintas, continua com a certeza de que amanhã trará notícias do Mundo, mas também do País, logo depreendendo-se que este não pertence ao primeiro. Haja quem pegue num planisfério, e faça o papel das senhoras urgências, aponte com o dedo a organização geográfica, o dedinho “toc-toc” no desenho do mapa da nação, o dedinho “toc toc” mostrando os continentes (todos), o dedinho “toc-toc” apontando a fórmula matemática do conjunto, o dedinho descobrindo uma voz, garantindo: “vê lá se aprendes!”

2005-03-26

 

BREVE PAUSA

Os prazos são apertados, o tempo não é elástico, as obrigações muitas.
Farei uma pequena pausa, contando regressar a partir de quinta-feira (31 de Março) com textos mais regulares aqui no Abnegado.
Aproveitando um cheirinho da nossa televisão a preto e branco em tempos, felizmente, remotos: Adeus até ao meu regresso!
Desejo a todos uma Páscoa feliz.

2005-03-21

 

OS ARTISTAS

Tomado pela necessidade de cumprimento de prazos apertados (a impedir textos mais regulares aqui no Abnegado), perdido no mar de papelada em caos (aparentemente) organizado, tento retomar o fio à meada da informação caseira. Munido do sempre útil comando do televisor, lá procuro os serviços noticiosos que me levem pela mão, na visita às noticias. Retenho a apresentação do Programa de Governo no parlamento.
Lá está a bancada do PP devidamente decorada com rapaziada avulsa. Momentos únicos a fazer inveja à comunidade circense.
Portas fazendo uma perninha no parlamento enquanto não é chamado, pelo intercomunicador do mundo, para os voos planetários anunciados, com indisfarçável orgulho, pelos miúdos seguidores do líder. Haverá de chegar a senhora do departamento administrativo do mundo à sua repartição, estará pronta para a convocatória, ligará o microfone cósmico e chamará com voz fanhosa: “senhor Portas à repartição dos génios, favor entrar pela secção Burkina Faso”.
Portas ainda não sabe, não pode saber, que a diferença do fuso horário garante que a senhora (a da voz fanhosa) se encontre ainda entregue aos braços de Morfeu (a falta de tempo não permitiu confirmar se um qualquer garboso Morfeu se o outro, o pequeno deus helénico). Adiante, que esta conversa de cama pode bem despertar a atenção do senhor João das Neves e sabemos que o homem é capaz de entrar por aqui dentro, fazer um estardalhaço, acusar-nos de estarmos a promover o consolo privado de uns quantos púberes que possam achar a referência estimulante, o homem é bem capaz de nos partir a loiça, levantar a voz, gritar que “isto é uma pouca vergonha, ao que isto chegou” e aqui a coisa azeda que a falta de sono a mim provoca-me uma sensibilidade aguda aos sons mais estridentes. Façamos pois as coisas com mais vagar para não despertar demónios (os outros, senhor João das Neves, pela sua saúde não me entre pelo blogue dentro).
Portas, diziamos, ali esteve a usar da palavra e o termo aplica-se bem por que usar (mal) foi exactamente o que fez. Era pouco, o PP precisava de mais, mais grotesto, para garantir um outro momento de antena. Foi a vez de Telmo (ainda agarrado à sua correia), solta uma graçola, dizendo qualquer coisa parecida com “centro-direita” olhando o ministro dos Negócios Estrangeiros (alguém ouviu falar do complexo de Édipo?), nas suas costas uma criatura juvenil soltava uma daquelas gargalhadas próprias do mais requintado bas-fond, do mais elegante cabaré, da mais fina casa de alterne. Um regalo!
A noite não estaria completa se não tomasse a palavra um obscuro indivíduo que (compreensivelmente) avisou que tinha sido secretário de estado, repetindo o anúncio para que não restassem dúvidas. Pois o bom do Freitas (o ex-secretário de estado) achou que poderia contar uma graça. Balbuciou um chiste, recebido, em gélido silêncio, pela câmara, esperando a conclusão da piada que aparentemente já tinha sido terminada.
No final terão todos sido recebidos pelo grande líder (perdão que o homem já se demitiu e o rigor obriga a que o deixemos claro, fique então escrito: o ex-grande líder), pois lá está ele recebendo, de braços abertos, esta equipa de aprendizes de feiticeiros da galhofa, exclamando carinhosamente: “assim se vê a força do PP”.

E agora lá regresso para a companhia das variáveis independentes e dependentes dos “construtos”, da papelada que há-de resultar em qualquer coisa palpável para o conhecimento do mundo...

2005-03-16

 

CONHECIMENTO DO INFERNO (II)

Há muito que Filipe tinha deixado de contar os dias, sequer as semanas, da sua desgraçada existência. Limitava-se a conferir as condições atmosféricas, numa observação rápida e mecânica para garantir a escolha da melhor opção para a noite. Era a única rotina que tinha adquirido, imposta pelo ritmo da rua e a sua desenfreada e miserável luta. Os melhores lugares para o sono estavam ocupados pelos líderes, o que no mundo em que sobrevive, vale por dizer os mais fortes. Apesar dos muitos anos que leva de rua, nunca foi capaz de garantir um território, um espaço a que a sua imaginação pudesse chamar seu, tinha (sempre teve) uma compleição frágil, própria de quem garante a custo o minimo de subsistência, própria de quem se dedica a um jogo do gato e do rato com a fome.
Nos dias em que consegue conquistar, ou descobrir, um local menos desprotegido para descansar, garante uma presença na sopa dos pobres.
Ali estava numa solidão que o acompanhava desde o berço - como se a expressão se pudesse aplicar aqui, estranha ironia para quem nunca conheceu sequer o que será um berço.
Filipe tem a história de quem não tem história. Não conheceu a mãe que se perdeu no nevoeiro da vida, nunca lhe viu o rosto, nunca lhe soube o nome. Em boa verdade, mãe nunca teve por certo, não pode ter esse nome alguém que abandona o fruto do seu ventre no exacto momento em que vê a luz. Parecia que logo ali lhe traçavam um destino, lhe pintavam a negro as cores do livro aberto que uma vida que nasce sempre deve ser. Valeu a Filipe a D. Hermenegilda que lhe sentiu a luta pela vida. Pegou no menino abandonado e tomou-o como seu.
Foi maior a generosidade que a sua capacidade. A idade já pesava, a viuvez e a ausência de outro rendimento impunham-lhe horários prolongados na limpeza dos escritórios na grande cidade, no vai-e-vem contínuo entre a lata do bairro e os neons da urbe. Bem queria dedicar algum tempo ao petiz, faltava-lhe quem a auxiliasse, as vizinhas dos tempos que já la vão, já se foram todas elas, que a vida, aquela vida, não dava tréguas.
Filipe foi crescendo por sua conta no bairro esconso, afastado de tudo, onde a policia não entrava. Naquele submundo as regras eram claras, a sobrevivência o único objectivo.
Não conheceu a escola, a outra – a escola da infelicidade - tomava-lhe os dias, fez todas as cadeiras desse doentio espaço do conhecimento do inferno. Deu por si envolvido em pequenos delitos, que lhe garantiram a intimidade com os calabouços. Perdido, perdeu-se ainda mais, afundou-se no poço escuro, sem fundo, dos pós, das seringas, do flagelo.
Acumulou doenças várias, crónicas, que fez por esquecer. Vai conhecendo os hospitais à força dos desfalecimentos que o dominam com frequência.
Não soube da morte de D. Hermenegilda, heroica vencedora numa corrida contra o tempo, vencida pela miséria aos 63 anos - que se diriam 90.
Filipe passa pelos dias arrastando-se pela cidade, cosido às paredes, convivendo com a sua invisibilidade, dolorosamente real quando roga por uma esmola, por uma ajuda.
Olha à sua volta e é o vazio que lhe entra pelos olhos, o inferno, o seu inferno, único companheiro fiel de uma vida perdida.

2005-03-14

 

SÍNDROME “BELA ADORMECIDA”

Confesso que estranhei a contenção de Pedro Santana Lopes. Durante mais de 72 horas manteve o silêncio sem um declaração à imprensa, uma pose a convidar as câmaras, uma frase, um olhar, um desabafo. Nada. Rigorosamente nada.
Tomados pela surpresa e aliviados, os portugueses sentiram – enfim - chegada a normalidade aos dias políticos. Puro engano. Santana Lopes não consegue viver sem esta vertigem da presença no palco do grotesco. Autêntico “jungleur” ei-lo em mais um número. Provando que, pura e simplesmente, desconhece o recato, a correcção e a contenção, conseguiu transformar o seu putativo regresso à Câmara num folhetim.
Numa revisão tosca da história da “Bela adormecida” o “Pedro” reclama para si mais uns momentos de atenção. Ensaia um “tabu”, aguarda um beijo de boas vindas, anseia uma comissão de recepção.
Lá no mundo de fantasia em que vive, aproveita as horas do “suspense” em que julga ter mantido os portugueses para conversar com o pinóquio e o rato Mickey. Este último explica-lhe as razões para a derrota no congresso do PP em tempos idos: “acreditei no Expresso e na Zezinha, foi a minha desgraça, pá!”, Chega já o Tintin que ainda não compreendeu a razão para ser mais conhecido em Portugal pelo seu plural, entretanto o Ken perdido de amores com a Barbie não prestou muita atenção ao “Pedro” pelo que foi admoestado pela abelha Maia, cansada das suas inconveniências.
A festa estava bonita, muito animada, quase a fazer lembrar outras noites da capital, nisto, chega o capitão gancho (conhecido pelo seu proverbial mau feitio) que grita: Raios partam, Pedro. Sempre o mesmo frenesim, faz favor de acabar com a festa e regressar lá para a realidade, desampara-me a loja!
Cabisbaixo o “Pedro” teve apenas ocasião de arrumar o fatinho de “bela adormecida”, tendo prometido apenas que da próxima viria como grilo falante!

2005-03-09

 

A CULPA FOI DA POLÍTICA

O dia tinha começado mal. Ainda a manhã ia a meio e já Rui registava, na sua contabilidade pessoal de desgraças, diversas contrariedades, próprias de quem se encontra em luta desigual com as forças do destino e outras entidades cósmicas. Logo hoje, caramba, o dia em que teria de apresentar o seu projecto ao Conselho de Administraçáo da empresa.
A culpa do seu deplorável estado era da política, disso não tinha a mais pequena dúvida.
Bem vistas as coisas a quem mais poderia ser assacada a responsabilidade? Enquanto conduzia, num esforço titânico de convivência com as mazelas, recordava a manhã aziaga.
O despertador encarregou-se de abrir as hostilidades. Habituado a acordar lentamente ao som agradável da música, Rui foi arrancado do seu sono profundo pela buzina estridente do rádio/despertador batendo-se de igual para igual com a sirene de um qualquer carro dos bombeiros ali mesmo à cabeceira da cama. O susto foi tal que a sua desorientação o levou ao chão procurando, em vão, no escuro, o redentor botão do silêncio. O coração ainda em pulos desenfreados marcava um ritmo de batimentos muito para lá do recomendável. Procurava já o duche retemperador, quando ligou a telefonia, para garantir a companhia das noticias. A voz timbrada e bem colocada do locutor garantia-lhe que Pedro Santana Lopes estava a juntar os seus haveres em caixinhas de cartão para rumar à praça do municipio de Lisboa. Tomado pela surpresa e ainda não refeito do abrupto despertar, a mão ciosa encaminhou-se para a torneira da água fria, garantindo-lhe uma chuveirada sibérica capaz de acordar o mais desgraçado dos ursos em hibernação, o grito que lançou terá garantido que o prédio e todo o quarteirão tomasse nota da sua presença no mundo.
Parecia já restabelecido quando decidiu acompanhar a noticia da visita a Portugal de Kofi Annan. Rui estava perdido, tentando perceber o enredo da novela. Pois seria Vitorino a primeira escolha ou Guterres? Havia ainda a hipótese de Monteiro. A coisa ganhava contornos capazes de fazer parar o mundo - suspenso da decisão dos lusitanos - justificando a visita do senhor das Nações Unidas, apressando uma decisão, implorando um sim, regateando uma atenção. O DN e o Público garantiam que sim, que o homem viria, pela fresquinha, a Portugal. O Ministério dos Negócios Estrangeiros não sabia. A ONU confirmava a existência de um senhor com o nome de Kofi Annan, constava que Secretário Geral, agora a sua deslocação à Europa é que não. Gaita! terá gritado Rui elegantemente, ao sentir um arrepio, não já de frio, não já de vergonha pelo que ouvia, mas de dôr - uma dôr fisica. Hoje já sabe, dolorosamente, que prestar demasiada atenção a estórias rocambolescas com uma lâmina na mão, é uma mistura explosiva. Soubesse-o umas horas antes e ter-se-ia livrado do sulco triplo que a gilette mach 3 tinha deixado no seu rosto.
Era já um homem com evidentes mazelas aquele que assomava à cozinha na esperança do pequeno-almoço. Ligada a televisão, nem se apercebeu das notícias até fixar a sua atenção nas palavras do novo ministro das Finanças. O senhor garantia que os impostos estavam aqui estavam a aumentar, olarila! Por momentos, Rui perdeu-se em cálculos de datas. Quando chegou à conclusão que não era possivel que a voz que ouviu fosse a do titular da pasta das Finanças (consta que só tomará posse no dia 12) já a mão tinha acompanhado perigosamente o pão para dentro da torradeira em contacto directo com o seu incandescente interior. Mais um grito, mais vernáculo, não necessáriamente pela oportunidade das palavras do neófito e indigitado Ministro, mas pelos dois dedos que exibiam uma coloração arrepiantemente rubra.
Tinha já esgotado a sua extensa lista de palavras do calão, quando finalmente conseguiu sair de casa razoavelmente atrasado, exibindo dois belos pensos rápidos na mão direita, um lanho de dimensão estimável na face, uma gravata com uma nódoa antiga que não descobriu (mas que concentrará a atenção da Administração quando daqui a pouco iniciar a sua apresentação).
Vai já ao volante, tentando recuperar o tempo. Ainda não sabe, mas vai sentado sobre os restos duma torrada com doce que o seu filho mais novo tinha abandonado no assento do carro no dia anterior. O efeito que deixará nas suas calças creme só o conhecerá quando um colega mais caridoso lhe explicar, no final do dia, que a razão para a súbita hilaridade lá no escritório não era a última crónica do Luís Delgado ou do Raúl Vaz, mas a bela nódoa em forma de borboleta vermelha nos fundos das suas calças...

2005-03-06

 

NOVO GOVERNO (II)

Guilherme Silva foi destacado para comentar o novo Governo em nome do PSD. Não desiludiu quem esperava um momento de humor (ainda que involuntário). Persistindo no seu registo patético, não se apercebeu que o guião escrito para a sua leitura estava desactualizado. Ali esteve fazendo o pleno nos canais televisivos repetindo à exaustão que este Governo tem um défice de figuras gradas do PS. Para Silva - homem iluminado - a prova da veracidade desta opinião reside na ausência de nomes como Jorge Coelho, Jaime Gama e ... António José Seguro!
Entretanto, a crónica de hoje de Vasco Púlido Valente constituiu uma das mais decepcionantes que tem escrito. Analisando o novo Executivo, VPV entendeu que o “novo Governo é velho” simplesmente por que “quase toda a gente tem mais, ou muito mais de 50 anos”. Não sei francamente, o que terá passado pela cabeça de VPV para escrever esta tonteria. Em todo o caso, sempre se pode dizer que a maturidade e experiência não podem, jamais, ser identificadas como negativas, veja-se a propósito a garotice acéfala promovida pelo PP. Os miúdos ficaram muito ofendidos com Freitas do Amaral, tão revoltados, tão fulos, tão irados, que não resistiram à manifestação da sua verdadeira face. Embrulharam a fotografia de Freitas, colocada na sua sede e remeteram-na para o Largo do Rato. Não contentes com a imbecilidade, ainda enviaram uma criatura às televisões para explicar(!) a acção.
Quando um partido desconhece a tolerância, quando tem uma noção da democracia muito própria, quando não conhece o valor da diferença de opiniões, quando é tomado por garotada, não admira que aconteçam coisas destas.

2005-03-04

 

NOVO GOVERNO (I) - actualizado

Por uma vez cumpriram-se as formalidades: o Presidente da República foi o primeiro a conhecer o Governo. Um primeiro sinal positivo de controlo e das coisas no seu devido lugar. O novo executivo permite todas as esperanças: equilibrado, sem reflexos de "aparelhismo", percebe-se ser O governo de Sócrates.
Observando a composição do novo executivo, algumas outras observações:

Certezas:
António Costa
Freitas do Amaral
Campos Cunha
Correia de Campos
José Mariano Gago
Augusto Santos Silva

Dúvidas:
Vieira da Silva
Manuel Pinho
Pedro Silva Pereira
Luís Amado

Sérias dúvidas:
Alberto Costa
Jorge Lacão

Desconhecimento (meu):
Jaime Silva
Mário Lino *
Maria de Lurdes Rodrigues
Isabel Pires de Lima
Francisco Nunes Correia

Notas soltas:
-As pastas voltaram a ter denominações simples.
-Independentes ocupam ministérios-chave.
-Anulam-se as pastas “exóticas”.

*Acabo de saber que Mário Lino é um distinto membro da blogosfera: colabora(va) no
Puxa Palavra, para além de manter o seu próprio blogue Alforge

 
UMA SAUDAÇÃO a Júlio Machado Vaz pela sua entrada na blogosfera, excelente oportunidade para lêr os seus textos.
 

JOGOS DE SOMBRAS

Numa semana política marcada pelas esperas e incertezas, um nome ganhou destaque: António Vitorino. A desusada atenção que lhe foi devotada não é, obviamente, inocente.
A criação de uma novela em torno do seu futuro político (vai, não vai para o governo) pretende fazer passar a ideia de que um executivo sem a sua presença estará diminuido, por outro lado, tenta-se desvalorizar Sócrates.
Esta quinta-feira a revista Visão entendeu traçar um “perfil” de António Vitorino, não é preciso muito esforço para ler as entrelinhas (não é sequer um texto “sofisticado”). Ali se repete à exaustão as habilitações académicas de Vitorino. Por lá se deixa a ideia de que será um bom nome para Presidente da República, explica-se que poderá constituir uma excelente escolha para tudo, menos para ... ministro!
É, evidentemente, uma estratégia primária.
Vitorino é um homem com valor, a sua presença no governo será uma mais-valia, mas não mais do que isso. Mal estaria o País, mal estaria o Partido Socialista, se tudo girasse em torno de um só homem.
Anda muita inquietação no ar. Percebe-se um certo espirito de orfandade por parte de muitos jornais habituados a constituirem-se eles próprios como centro da acção política. Quem leia a imprensa desta semana percebe perfeitamente que ninguém faz a mais pequena ideia de quem serão os próximos ministros, qual sua estrutura do próximo governo. São, por esse motivo, demasiado óbvios estes jogos de sombras.

Uma observação em torno do “perfil” de Vitorino que a Revista Visão publica hoje: O texto é de uma pobreza franciscana, o português sofre ali tratos de polé, atente-se neste parágrafo: “Eu sou um homem pequeno e dou pequenos passos em frente’ Assim se afirma António Manuel de Carvalho Ferreira Vitorino, 48 anos, lisboeta, filho de uma professora de francês e de um bancário, casado com uma médica, três filhos, irmão de um professor de Matemática Aplicada, a uma das mais prestigiadas revistas internacionais, a Economist” (sic) p.34. Leio este parágrafo e não consigo deixar de me recordar de uma entrevista dada por José Craveirinha ao Público aqui há alguns anos quando, a dado passo, referiu: “a lingua portuguesa é um milagre”! Assim é.

2005-03-03

 
BONFIM: Há algo que partilho com Carlos Manuel Castro e o Luís Silva: sofremos (o termo é mesmo este) pelo mesmo clube: o Vitória de Setúbal. É no Bonfim que iremos falar deste nosso grande clube, no meu caso pouco direi que o futebol não é, definitivamente, a matéria a que dedique muito tempo, mas há essa coisa emocional e dificilmente compreensivel que é ter um clube, gostar dele, torcer por ele e não saber, nem perceber, nada de futebol.
O ser humano tem coisas extraordinárias.

OBRIGADO: pelas palavras gentis do Puxapalavra e do Data Venia.

2005-03-02

 

A INTUIÇÃO FEMININA

"Estive num Governo que tinha maioria, mas por intuição sempre tive noção que podia ser interrompido, o que é preocupante"
Graça Carvalho, Diário Económico, 1-3-2005

 

A BLOGOS NA ESTRATOSFERA

A Coluna semanal de Lucy Kellaway no Financial Times constitui uma das mais interessantes leituras sobre a vida nas empresas. Esta segunda-feira trouxe-nos o relato da nova tendência ao nível da alta direcção das maiores empresas mundiais. Aparentemente, os CEO e administradores compreenderam que ninguém presta muita atenção aos memos, relatórios e informação diversa que distribuem a um ritmo frenético. Pois bem, em algumas destas empresas o novo sucesso são os blogues. Nem mais.
Vale bem a pena dar uma vista de olhos nos blogues de Randy Baseler – vice-presidente da Boeing, de Rich Marcello – vice-presidente da Hewlett-Packard e de Richard Edelman – CEO da Edelman PR (este último com direito a comentários!).
Talvez os homens do “Compromisso Portugal” queiram aderir à nova moda, seria excelente para que pudessemos compreender melhor o alcance das suas ideias e pensamentos profundos...

 

O PSD EM BANHO-MARIA

Os sociais-democratas estão em reflexão. Num primeiro momento, a candidatura de Marques Mendes surgiu como um instante de sol depois da noite em que o partido esteve mergulhado nestes últimos sete meses. Muitos, entretidos em cálculos de outro alcance, entenderam que a liderança que sair do próximo congresso teria poucas hipóteses de longevidade pelo que esta candidatura faria algum sentido.
Uma análise mais fria permitirá, julgo, outra leitura.
Não há razão nenhuma para que a próxima direcção do PSD tenha uma curta existência: as expectativas são poucas ou nenhumas, o calendário eleitoral é favorável. Por outro lado, as mudanças que o partido requer são imensas e exigem tempo.
Não admira por isso que alguns estejam a projectar a candidatura de Manuela Ferreira Leite. Esta candidatura tem mais vantagens do que poderá parecer à primeira vista. Trata-se de uma tentativa de regressar a Julho de 2004 repondo o que muitos defenderam então como melhor opção após a saida de Durão. Afastará os Barrosistas do centro do poder. Por outro lado, tendo sido muito critica de Santana e por ele perseguida, Ferreira Leite poderá surgir como representando o “verdadeiro PSD”, refutando a “história” dos últimos meses. A sua imagem de competência, seriedade e serenidade surgirá como um bálsamo após o frenesim. Até mesmo a alcunha que ganhou de “Cavaco de saias” poderá ser vantajosa por estes dias.
Veremos como se posicionam as diferentes facções, neste jogo de sombras que caracteriza o período antes de qualquer congresso, sobretudo neste em que se contabilizam “baixas”, “feridos” e apenas umas quantas migalhas para distribuir.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?